De rosa a verde em segundos: por que e como os camaleões mudam de cor?

Com a famosa capacidade de mudar de cor, os camaleões são um dos animas mais interessantes da natureza. Conheça algumas curiosidades sobre o mecanismo, em quais situações o réptil se adapta e como funciona o processo em que a exótica mudança na coloração acontece.
Como funciona a mudança de cor?
Os camaleões conseguem alterar sua coloração devido a células que estão presentes na pele. Essas células, cuja função é bastante especializada, são chamadas de cromatóforos. No organismo do animal, os cromatóforos se apresentam ao menos em quatro tipos e também de forma combinada. Com isso, o camaleão consegue mudanças impressionantes e rápidas, que dependem da dispersão ou da agregação de diferentes cromatóforos.
Dentro do grupo dos cromatóforos, há diferenças responsáveis pelos pigmentos na pele do animal. Segundo Carlos A. Navas, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo), os melanóforos são responsáveis por pigmentos escuros, como o preto; os xantóforos por tons como o amarelo; e os eritróforos pelo vermelho.
Os iridóforos, por sua vez, são como cristais que refletem a luz, podendo gerar pigmentos brancos e azuis, por exemplo. "Os camaleões podem 'relaxar ou contrair a pele' mudando rapidamente a densidade de iridóforos" explica Navas. Segundo o estudo "Cristais fotônicos causam mudança ativa de cor em camaleões", publicado em 2015 na revista científica Nature Communications, o camaleão tem duas camadas deste tipo de células em sua pele. No estudo, os pesquisadores indicam que o relaxamento leva o camaleão a apresentar uma coloração azul, por exemplo.

A alteração na coloração acontece de forma espontânea. "Não parece que os camaleões precisem 'pensar' na mudança de cor. Isso porque existe controle nervoso e hormonal destas mudanças. São muitos mecanismos sobrepostos, alguns dependendo de respostas reflexo e outros do sistema nervoso central", explica o professor.
Qual é a função da mudança na coloração?
A alteração de cor acontece em diferentes cenários. De acordo com Navas, a técnica tem relação com a comunicação entre os animais, o controle da temperatura do corpo e a camuflagem —sendo que este último é geralmente o mais conhecido pela população.
Ao longo da evolução, os camaleões se adaptaram aos níveis de luz solar nos ambientes em que vivem. A alteração de cor, neste sentido, atua para controlar a quantidade luz absorvida pelo organismo do animal, sendo que tons mais escuros tendem a absorver mais o calor e seriam úteis em ambientes mais frios, por exemplo. Cores que refletem mais a luz, por outro lado, evitariam que o camaleão ficasse superaquecido. Segundo o estudo publicado na Nature Communications, foi observada uma redução de 45% na absorção de luz solar causada pelos iridóforos ativos na pele do espécime estudado.
Segundo Navas, os machos apresentam uma capacidade mais desenvolvida no que diz respeito à alteração de cor. A maior desenvoltura dos machos pode indicar que algumas espécies utilizam a técnica como um comportamento exibicionista em eventuais disputas por território ou na busca por parceiras para reprodução.
As alterações na cor são totalmente reversíveis, ou seja, o animal volta à cor original após o respectivo estímulo. De acordo com Navas, apesar de haver cores dominantes em certas espécies, não há um padrão no qual todos os animais se enquadrem.
A mudança na cor acontece de maneira rápida, podendo levar apenas alguns segundos. Abaixo, veja um camaleão alternando suas cores várias vezes em um curto período:
Por se tratar de um grupo muito diverso, existem diferenças neste mecanismo entre os próprios camaleões. Segundo Navas, nem todas as espécies apresentam a característica na mesma magnitude. "Algumas são capazes de mudanças extraordinárias, mas outras não parecem mudar muito [de cor]", explica.
O camaleão não é o único animal capaz de mudar de cor. Segundo Navas, polvos e outros moluscos marinhos também têm essa habilidade. "Alguns lagartos que não são camaleões, como certos [lagartos do gênero] Anolis, também mudam de cor, assim como algumas pererecas", explica. O peixe conhecido como linguado-pavão (Bothus mancus) pode mudar rapidamente de cor, se camuflando de acordo com o ambiente. Veja abaixo:
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