O destaque da semana na newsletter A Companhia é a Irani Papel e Embalagem, escolhida por Julia Monteiro, analista da MyCAP Investimentos.

Segundo ela, um dos grandes atrativos da empresa é o foco em iniciativas renováveis e sustentáveis, que trazem independência e aumentam o potencial de expansão dos negócios.

Nesse sentido, o grupo possui em andamento a chamada "Plataforma Gaia", que reúne uma série de projetos para ampliar a competitividade, capacidade de produção e suficiência energética, com conclusão prevista para o fim de 2025.

"Além disso, a companhia apresenta resiliência, pequena rotatividade de clientes e receita pulverizada, o que lhe confere autonomia para gestão de portfólio", afirma a especialista, lembrado que Irani se propõe a personalizar os produtos demandados, com destaque para os que atendem a linha de alimentos.

Em meados de 2021, por exemplo, a empresa lançou um papel para produção de embalagens e papelão ondulado que promete inativar, por contato, o vírus que causa a covid-19. O produto, desenvolvido em parceria com a Nanox Tecnologia, possui micropartículas de prata e sílica incorporadas em sua estrutura, o que permitiria eliminar também bactérias e fungos.

Outra iniciativa é uma embalagem de cápsula de café que impede o vazamento do produto após a utilização, facilitando a reciclagem.

"Mais um diferencial da companhia é o fato de operar verticalmente, da cadeia de produção até a ponta de venda."

No quarto trimestre do ano passado, a empresa obteve lucro líquido de R$ 86 milhões, volume 35,7% maior em relação a igual período de 2021. No acumulado de 2022, o resultado foi positivo em R$ 378 milhões, com alta de 32,6%.

Neste ano, até 16 de março, as ações da Irani (RANI3) registram ganho de 2%, conforme dados do TradeMap, hub independente do mercado financeiro. No acumulado de 2022, os papéis tiveram alta de 27,7%.

Saiba mais sobre a Irani

Trata-se de uma das principais produtoras brasileiras de papel para embalagens e papelão ondulado. Fundado em 1941, em Porto Alegre (RS), o grupo possui ações listadas na Bolsa desde 1977.

A companhia tem quatro unidades de negócios - florestal, papel, embalagem e resina -, distribuídas pelos seguintes estados: São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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Julia afirma que a empresa possui um grande diferencial competitivo: o segmento de papel para embalagens sustentáveis.

Ela explica que a companhia utiliza a reciclagem de aparas (papel usado) para criar a matéria-prima usada na fabricação de grande parte de seus produtos, gerando uma economia circular, pois renova o ciclo da fibra do papel. Para se ter uma ideia, as aparas representaram cerca de 32% do custo total de produção de papel.

"Além disso, o projeto Gaia trará independência energética e elevará de forma exponencial a capacidade de produção de papelão ondulado."

Pontos a favor

• Capacidade de crescimento e uso de tecnologias que permitem atender a demanda crescente por produtos sustentáveis
• Composição da dívida bruta, com 85% das obrigações vencendo no longo prazo, sendo 98% em moeda local - características importantes diante do cenário de juros altos no Brasil e no exterior
• Atuação em um mercado bastante pulverizado, em especial o de vendas de caixas para alimentos, o que permite ganhos de escala

Pontos contra

• Conjuntura global de inflação elevada, o que força juros maiores para conter o consumo e reduz as perspectivas de crescimento econômico
• Dados gerais mostram que as expedições de papelão ondulado caíram 2,2% no ano passado, frente a 2021, refletindo a migração do consumo de bens e mercadorias para serviços
• Alta competitividade existente no setor de papel, o que pode levar a empresa a perder mercado

Segundo a analista, o preço atual dos papéis da Irani (RANI3) está abaixo do potencial de crescimento da empresa, considerando o sucesso das iniciativas ligadas à Plataforma Gaia, a receita resiliente e a capacidade de oferecer produtos diferenciados.

A avaliação considera ainda os seguintes indicadores:

Preço/lucro: as ações da companhia são negociadas atualmente a um P/L de 5,3 vezes, mesmo nível do ano passado (5,2 vezes), mas bem abaixo de 2021 e principalmente 2020, quando ficou em 6,2 vezes e 14,9 vezes, respectivamente.

O índice mostra a relação entre o preço em Bolsa e o lucro da companhia. Quanto maior, em tese, mais cara está a ação.

Dividend yield: segundo estimativa da MyCAP, o retorno com dividendos deve ficar em 8% neste ano.

O indicador representa quanto do rendimento do papel, em determinado período, pode ser atribuído à distribuição de lucros. Quanto maior, melhor.

Dívida líquida/Ebitda: fechou o ano passado em 1,38 vez, contra 0,78 vez em 2021, em razão dos investimentos feitos na Plataforma Gaia.

O índice reflete o nível de alavancagem de uma empresa, medido pelo endividamento total, menos caixa, dividido pela geração operacional de recursos. Quando menor, melhor.

"Apesar do aumento, o indicador está em linha com os parâmetros estabelecidos na política de gestão financeira da companhia, cuja meta é de 2,5 vezes", pondera Julia. "Historicamente, o grupo tem mostrado controle da alavancagem financeira, mesmo em um setor de capital intensivo."

A analista recomenda os papéis da Irani para quem busca diversificar a carteira de investimentos, considerando uma empresa com baixa exposição geográfica e cambial

"A companhia mostra ainda resiliência de retornos aos acionistas, via dividendos e juros sobre capital próprio, além de elevado potencial de ganhos e sinergias em função da verticalização e do aumento da produção."

Quais são as perspectivas no médio e longo prazo?

Julia destaca que, recentemente, a Irani passou a compor as carteiras do Índice Dividendos (Idiv) e do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3.

"Entendemos que, com a maior exposição e participação nesses novos índices, a empresa deve apresentar ganhos de escala nas negociações com clientes", afirma a analista.

Ela observa ainda que o ingresso nesses indicadores tende a atrair fundos de investimento - lembrando que alguns desses produtos exigem padrões mínimos de retorno aos acionistas, governança corporativa e liquidez de uma ação.

"Destacamos também o rating de crédito de emissor de longo prazo da Irani, de 'brAA' na escola nacional, indicando a perspectiva de que a empresa manterá uma geração de caixa crescente nos próximos anos, com maior rentabilidade."

O comportamento das ações da Irani (RANI3) sugere cautela no curto prazo, segundo Weslley Mesquita, analista da MyCAP Investimentos. Ele explica que, embora apresente um viés de alta, os preços atuais sinalizam uma zona de conflito entre compradores e vendedores.

O especialista acredita que, a partir de R$ 8,40, os papéis da empresa possam subir para R$ 8,64 e R$ 8,80. No sentido contrário, se caírem abaixo de R$ 8,16, é possível que busquem um "suporte" (nível no qual tendem a começar a reagir) importante no patamar de R$ 7,90 a R$ 7,70.

"Avaliamos estes dois últimos pontos como oportunidades de compra, pois se trata de uma região que apresenta a melhor relação risco-retorno", diz Mesquita.

Já em uma perspectiva de médio e longo prazo, ele afirma que as ações da Irani vêm ensaiando a retomada de um fluxo comprador. Caso esse cenário se concretize, o "alvo" seria a cotação máxima histórica de R$ 9,35 - nível que, se for ultrapassado, indica potencial para que atinja R$ 12.

Nesse mesmo horizonte, um ponto que despertaria alerta quanto a uma eventual mudança de tendência, no sentido negativo, está identificado nos gráficos em R$ 7,36, afirma o analista.

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