Ao menos 20 mil mortes em excesso - em relação àquelas que teriam sido esperadas com base nas tendências históricas - foram registradas na França, Alemanha, Espanha e Reino Unido durante a onda de calor do Verão de 2022, o mais quente da história do continente. Metade desses óbitos ocorreram apenas na França, segundo dados publicados pela Santé Publique France, a agência de saúde pública do país. O relatório francês acrescenta que um quarto dessas mortes ocorreu durante uma das três intensas ondas de calor que atingiram o país este ano. Embora a metodologia usada não permita discriminar entre mortes relacionadas ao calor e outras causas, os autores do levantamento francês ressaltam que as temperaturas extremas foram provavelmente o principal fator para o excesso de mortes, já que houve 20% mais fatalidades em regiões que emitiram alertas de temperatura extrema. Semelhante à França, outros países da Europa Ocidental relataram milhares de mortes em excesso durante os meses de verão. Na Espanha, o Instituto de Saúde Carlos III estima que houve 4.655 mortes atribuíveis ao calor entre junho e agosto no país. O Robert Koch, instituto de saúde pública alemão, estima que 4.500 pessoas morreram durante os meses de verão na Alemanha especificamente devido às temperaturas extremas. O Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido registrou 3.271 mortes em excesso entre 1 de junho e 7 de setembro na Inglaterra e no País de Gales - 6,2% acima da média e já excluindo mortes relacionadas à Covid-19 e suas complicações. Esta análise não estima especificamente as mortes relacionadas ao calor, embora observe que o número de óbitos foi maior, em média, para dias com onda de calor. Uma análise do grupo de cientistas climáticos da rede WWA (World Weather Attribution) já havia constatado que temperaturas tão altas observadas este ano teriam sido "virtualmente impossíveis" sem a mudança climática (p.38). "As ondas de calor são uma das maiores ameaças colocadas pela mudança climática. Apesar desta evidência esmagadora, ainda há pouca consciência pública dos perigos que as temperaturas extremas representam para a saúde humana", afirma a pesquisadora Friederike Otto, palestrante sênior sobre mudança climática do Imperial College London, no Reino Unido, e umas das líderes da WWA. "As altas temperaturas são responsáveis por milhares de mortes em todo o mundo a cada ano, muitas das quais são subnotificadas", lamenta a pesquisadora. Para Eunice Lo, pesquisadora do nexo saúde e mudança climática da Universidade de Bristol, também no Reino Unido, embora o tempo "bom" seja muitas vezes comemorado no Hemisfério Norte, medidas de adaptação e mitigação de riscos do calor extremo serão cada vez mais necessárias e custosas. "Precisamos nos adaptar ao calor a longo prazo. Isso inclui projetar casas, escolas e hospitais que tenham boa ventilação e previnam o superaquecimento, aumentar o espaço verde e os parques nas cidades e tornar os avisos de calor acessíveis a todos". |