Ao atrelar os combustíveis fósseis às pressões inflacionárias, o pacote de lei recém-aprovado no Senado dos Estados Unidos dará impulso às energias renováveis. A medida coloca o maior emissor global de gases de efeito estufa no caminho certo para reduzir 45% das emissões (em relação aos níveis de 2005) e cumprir 2/3 de sua meta climática no Acordo de Paris para 2030. Com a aprovação no Senado, os próximos passos para que a lei entre em vigor — votação na Câmara e sanção do presidente — estão garantidos. "Na administração anterior, acho que o resto do mundo perdeu a fé nos Estados Unidos em termos de nosso compromisso com o clima. Isto não apenas restaura essa fé nos Estados Unidos, mas cria uma zona de oportunidades em que outros países podem começar a pensar" Gina McCarthy, conselheira nacional de Clima da Casa Branca, à rede MSNBC Do ponto de vista climático, o projeto de lei não é perfeito. Embora a maior parte dos ambientalistas tenham comemorado a aprovação, há muitas críticas, principalmente porque a medida emparelha novos projetos de petróleo e gás — maiores causas do aquecimento global — ao desenvolvimento de energias renováveis. A lei determina que o Departamento do Interior arrende cerca de 2 milhões de acres de terras federais e até 60 milhões de acres em território marítimo para projetos de combustíveis fósseis a cada ano. O cumprimento dessas cotas permitirá o arrendamento de terras federais para as energias renováveis em terra (onshore) e no mar (offshore). Esta é provavelmente a isca que permitiu que a lei passasse no Congresso, altamente permeado pelo lobby fóssil. Isto porque não há nenhuma garantia de que esses acres serão realmente alugados se a indústria de combustíveis fósseis não os quiser. E nem é possível assegurar que os territórios requisitados fornecerão petróleo ou gás. A decisão das empresas será baseada na demanda, e é exatamente sobre ela que o pacote de leis atua com mais força. Em vez de focar apenas em punir emissores, a proposta oferece incentivos para a descarbonização. Cidadãos de renda baixa e média receberão um crédito fiscal de US$ 4 mil para comprar veículos elétricos ou híbridos usados e US$ 7,5 mil para automóveis deste tipo novos. O governo também distribuirá US$ 9 bilhões em descontos aos consumidores na compra de eletrodomésticos eficientes. Vários setores da economia serão impactados. Cerca de US$ 250 bilhões vão financiar projetos de energia renovável, 60 bilhões serão destinados a descarbonizar a indústria pesada de aço, cimento e alumínio, mesma quantia que será empregada na promoção da justiça climática em comunidades vulneráveis. Projetos de conservação florestal e agricultura de baixo carbono receberão um impulso de US$ 20 bilhões. "Este projeto de lei é aparentemente o maior investimento em ação climática nos EUA de todos os tempos", analisa Brian O'Callaghan, pesquisador líder do projeto de Recuperação Econômica da Universidade de Oxford. "[o projeto] Adota uma abordagem amplamente favorável ao mercado, focada na aceleração da demanda por produtos-chave necessários para a transição - isto deve acelerar o progresso tecnológico e criar um incentivo para ainda mais investimento privado. Os custos de tecnologia que estão caindo nos EUA também devem levar a custos mais baixos globalmente." Uma análise do think tank Energy Innovation afirma que para cada tonelada de emissões esperada das provisões de combustível fóssil viabilizadas pela lei, 24 toneladas de emissões serão reduzidas. "Esta é a ação mais significativa que os Estados Unidos já tomaram para combater a mudança climática", avalia Manish Bapna, presidente da ONG NRDC (Natural Resources Defense Council). "Este projeto de lei não é perfeito, mas de uma perspectiva de poluição climática, os pontos positivos superam fortemente os negativos". PUBLICIDADE | | |