Membros da sociedade civil fizeram um evento na COP27 sobre como o Brasil poderia se tornar um país negativo em carbono até 2045, isto é, que retira mais carbono da atmosfera do que emite. O país é uma das poucas geografias com potencial para uma transição ecológica tão rápida, o que traria benefícios adicionais, como a modernização da economia, a melhoria geral da saúde e qualidade de vida, diminuição de custos de eletricidade e manutenção da biodiversidade. No Brasil, a principal fonte de dióxido de carbono (CO2), um gás de efeito estufa que pode ficar na atmosfera por quase dois séculos, é a mudança do uso do solo (49%), com o desmatamento sendo o principal vetor. A agricultura (25%) e o setor de energia (18%) vêm na sequência. Atualmente, as emissões per capita brasileiras estão acima da média mundial e de países como a China e a Índia, que são grandes emissores. Esses dados são do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) e foram apresentados na Conferência pelo engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do Sistema e do MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil). Questionado pela imprensa se era crível que o país pudesse baixar essas emissões com uma troca de governo no âmbito federal, o pesquisador foi otimista. "Hoje nós temos tecnologia para monitorar a cobertura do solo e apoiar uma política de controle do desmatamento. O problema é que essa política não existiu nos últimos quatro anos", disse Azevedo. "O desmatamento em larga escala é muito explícito, é só observar o que está acontecendo em Novo Progresso", exemplificou o especialista, se referindo ao reduto bolsonarista no estado do Pará. Brenda Britto, pesquisadora do Imazon, destacou que o Brasil já tinha conseguido o feito no passado de reduzir drasticamente o desmatamento em seu principal bioma florestal, a Amazônia, ao mesmo tempo em que aumentou a produção de soja, milho e carne. "A maior parte do desmatamento ocorre em territórios da Amazônia sem destinação, que hoje representam 29% da área deste bioma", disse a pesquisadora, destacando o potencial de uma política nesse sentido para reduzir as emissões do país. O diretor-executivo da SOS Mata Atlântica, Luis Guedes, destacou o potencial deste bioma para a recuperação florestal, já que boa parte do ecossistema foi transformada em pastagens degradadas e áreas improdutivas que podem voltar a ser florestas em áreas protegidas, capturando carbono. Outra parte da solução que levaria o país a ser negativo em carbono já na década de 2040 é a descarbonização do setor energético, que pode ser mais acelerada do que em outras geografias a partir de uma integração das fontes renováveis hidrelétricas existentes, a recuperação de bacias hidrográficas e mais investimentos em fontes solar e do vento, para as quais o Nordeste tem enorme potencial. Os dados foram apresentados por Cristina Amorim, líder do plano Nordeste Potência. "Nas últimas estiagens severas, que impactaram a capacidade hidrelétrica e foram agravadas em parte pela mudança climática, o país decidiu investir em mais termelétricas a gás fóssil, ou seja, investiu naquilo que está causando o problema, além de encarecer o custo da eletricidade para os consumidores, incluindo a indústria." Completando o mosaico de soluções, a cacica Juliana Kerexu, Coordenadora Tenondé da CGY (Comissão Guarani Yvyrupa), destacou as soluções que as comunidades já têm sobre bem viver e desenvolvimento sustentável. Sua fala foi acompanhada pelo depoimento do advogado Dinamã Tuxá, da coordenação da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). "Nos colocam como se nós fôssemos contra o desenvolvimento, e com isso passamos a não ser vistos e escutados. Nós precisamos estar juntos na construção das soluções para proteger nossos rios e matas." Juliana Kerexu, Coordenadora Tenondé da CGY (Comissão Guarani Yvyrupa) Respondendo a uma pergunta da Reuters, Tuxá disse estar otimista com o próximo governo e comemorou a sinalização para criação de um ministério indígena. "Nós estamos muito esperançosos. Acreditamos que uma reconstrução começa agora, e temos confiança de que faremos parte desse processo." |