O destaque da semana na newsletter A Companhia é a Embraer, escolhida por Wellington Lourenço, analista da Ágora Investimentos.

Ele lembra que o setor aéreo foi duramente punido na pandemia por conta das restrições de mobilidade. Agora, apesar de as viagens turísticas e de negócios estarem aumentando, ainda há espaço para recuperação.

Outro marco importante para as companhias aéreas foram os primeiros meses da guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. A notícia fez disparar o preço do petróleo e encareceu o querosene de aviação, combustível derivado da commodity, pressionando ainda mais os custos dessas empresas, principais clientes da Embraer.

"Embora pouco utilizada na aviação comercial do país, as aeronaves da Embraer representam o Brasil no mercado mundial desse tipo de jato", observa o analista.

No terceiro trimestre de 2022, a companhia conseguiu reduzir em 31,5% seu prejuízo líquido, em comparação com igual período do ano anterior, para R$ 160,4 milhões.

Recentemente, a empresa comunicou a entrega de 159 jatos (57 comerciais e 102 executivos) no acumulado de 2022, com alta de 12,7% frente ao ano anterior. A divulgação do balanço financeiro no período está prevista para 10 de março.

"Segundo nossas estimativas, o quarto trimestre de 2022 deve encerrar um período de prejuízos, após uma sequência de trimestres negativos, motivados principalmente por eventos não previsíveis (pandemia, guerra, escassez de componentes etc)", diz Lourenço. "Entretanto, para o consolidado anual, só vemos resultado final positivo a partir de 2023."

Neste ano, até 23 de fevereiro, as ações da Embraer (EMBR3) registram alta de 12%, segundo informações do TradeMap, hub independente do mercado financeiro. Em 2022, os papéis acumularam queda de 42%.

Saiba mais sobre a Embraer

Trata-se de uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo, com mais de 50 anos de experiência em projetos, fabricação, comercialização e pós-venda de aeronaves nos segmentos comercial, executivo, defesa e segurança e agrícola.

Em 2021, a aviação comercial representou aproximadamente 34% da receita líquida total da companhia, seguida pelo negócio de serviços e suporte, com cerca de 26%. A aviação executiva respondeu por uma fatia aproximada de 24%, e a divisão de defesa e segurança, por 15%.

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Lourenço destaca principalmente a perspectiva de recuperação dos resultados, fazendo com que a companhia volte a lucrar, após os desafios vistos nos últimos trimestres.

"Em meio à procura por opções que minimizem as dificuldades de trânsito nas metrópoles, novas opções de mobilidade surgem como importantes frentes para o futuro", diz o analista.

"Nesse sentido, a Embraer vem cumprindo um papel de liderança em uma das alternativas mais promissoras e próximas de iniciar a operação."

Ele se refere a uma aeronave elétrica de pouso e decolagem vertical (eVTOL, na sigla em inglês) que está sendo desenvolvida pela Eve, empresa norte-americana controlada pela Embraer.

Apelidado de "carro voador", o modelo já passou por alguns testes e aguarda certificações de agências reguladoras para poder operar, processo que envolve órgãos no Brasil e no exterior.

"Acreditamos que, após aprovado e pronto para iniciar as atividades, em meados de 2025-2026, o eVTOL passará a ser mais uma alternativa de transporte", afirma Lourenço.

Segundo ele, o futuro dessa aeronave no Brasil e no mundo passa pelo reconhecimento e confiança do mercado na execução da Embraer - que já teria uma lista representativa com mais de 2 mil pedidos de potenciais compradores.

"Portanto, atribuímos a esta potencial fonte de receita uma parte importante da geração futura de valor estimada para a companhia."

Pontos a favor

• Balanço do quarto trimestre de 2022 deve apresentar lucro, quebrando uma sequência de resultados negativos;
• Criação de uma aeronave elétrica de pouso e decolagem vertical deve impulsionar as receitas;
• Passados os ventos contrários que abalaram as companhias aéreas (compradores de aeronaves), é esperado um processo de renovação de frotas, ou seja, possibilidade de mais encomendas para a Embraer.

Pontos contra

• Chance de o cenário de escassez de componentes, principalmente turbinas, permanecer nos próximos meses;
• Dificuldade de desenvolvimento e certificação/aprovação para início das atividades do eVTOL;
• Risco de novas restrições de mobilidade mundo afora, como no período da pandemia, prejudicando a circulação de pessoas.

A Ágora tem recomendação de compra para os papéis da Embraer (EMBR3), com base nos seguintes indicadores:

Preço-alvo: a instituição projeta um valor de R$ 30 para a ação da companhia, ao fim de 2023. Como o papel fechou cotado a R$ 16,07 em 23 de fevereiro, a interpretação é de que existe um potencial de valorização, de quase 87%.

O cálculo indica quanto o analista considera que a ação deveria valer, segundo as premissas adotadas. É um dos referenciais adotados no mercado - mas não o único - usado para orientar a recomendação para um papel, que pode ser de compra, venda ou neutra (nem comprar, nem vender).

Preço/lucro: a previsão para este ano é de um P/L de 5 vezes, bem abaixo da média dos pares internacionais. O índice mostra a relação entre o preço em Bolsa e o lucro esperado para a companhia. Quanto maior, em tese, mais cara está a ação.

"Vale destacar que o múltiplo, além de oferecer uma forma de avaliação relativa aos pares, em teoria, traz a leitura de que um investidor que adquire as ações no patamar atual de preço levará cinco anos para reaver o investimento, com base nos lucros estimados", reforça o analista.

EV/Ebitda: o cálculo para 2023 é de um múltiplo de 8,5 vezes, também com desconto se comparado à média dos pares internacionais. O índice aponta o valor da empresa em relação à potencial geração de caixa. Quanto menor, melhor.

Lourenço reforça que o investidor precisa ter em mente que ações são uma classe de ativo mais arriscada. Dessa forma, antes de alocar capital, o interessado deve avaliar seu perfil de risco. "Além disso, são recomendadas para horizontes de longo prazo."

Ele afirma ainda que, nesse contexto, ações costumam ser uma parcela da carteira de investimento que se adequa em menor proporção (podendo ser zero) para perfis conservadores e em maior fatia para perfis mais arrojados.

Especificamente sobre a Embraer, o analista diz que os papéis apresentam um "Beta" de 1,5. Trata-se de um indicador que mede a volatilidade de uma ação frente a um índice de referência.

"No caso, o Beta acima de 1 indica que a ação costuma oscilar mais do que o Ibovespa, portanto, oferece maior grau de risco do que o principal índice das ações brasileiras", destaca. "Assim, é mais indicada para perfis mais arrojados."

Quais são as perspectivas no médio e longo prazo?

A análise sobre o horizonte de Embraer envolve, entre outros fatores, a conjuntura vista para as companhias aéreas, seus principais clientes, firma Lourenço.

Nesse contexto, vale lembrar que o preço do querosene de aviação subiu quase 50% no mercado nacional em 2022, conforme dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).

O combustível, que responde pelo custo mais representativo para as aéreas, algo entre 35% e 40% do total, segue em alta - tendo registrado aumento de cerca de 17% no início de fevereiro.

"Porém o cenário não se resume apenas ao mercado brasileiro, o setor de aviação como um todo foi impactado", lembra o analista.

Com receitas menores, em resposta ao menor fluxo de viajantes, e gastos mais elevados, o processo de renovação de frotas por parte das aéreas acabou ficando em segundo plano, na tentativa de preservar as margens de lucro.

"Desta forma, os desafios enfrentados pelas companhias aéreas acabaram respingando nos fabricantes de aeronaves."

Em relação a potenciais fontes de receita para a Embraer, o desenvolvimento da aeronave eVTOL está no radar de longo prazo.

O comportamento recente das ações da Embraer (EMBR3) indica a possível formação de uma linha de tendência de alta, favorecendo o registro de preços mais elevados no médio prazo. A avaliação é de Ernani Teixeira Reis Junior, analista gráfico da Ágora.

Nesse cenário, diz ele, o valor de R$ 18,95 pode ser visto como o primeiro patamar de "resistência" (mais difícil de ser ultrapassado) e, uma vez rompido, abriria caminho para que as cotações atinjam R$ 21,88 e, em uma fase seguinte, R$ 25,69.

No sentido oposto, se os valores começarem a cair, o analista enxerga um "suporte" (nível no qual o papel pode começar a reagir) em R$ 15,70 e o preço de entrada sugerido é de R$ 16,49

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