A quatro dias da eleição, com um empate tão bem desenhado em São Paulo, está difícil cravar quem corre o risco de ficar fora do segundo turno. A única certeza até o momento é que, matematicamente, Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) têm chances similares de passarem pelo crivo do eleitor no dia 6. Nos principais institutos de pesquisas, todos permanecem empatados tecnicamente. A pesquisa Big Data de hoje, por exemplo, mostra Guilherme Boulos com 21%, seguido por Marçal, com 20%, e Nunes, com 19%. Já a Quaest, divulgada nesta segunda, mostrou Nunes com 24%, Boulos com 23% e Marçal com 21%. Trackings internos de campanha também estariam mostrando esse resultado. Houve uma oscilação positiva de Marçal, dentro da margem de erro da semana passada, e uma leve queda de Nunes, também dentro da margem, o que levou analistas experientes a projetarem Boulos no páreo para enfrentar, a priori, Marçal. É um cenário possível inclusive em campanhas adversárias ao psolista. Mas quatro dias é tempo demais para uma maratona como a eleição deste ano. É como ver a foto dos corredores quase lado a lado perto da linha de chegada, até que um deles dispara nos últimos segundos. Dois fatores decisivos estão em jogo: o debate da rede Globo na noite desta quinta-feira e os 33% de eleitores que deixaram para decidir seu voto no final de semana, segundo o último levantamento da Quaest. As pesquisas eleitorais não captam qual vai ser o sentimento que vai preponderar entre esse eleitor na hora agá. Se vai ser um voto estudado, se está à espera do desempenho dos candidatos durante o último debate, ou se vai ser um voto irritado, de quem acredita que "todo político é igual" e acaba votando em alguém com um perfil como o de Marçal, por exemplo, que se coloca como antissistema. Ao olhar para o retrovisor, há uma memória de outros candidatos que se colocaram nessa posição e foram beneficiados no passado. Até mesmo João Doria, em 2016, com seu mote "não sou político, sou gestor", viu uma alta inesperada no final que o levou a vencer a vaga de prefeito no primeiro turno. Se Marçal vier a se beneficiar desse sentimento, é certo que Nunes cai, pois ambos disputam o mesmo eleitorado. E o entorno do prefeito dá sinais de que existe essa preocupação. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) estaria insistindo para que o ex-presidente Jair Bolsonaro grave um vídeo de apoio a Nunes, como noticiou a jornalista Monica Bergamo. Em live na noite desta terça, Bolsonaro sequer mencionou o nome do prefeito paulistano. Ele abriu o vídeo com seus seguidores para defender a candidatura de Alexandre Ramagem (PL) no Rio de Janeiro, que tem 20% das preferências do eleitorado, contra 53% de Eduardo Paes (PSD). Nunes ainda teria a desvantagem de ter um eleitor menos engajado, como mostrou o Datafolha da semana passada, quando ele contava com 27% das intenções de voto. Somente 16% estavam seguros de que votarão nele no dia 6. Diferentemente de Boulos, que tem 37% de eleitores convictos, e de Marçal, com 27%. Mas o prefeito tem dois trunfos que o diferenciam de seus opositores: rejeição menor —38%, contra 52% de Marçal e 49% de Boulos, segundo a Quaest — e as centenas de candidatos a vereador da sua base que fazem as vezes de cabo eleitoral nesta retal final. Há um sentimento de amor e ódio ao ex-coach. Seus eleitores podem ser os mais barulhentos em suas manifestações. Mas seus detratores também. É fácil ouvir nas ruas da cidade as pessoas tecendo comentários negativos a ele, diante de suas investidas agressivas, como a frase "mulher não vota em mulher porque mulher é inteligente", no debate UOL/Folha de S. Paulo desta segunda. Camaleônico, tratou de anunciar um secretariado de mulheres no dia seguinte. Mas a rejeição feminina já está lá, consolidada. A esta altura, é certo que o candidato já estuda ajustes na sua oratória para o debate da rede Globo. E quem entende do riscado garante que a repercussão vai ficar mesmo nas redes sociais. Portanto, é fácil deduzir que Marçal vai entrar no jogo do tudo ou nada contra seus adversários, especialmente Ricardo Nunes. É ele quem roubaria seus votos, e para sua candidatura, o mais conveniente seria encarar Boulos no segundo turno. O candidato do PSOL tem a seu favor um voto consolidado, sem oscilações desde o início da campanha. Nesta reta final, ganhou o apoio de artistas e intelectuais, e até de uma eleitora de peso de Tabata Amaral (PSB). Beatriz Bracher, terceira maior doadora da campanha de Tabata Amaral, assinou o manifesto recém-divulgado em defesa do voto útil em Boulos. Fortes emoções no caminho. Boa eleição! |