O tema da mudança climática entrou finalmente no debate eleitoral a partir do encontro realizado em São Paulo entre ambientalistas, cientistas e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), além de representantes dos partidos que integram a frente que lançará sua candidatura (Rede, PCdoB, PV e PSB). Para Lula, o movimento ambientalista precisa lançar esforços para esclarecer a sociedade brasileira de que a proteção ambiental não é inimiga do desenvolvimento econômico. "Quando a gente fala em benefício para a humanidade é lindo, mas a pessoa que está lá precisa ser incluída, saber que vai ter emprego, escola, saúde. Vamos melhorar as coisas, vamos gerar empregos, oportunidades", disse o ex-presidente. Ganharam destaque na imprensa a proposta de criação de um instituto tecnológico para a Amazônia, a busca de novas formas de financiamento, e a vontade do PSB estar à frente dessa agenda em um futuro governo petista. Mas participantes do evento afirmam que o tom geral foi de coleta de propostas e reivindicações, com poucos anúncios concretos. "O Lula não fez propostas exatamente. Ouviu propostas", explicou Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima (OC) e ex-presidente do IBAMA. Segundo a pesquisadora, que esteve na reunião organizada pela Fundação Perseu Abramo e pelo Partido dos Trabalhadores, o evento reuniu subsídios para a futura política ambiental, "que necessitará ser reconstruída após a destruição causada pelo governo Bolsonaro." Um ponto de convergência entre todos os participantes é o de que o combate ao desmatamento precisa ser retomado com urgência, além da recuperação orçamentária de órgãos de fiscalização, como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Também estiveram no encontro o cientista Carlos Nobre, os economistas Ricardo Abramovay e Esther Bemerguy, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e os ativistas Carlinhos dos Anjos e Claudinha Pinho, ambos dirigentes do Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais. "Pessoalmente apresentei pontos que estamos debatendo coletivamente na rede de mais de 70 organizações que integram o OC (Observatório do Clima)", relata Araújo. Ela informa que o Observatório do Clima está finalizando este documento, que será divulgado amplamente no âmbito do projeto Brasil 2045. "A ideia é subsidiar todos os candidatos, com exceção de Bolsonaro, que já demonstrou cabalmente que tem o desmantelamento da política ambiental como um projeto", afirma a especialista. Para ela, a política ambiental brasileira "não tem qualquer futuro em caso de reeleição [de Bolsonaro]". O único candidato à presidência que já tinha abordado de alguma forma o tema das mudanças climáticas é Ciro Gomes (PDT-CE). Em uma sequência de vídeos publicados em dezembro, ele aborda o destino da Petrobrás em um futuro sem lugar para os combustíveis fósseis. |