11 de Setembro

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Ex-assessor de Schröder sobre 11/9: "Achávamos que os EUA reagiriam com exagero"

René Pfister e Gordon Repinski

  • Maurizio Gambarini/EFE

    O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder participa de conferência em Berlim, em março de 2014

    O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder participa de conferência em Berlim, em março de 2014

Michael Steiner, 65, teve uma longa carreira diplomática, apesar de muitos lembrarem dele principalmente pelo escândalo que lhe custou o cargo de conselheiro de política externa do chanceler Gerhard Schröder. Ao voltar para casa de uma viagem à China, seu avião ficou retido em Moscou e ele discutiu com um oficial militar alemão, no final chamando o oficial de "babaca", segundo relatos do incidente na mídia. Ele também exigiu caviar –-como piada, insiste Steiner até hoje. Todavia, ele acabou removido de seu cargo graças à imprensa de tabloide pouco tempo depois. Mesmo assim, ele pode olhar para trás para uma longa carreira como diplomata alemão. Ele estava ao lado de Schröder em 11 de setembro de 2001, serviu como representante especial da Alemanha para o Afeganistão e Paquistão, foi chefe da missão das Nações Unidas em Kosovo e, no início de sua carreira, foi adido de imprensa da embaixada alemã em Praga, no final de 1989, enquanto o bloco comunista estava ruindo. Outros postos incluem um período prolongado como vice-alto representante em Sarajevo, Bósnia-Herzegóvina. A "Spiegel" falou com ele sobre sua longa carreira diplomática. A seguir, estão trechos da entrevista. Spiegel: O "caviar-gate" não foi a única vez em que o senhor esteve nas manchetes devido a um comentário irrefletido ou uma abordagem heterodoxa à diplomacia. Olhando para trás, um pouco mais de moderação lhe teria sido apropriado? Steiner: Durante meu tempo na Bósnia, nos anos 1990, eu trabalhei estreitamente e de forma bem-sucedida com Richard Holbrooke, que foi o emissário especial do presidente Bill Clinton para os Bálcãs. Ele era um diplomata, mas era uma das pessoas mais diretas que conheci. Na época, ele realizou uma rodada de negociações com o presidente sérvio, Slobodan Milosevic em um museu da Força Aérea, onde um míssil de cruzeiro estava em exposição, apenas para deixar claro para Milosevic o que estaria reservado para ele caso se recusasse a recuar. Nunca fui fã da diplomacia talleyrandiana, que oculta seus verdadeiros motivos e dissemina uma aura de sigilo. Não acho que funcione. Spiegel: Os ataques nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 ocorreram durante seu período como conselheiro de política externa do chanceler Gerhard Schröder. O senhor se recorda daquele dia? Steiner: é claro, como quase todo mundo, provavelmente. Schröder iria realizar um discurso naquele dia no Conselho Alemão de Relações Exteriores, em Berlim. Meu pessoal tinha preparado um belo texto para ele, mas quando estava prestes a seguir para lá, ele –-como todos nós-– não conseguia deixar de acompanhar as imagens pela TV das Torres Gêmeas em chamas. Schröder disse: "Michael, vá até lá e explique às pessoas porque não posso ir hoje". Spiegel: Como foi nos dias que se seguiram aos ataques? Steiner: Condoleezza Rice era a conselheira de segurança de George W. Bush na época. Eu tinha um bom relacionamento com ela. Mas depois do 11 de Setembro, todo o governo se entrincheirou. Nós não tínhamos mais acesso a Rice, muito menos ao presidente. Não foi apenas a nossa experiência, mas também a dos franceses e britânicos. é claro que isso nos deixou enormemente preocupados. Spiegel: Por quê? Steiner: Porque achávamos que os americanos reagiriam de forma exagerada em resposta ao choque inicial. Para os Estados Unidos, foi uma experiência chocante serem atacados em seu próprio solo. Spiegel: O que o senhor quer dizer com reação de forma exagerada? Vocês temiam que Bush atacaria o Afeganistão com armas nucleares? Steiner: Os americanos disseram na ocasião que todas as opções estavam na mesa. Quando visitei Condoleezza Rice na Casa Branca poucos dias depois, eu percebi que não se tratava apenas de uma figura de linguagem.

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