Acabar com a dependência de combustíveis fósseis caros e poluentes só será possível se houver energia limpa suficiente para satisfazer o apetite crescente do mundo por eletricidade. Um relatório da Ember, uma das organizações independentes de pesquisa mais respeitadas do setor, mostra que o mundo está finalmente caminhando para isso: o aumento das energias solar e eólica impediram o crescimento previsto de 4% da geração elétrica fóssil em todo o mundo no primeiro semestre deste ano. O relatório Ember's Global Electricity Insights Mid-Year Insights mostra ainda que o crescimento das renováveis evitou R$ 208 bilhões (US$ 40 bilhões) em custos de combustível e 230 milhões de toneladas de emissões de CO2. A análise levou em conta dados oficiais de eletricidade de 75 países que representam 90% da demanda mundial de eletricidade - o Brasil entre eles. O documento compara os primeiros seis meses de 2022 ao mesmo período em 2021 para mostrar como a transição de eletricidade progrediu. A conclusão é que a demanda global de eletricidade cresceu em 389 terawatts-hora (TWh), e as energias renováveis - eólica, solar e hidrelétrica - aumentaram em 416 TWh, excedendo ligeiramente o aumento da demanda por eletricidade. Só a energia eólica e solar aumentou em 300 TWh, o que equivale a 77% do aumento da demanda global de eletricidade. Na China, o aumento da geração eólica e solar sozinho atendeu 92% do aumento da demanda de eletricidade; nos EUA foi de 81%, enquanto na Índia foi de 23%. "O vento e a energia solar estão se provando durante a crise energética", afirma Malgorzata Wiatros-Motyka, analista sênior da Ember. Como resultado do crescimento das energias renováveis, a geração fóssil ficou praticamente inalterada (+5 TWh, +0,1%). O carvão caiu em 36 TWh (-1%) e o gás em 1 TWh (-0,05%); isto compensou um ligeiro aumento em outros combustíveis fósseis (principalmente petróleo) de 42 TWh. Consequentemente, as emissões globais de CO2 do setor energético permaneceram inalteradas no primeiro semestre em comparação com o ano passado, apesar do aumento da demanda de eletricidade. Embora o Brasil não esteja entre os países analisados individualmente nesta publicação, os autores afirmaram a esta coluna que foi a energia solar distribuída - com painéis solares instalados diretamente nos telhados onde a energia será usada - que atendeu o aumento da demanda. Com os preços altos da energia, o investimento em placas solares se tornou vantajoso em várias regiões do país. "O grid brasileiro não informa a geração solar a partir da geração distribuída. Mas com tantos painéis solares sendo instalados em 2021, e com a baixa demanda de eletricidade relatada pelo governo de apenas 2%, é provável que haja um grande aumento na geração solar que está atendendo diretamente à demanda de eletricidade", afirmam os analistas da Ember. "Além disso, houve uma grande inversão das secas do passado, com a recuperação da geração hidrelétrica e uma redução significativa da necessidade de geração a gás que havia no ano passado", concluem os pesquisadores. Apesar do Brasil ter superado a escassez hídrica de 2021, as termelétricas poluentes que pesam na conta de luz não saíram do sistema. Novos leilões determinados por emendas na lei de privatização da Eletrobras devem adicionar ainda mais energia suja e cara no sistema elétrico brasileiro. Aumento de emissões Apesar da estagnação na geração de fósseis na primeira metade no ano, a geração de carvão e gás aumentou em julho e agosto. Isto deixa em aberto a possibilidade de que as emissões de CO2 do setor elétrico em 2022 ainda possam aumentar, após o recorde histórico do ano passado. "Não podemos ter certeza se atingimos o pico do carvão e do gás no setor energético", diz Wiatros-Motyka. "As emissões globais do setor de energia ainda estão tendendo para cima quando precisavam estar caindo muito rapidamente. E os mesmos combustíveis fósseis que nos empurram para uma crise climática também estão causando a crise energética. Temos uma solução: o vento e a energia solar são de origem local e barata, e já estão cortando rapidamente tanto os custos, como as emissões". PUBLICIDADE | | |