Invasor em SP, pirarucu viveu com dinossauros e virou lenda para indígenas

O pirarucu tem aparecido em rios e criadouros da Bahia e São Paulo, além de Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por estar fora de seu bioma, pode ameaçar o equilíbrio ecológico e peixes nativos dessas regiões.

Da época dos dinossauros

O pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do mundo. O animal pode atingir até 3 metros de comprimento e pesar mais de 200 kg.

É nativo da bacia amazônica. O peixe, que vive pelos rios Amazonas, Xingu, Solimões, Madeira e Negro, é conhecido por sua carne saborosa e suas escamas resistentes que são usadas em artesanato.

Gigante da amazônia já estava no planeta antes do primeiro ser humano. A informação é do site da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que diz que o pirarucu dividia a convivência com dinossauros. Há registros de fósseis que datam mais de 100 milhões de anos.

Lendas amazônicas atribuem a origem do pirarucu a um indígena perverso. A história conta que ele foi castigado por Tupã e transformado no peixe de cauda avermelhada que vive nas profundezas das águas.

Possui a capacidade de respirar ar atmosférico. De acordo com João Campos-Silva, presidente do Instituto Juruá e pesquisador associado do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), isso permite sua sobrevivência em ambientes com baixos níveis de oxigênio.

Sua pesca é regulamentada para evitar a extinção. A captura permitida é de no máximo 30% dos peixes adultos do total contabilizado nos lagos naturais onde os pescadores atuam, sendo somente permitida em áreas de manejo e com autorização do IBAMA.

Preço do quilo do pirarucu pode variar de R$ 30 a R$ 300. Valores dependem do tipo de corte, qualidade e apresentação.

Fora de seu habitat

Presença crescente em novos estados. O pirarucu tem sido encontrado fora da Amazônia em estados como Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

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Foi solto em represas e rios pelos cinco estados fora da amazônia. Além de criadouros comerciais, há registros do peixe em represas e trechos de rios do interior paulista, como o Rio Grande, que banha cidades como Fronteira (SP) e Frutal (MG).

Há suspeitas de possível soltura proposital. Autoridades ambientais suspeitam que alguns peixes da espécie possam ter sido soltos propositalmente por pescadores ou criadores, uma prática considerada ilegal e que agrava o risco ecológico.

Impacto ecológico ainda incerto

Peixe 'fora de casa" pode ser um risco ecológico, mas ainda não há registros de desequilíbrio. Lidiane Franceschini, doutora em zoologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), alertou que, sem predadores naturais do pirarucu fora de seu habitat natural, o animal pode impactar a população nativa de peixes.

Na ausência de predadores naturais ou espécies concorrentes, o pirarucu pode causar a extinção local de espécies de peixes e invertebrados e competir por recursos ambientais com outras espécies. A presença dele pode causar a diminuição de espécies importantes para a pesca regional
Lidiane Franceschini, doutora em zoologia pela Unesp, ao Estadão

Espécie é considerada exótica no estado de São Paulo. "Uma vez capturados, os peixes não devem ser devolvidos ao ambiente natural", disse a Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo) ao Estadão, que recomenda o envio do pescado para cativeiros autorizados e instituições de pesquisa.

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Pesca foi permitida no Mato Grosso. Em 2024, a Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) deu aval à pesca do pirarucu nos rios Teles Pires e o Juruena, onde este peixe é considerado exótico.

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