Jair Bolsonaro será derrotado nas eleições de outubro, segundo todos institutos de pesquisa do país. Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera a disputa, sinaliza uma guinada na política social e climática, o que garantiu o apoio unânime do movimento ambientalista. Essa expectativa de mudança também anima setores financeiros internacionais, como revela a gestora Daniela da Costa Bulthuis, da Robeco, que administra ativos avaliados em R$ 923 bilhões (cerca de 178 bilhões de euros). Segundo Bulthuis, as políticas apresentadas pela gestão Bolsonaro aos investidores geraram muito mais preocupação do que interesse no mercado internacional. "O governo Bolsonaro tem uma proposta focada na promoção e monetização de um potencial mercado de carbono e no desenvolvimento de uma estrutura financeira para atividades verdes", afirma a gestora. "Mas eles estão fazendo um esforço limitado na redução do desmatamento e não há um plano sobre como o Brasil cumprirá seu compromisso na COP26 de deter o desmatamento até 2028." Bulthuis também ressalta que a forma como o governo Bolsonaro trata de temas sociais, em especial os direitos indígenas, gera apreensão. "Há um agravamento das questões de direitos humanos em torno das comunidades indígenas. O governo fala em desenvolver atividades comerciais em torno das comunidades, mas nada é dito sobre a proteção de seus direitos e integridade da terra. É um ponto de preocupação." Com necessidade de priorizar a política doméstica e recuperar a qualidade de vida dos brasileiros, a agenda climática será a principal - e talvez a única - oportunidade que o próximo governo terá de recuperar a credibilidade internacional do país. Sobre isso, a gestora afirma que os planos de Lula são animadores: "Ele [Lula] está falando em proteger todos os biomas, estimular o uso e o tratamento de terras degradadas; alinhamento com [o Acordo de] Paris, fomentar investimentos em energia renovável e práticas agrícolas sustentáveis; proteger as comunidades indígenas e tradicionais, restaurar o apoio às agências ambientais. A intenção é muito encorajadora." Daniela da Costa Bulthuis, gestora da Robeco Ao mesmo tempo, ela faz uma ressalva de que ainda não foram apresentados detalhes sobre como resolver "os problemas atuais de desmatamento em massa na Amazônia e no Cerrado e um plano detalhado para reduzir a criminalidade em torno da floresta." Para ela, atores internacionais ainda não encontraram respaldo do governo brasileiro para criar um mecanismo que impeça a exportação do desmatamento. "[Sob Bolsonaro] Estamos perdendo o impulso e o apoio governamental para um sistema de rastreabilidade da cadeia de suprimentos do agronegócio", avalia. A gestora afirma que seria ótimo ter mais clareza sobre a visão de Lula em relação à rastreabilidade e sobre como o Brasil pode atingir suas metas de redução das emissões de metano, compromisso assumido na Conferência do Clima do ano passado. Bulthuis também lamenta a ausência no atual governo de uma política de descarbonização para o setor de energia. "Não há uma política concisa para estimular a migração da produção e consumo de energia para fontes renováveis. Espera-se que a tributação da energia solar aumente em 2023, avançando na direção errada de um estímulo." PUBLICIDADE | | |