Os números da chuva extrema que caiu sobre Petrópolis (RJ) na terça-feira (15) estão sendo atualizados. Ao menos 94 pessoas morreram, segundo boletim da Defesa Civil divulgado na noite desta quarta (16). Há dezenas de desaparecidos e desabrigados. O pico de intensidade média de chuva - que passou dos 99 mm por hora em alguns pontos de medição - pode ter sido recorde, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Foram 240 mm de chuva em 3 horas, entre 16h20 e 19h20, informa o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), volume que supera a média de chuvas para o mês de fevereiro inteiro. A previsão é de mais chuva na região para as próximas horas. "O que nós testemunhamos em Petrópolis foi um evento absolutamente excepcional", afirma a cientista Regina Alvalá, coordenadora de Relações Institucionais do Cemaden e diretora substituta. "Para se ter uma ideia, a ciência meteorológica dos dias de hoje não é capaz de prever essa quantidade de chuvas em um espaço tão curto de tempo e em uma região tão delimitada", afirma a pesquisadora, citando as precipitações extremas no verão de 2021 na Europa e no Japão e que também não foram previstas pelos órgãos de alerta. Petrópolis é uma cidade histórica e turística da Região Serrana do Rio de Janeiro, uma zona extremamente suscetível a chuvas intensas. Uma delas ocorreu em 2011, matou mais de 900 pessoas em toda a Região Serrana e foi classificado pela ONU como um dos dez piores deslizamentos do mundo em 111 anos. Foi por causa desta tragédia que o Cemaden foi criado. Naquela ocasião, o pico máximo de intensidade de chuvas foi de 90 mm por hora. O evento desta terça se originou de uma massa de ar frio que estava sobre o Oceano Atlântico, como em 2011, mas desta vez a distribuição da chuva ficou concentrada apenas em Petrópolis, que tem a maior densidade populacional da região. Um estudo do Cemaden em parceria com o IBGE indica, com base nos dados de 2010, que há mais de 500 áreas de risco no município. Cerca de 24% dos quase 300 mil habitantes vivem nelas. São aglomerados residenciais - favelas - sem sistemas adequados de drenagem, abastecimento de água ou coleta de esgoto. Uma boa parte dessas casas estão nas encostas ou em regiões alagáveis. Embora as chuvas do dia 15 tenham atingido o município todo, incluindo a região central, as áreas com menos infraestrutura têm mais mortalidade. Manter uma quantidade de pessoas em habitações precárias em uma região tão suscetível é naturalizar a morte potencial de dezenas de milhares de pessoas. Vale a pena conferir as previsões do relatório de 2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em um aquecimento global de 2C (muito acima do atual, 1,2C) e comparar com o que já estamos observando. PUBLICIDADE | ![](https://securepubads.g.doubleclick.net/gampad/ad?iu=/8804/uol/newsletter/crise_climatica&sz=320x50&clkk={{cmp36}}_c42f9a647b515e3fcd3598fcaf56f27520220216_20220217110000_1&ptt=21) | |