| | Verstappen com capacete de futebol americano no pódio de Miami | Divulgação/Red Bull |
| | | | Verstappen, que quando termina, ganha, vira o pesadelo da Ferrari | Max Verstappen terminou três corridas e meia este ano. Ganhou três e meia. Por "meia" entenda-se a minicorrida de sábado antes do GP da Emilia-Romagna, em Ímola. Em outras palavras: quando viu a bandeira quadriculada em 2022, o holandês da Red Bull venceu. Nas outras duas, quebrou. É o maior pesadelo para a Ferrari neste momento. A equipe italiana tem bons pilotos, regulares e esforçados, carros bons, rápidos e equilibrados, que provavelmente vão andar bem o ano todo. Mas é suficiente para ganhar um título? Leclerc ainda é o líder do Mundial. Terminou o GP de Miami, neste domingo, em segundo. Max venceu pela 23ª vez na carreira, empatando nas estatísticas com o sogro Nelson Piquet e com o precocemente aposentado Nico Rosberg. Sainz fechou o pódio e levou a outra Ferrari ao terceiro lugar. Tudo muito bem, tudo muito bom. Charles tem 104 pontos na tabela contra 85 de Verstappen. É uma vantagem interessante, como não? São 19 pontos, ninguém arranca 19 pontos assim, sem mais nem menos! Não é mesmo? Mais ou menos... Eram 46 pró-Leclerc depois da terceira etapa do campeonato. Verstappen descontou 27 pontos nas duas últimas corridas. Nesse ritmo, passa o monegasco daqui a duas provas, em Mônaco. O que ele fez na Flórida assustou a concorrência. Em terceiro no grid, passou Sainz na largada e Leclerc na nona volta. Depois, sumiu. Só foi ver o rival de novo no espelhinho nas voltas finais por causa de um safety-car. Não há propriamente uma crise na Ferrari, longe disso. O time está na ponta nos dois campeonatos, o de pilotos e o de construtores. Como falar em crise numa situação dessas? Mas em Maranello a sensação de todos é de que a ultrapassagem é inevitável. Questão de tempo. E é preciso fazer algo para deter Verstappen. Como sequestrar o menino ou torcer para que seja abduzido são hipóteses fora de questão, o jeito é melhorar seu próprio carro. De que forma? Trabalhando. Muito. Arriscando, se for preciso. Sendo criativo em estratégias. Sei lá. Se eu soubesse o que fazer estaria trabalhando na Ferrari, e não escrevendo colunas. Buscar velocidade em reta foi o grande pulo do gato da Red Bull em Miami. Asas ligeiramente menores, na frente e atrás, um acerto com menos arrasto aerodinâmico e... batata! Nem com asa móvel Leclerc conseguiu atacar Max no final da corrida, quando a diferença de mais de 7s que ele tinha aberto sobre o #16 vermelho foi pulverizada com a entrada do safety-car — o motivo, uma batida besta de Norris com Gasly. A Ferrari vai andar melhor que a Red Bull em algumas pistas, ainda. É visível como os carros de Leclerc e Sainz são eficientes nas saídas de curvas lentas. Tracionam como ninguém. Em alguns traçados, tal característica cai como uma luva. Mas nem todos os circuitos são assim. Nas próximas três corridas, por exemplo, só Mônaco. Barcelona e Azerbaijão têm mais a cara da Red Bull, assim como Montreal — que depois dessas três provas europeias obriga a F-1 a mais uma excursão pela América do Norte. Neste momento, a pergunta é: onde Max vai assumir a liderança do Mundial? E a segunda: quando isso acontecer, a Ferrari consegue virar o jogo? No começo da temporada, depois de uma dobradinha com autoridade no Bahrein, Mattia Binotto, o chefe da equipe italiana, pediu algum comedimento à imprensa e aos torcedores ferraristas, que já estavam colocando a champanhe no gelo. "Calma, a gente foi muito bem, foi lindo, ótimo, maravilhoso. Mas eles vão melhorar", afirmou, com ares proféticos. "Eles" eram Red Bull e Mercedes. Metade da profecia de Binotto já se cumpriu. | Bonitinho, mas... | O GP de Miami foi um dos mais badalados de todos os tempos e nos últimos dias na F-1 não se falou de outra coisa: festas, exposições, desfiles, leilões, shows, arte, música, moda, celebridades, jantares, atores, atrizes, cantores, cantoras, DJs, hotéis, restaurantes, teleférico, marina, praia, sol, areia, grana, muita grana. Mas parece que esqueceram de um detalhe: a corrida. Assim, desde o início dos treinos ficou claro que a prioridade nunca foi o esporte, mas o entorno. O GP foi apenas um pretexto para a realização de eventos de todos os tipos e tamanhos ao longo de uma semana. O palco montado para os carros passarem recebeu críticas de todos os lados: desinteressante, ondulado, asfalto de má qualidade, pouca aderência, um trecho estreito de velocidade baixíssima sem pé nem cabeça. Ninguém reclamou de ter de ir a Miami. Mas da próxima vez, se é para correr, melhorem isso aí. Foi mais ou menos o que disse Hamilton: "Não dá para acreditar que nos dias de hoje ninguém seja capaz de fazer um asfalto liso e regular. Espero que no ano que vem façam algumas mudanças". Not for saleAcontece comigo de vez em quando na rua. Estou num carro velho qualquer, encosta um cabra e diz: "Dou dois paus nesse calhambeque". Faço cara de paisagem, primeiro, depois percorro todos os vidros do automóvel com os olhos, me volto para o sujeito e digo: "Tem alguma placa de vende-se aqui?". Foi mais ou menos o que aconteceu com a McLaren na semana passada. Ao assédio inicial da Audi, que pretende entrar na F-1 como equipe, e não fornecedora de motores, mandou o recado: a equipe não está à venda. Os comentários iniciais davam conta de uma futura proposta de 500 milhões de euros. Pelo jeito, não comoveu muito Zak Brown. Mas a Audi não precisa se desesperar. Chega com essa grana na Williams que leva. Na Sauber, responsável pela operação da Alfa Romeo, também. E se quiser visitar a Aston Martin, ninguém vai tomar chá de cadeira na recepção. | Como seria um F-1 da Audi hoje, no traço de Sean Bull | Imagem: Reprodução Twitter/@seanbulldesign |
| Meme da semana | Com tanta preocupação em fazer algo, hum..., belo e encantador para mostrar ao mundo como Miami é demais, é bem capaz que a imagem mais vista desse GP não tenha sido de nenhuma paisagem idílica cheia de palmeiras, praias ensolaradas ou carros de F-1 diante de predinhos art déco. A mais forte candidata a foto símbolo do fim de semana foi a de Vettel vestindo a cueca por cima do macacão na sexta-feira. Foi um protesto bem-humorado — e razoavelmente bizarro — depois que o novo diretor de prova da F-1, Niels Wittich, prometeu apertar a fiscalização sobre as roupas dos pilotos, que devem ser antichama dos pés à cabeça. "Até a cueca", teria dito o dirigente. Bom, se querem fiscalizar minhas cuecas, imaginou o alemão, que seja assim. Borat não teria feito melhor. | Imagem: Instagram/@PaddockMemes |
| Dicas para ler, ver e ouvir | Para ler - Obituário de Tony Brooks, que morreu na semana passada, no site da BBC. ............... Para ver - Nos 40 anos da morte de Gilles Villeneuve (8 de maio de 1982 em Zolder, na Bélgica), um pouco da história do canadense contada pelo jovem Antti Kalhola, finlandês que ficou famoso nas redes por edições maravilhosas de vídeos sobre automobilismo. ............... Para ouvir - "Faster", de George Harrison, foi lançada em 1979 depois de seu ano sabático viajando para ver um monte de GPs de F-1, em 1977. | | | |
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