Misteriosa lula-colossal 'de vidro' é filmada pela 1ª vez em seu habitat

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A lula-colossal, um dos animais mais misteriosos da Terra, foi registrada pela primeira vez em seu habitat natural: o fundo do oceano.
O que aconteceu
Esta lula, a maior que existe, foi identificada pela primeira vez há um século. Em 1925, o biólogo marinho James Erik Hamilton encontrou restos mortais da Mesonychoteuthis hamiltoni no estômago de uma baleia cachalote próximo às Ilhas Shetland, na Escócia. Os pedaços foram enviados para o Museu Britânico, em Londres, onde foi registrada a nova espécie.
Um navio de pesquisa localizou o animal em seu ambiente natural em 9 de março. O Falkor explorava as águas frias próximas às Ilhas Sandwich do Sul, um território reivindicado pela Argentina e pelo Reino Unido entre a América do Sul e a Antártida, quando a equipe de estudiosos do Schmidt Ocean Institute (EUA) decidiu enviar um submersível operado remotamente para explorar uma profundidade de 600 metros.
Câmeras do submersível capturaram o encontro acidental com um "jovem". Esta lula-colossal tinha 30 centímetros, mas biólogos estimam que um adulto possa chegar a sete metros de comprimento e pesar por volta de meia tonelada, segundo a revista National Geographic.
A análise das imagens por um grupo de especialistas confirmou que se trata mesmo da espécie. No entanto, traços de seu desenvolvimento físico apontaram para uma evolução ainda incompleta —ou seja, o animal ainda não chegou à vida adulta.
Este não é o animal gigante que esperaríamos que a lula-colossal seja. Não é um bebê também. Podemos pensar nela como uma lula adolescente, talvez. Aaron Evans, cientista especialista em lulas-colossais, à National Geographic
A lula-colossal também é conhecida como "lula de vidro" entre os biólogos. Isso porque ela pertence à família dos cranquídeos, um grupo de cerca de 60 espécies de lulas aparentemente translúcidas ou vítreas.
Sua aparência as ajuda a evitar predadores nas profundezas escuras do mar. Elas conseguem realizar esta camuflagem graças a "sacos" de pigmentos chamados cromatóforos —que elas mantêm frequentemente fechados na presença de ameaças. Quaisquer outras partes que ainda não ficaram "invisíveis" e parecem opacas são disfarçadas por órgãos luminosos, os fotóforos. Eles brilham no escuro, em proporção à luz presente.

Todo o conhecimento sobre a espécie, até hoje, era baseado apenas nos restos em estômagos de baleias ou em espécimes mortos "pegos" acidentalmente por pescadores. Em 1981, pescadores soviéticos pegaram acidentalmente uma lula-colossal de 5,2 metros em suas redes. Ela morreu rapidamente. Em 2003, um espécime morto de 6,1 metros foi achado boiando na costa da Nova Zelândia.
Jamais a lula-colossal havia sido observada ainda em vida. Em 2005 e 2007, elas foram filmadas brevemente após serem capturadas novamente por pescadores nas águas do Atlântico Sul, onde se acredita que vivam. Mas, em ambos os casos, elas não viveram muito para dar pistas sobre seu meio de vida. A partir deste avanço, teorias sobre seu comportamento poderão ser testadas.
A lula de 2007 parecia ser totalmente adulta, o que não era o caso dos achados anteriores. Ela também era a maior: tinha 9,1 metros. "Sabemos que é o mais pesado invertebrado do planeta", comentou à National Geographic a expert em lulas Kat Bolstad, da Universidade de Tecnologia de Auckland, na Nova Zelândia. Tanto ela quanto Aaron Evans participaram da identificação da espécie, confirmou o Schmidt Ocean Institute.

O motivo para os encontros mais frequentes com as lulas mais jovens, segundo cientistas, estaria justamente na idade delas. Biólogos acreditam que as lulas-colossais mais jovens costumam nadar em superfícies menos profundas. À medida que envelhecem, elas desceriam para zonas abissais, onde se beneficiariam de ter os maiores olhos do nosso planeta para caçar e sobreviver.
As lulas-colossais se alimentariam de grandes peixes subantárticos, como merluza-negra, e outras lulas. Com oito tentáculos, elas conseguem se movimentar e realizar a "pescaria". Mas elas acabam sendo comidas, especialmente quando jovens, por elefantes-marinhos, pinguins, outros peixes e baleias.
A equipe do Falkor já havia feito outra descoberta da mesma família em janeiro. Em outra missão, eles encontraram a Galiteuthis glacialis, outra espécie de lula vítrea que nunca havia sido documentada em seu habitat, a quase 686 metros de profundidade no fundo do mar da Península Antártica.
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