Um novo relatório da Christian Aid (Counting the Cost 2022) mostra que dez eventos extremos tiveram um impacto em 2022 de R$ 15 bilhões (US$ 3 bilhões) ou mais, cada um. A maior parte das estimativas deste levantamento leva em conta apenas as perdas reportadas pelas seguradoras, o que significa que os custos financeiros reais são provavelmente muito mais altos, enquanto os custos humanos não são contabilizados. Entre eles está a seca de 2021 no Brasil, que gerou impactos até o começo de 2022, a um custo estimado de mais de R$ 20 bilhões (US$ 4 bilhões). Outro evento em destaque é o Furacão Ian que atingiu os EUA e Cuba em setembro, custando R$ 500 bilhões (US$ 100 bilhões) e deslocando 40 mil pessoas. A seca extrema observada na Europa no último verão custou R$ 100 bilhões (US$ 20 bilhões). As inundações no Paquistão que mataram mais de 1.700 pessoas e deslocaram pelo menos outras 7 milhões causaram R$ 150 bilhões (US$ 30 bilhões) em prejuízos econômicos, segundo estimativas do Banco Mundial incluídas no relatório. A maior parte deste prejuízo não foi segurada devido à dificuldade de obtenção de seguro - apenas cerca de R$ 29 bilhões (US$ 5,6 bilhões) foram cobertos. A lista completa inclui ainda a tempestade Eunice, em fevereiro, na Europa; as inundações na Austrália entre fevereiro e março; as enchentes de abril na África do Sul; chuvas extremas na China de junho a setembro; o furacão Fiona, que atingiu o Caribe e o Canadá; e uma seca extrema na China, cujos efeitos se prolongaram de 2021 a 2022, como a seca extrema brasileira. No relatório, uma segunda lista destaca 10 desastres climáticos de 2022 que não estão na lista de perdas seguradas, mas foram igualmente prejudiciais às comunidades ou representaram ameaças futuras preocupantes. Entre eles estão as inundações em Petrópolis, em fevereiro de 2022, e as ondas de calor simultâneas e inéditas no Ártico e na Antártida, em março. "Por trás dos números em dólares estão milhões de histórias de perda e de sofrimento humano", diz o CEO da Christian Aid, Patrick Watt. "O custo humano da mudança climática é visto nas casas lavadas pelas enchentes, entes queridos mortos por tempestades e meios de subsistência destruídos pela seca. Foi um ano devastador para quem está na linha de frente da crise climática." Patrick Watt, CEO da Christian Aid "Muitos desses eventos têm uma coisa em comum: wavenumber 5. Em julho e início de agosto de 2022, assim como no verão de 2021, um padrão global com cinco grandes ondas circulava pelo mundo, levando a ondas de calor simultâneas através dos continentes e inundações coincidentes onde ocorreram centros de baixa pressão", explica Hayley Fowler, professora de Impactos da Mudança Climática na Escola de Engenharia na Universidade de Newcastle, na Inglaterra. "Este padrão, conhecido como wavenumber 5, pode persistir por semanas, causando a permanência de áreas quentes por muito tempo, e as áreas úmidas conectadas a ele se tornam muito úmidas", continua a pesquisadora. "Isto torna [os eventos] mais caros e impactantes, e gerenciar seus efeitos nas comunidades é um enorme desafio." "Aqui na África, estamos vendo o sofrimento que a mudança climática está causando àqueles que fizeram o mínimo para causá-la. 2023 precisa ser o ano em que todos nós acordamos para começar a colocar o mundo no caminho certo", afirma Mohamed Adow, diretor do think thank Power Shift Africa, com sede em Nairobi, no Quênia. "Precisamos ver a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, uma aceleração da energia renovável e maior apoio aos vulneráveis." PUBLICIDADE | | |