| | TV Globo/Zé Paulo Cardeal |
| | | | Notas de falecimento | Faleceu na madrugada da última sexta-feira, nesta capital, o Sr. Humor. Humor era divertido, engraçadíssimo, espirituoso e, embora isso pareça muito fora de moda, respeitoso. E corajoso, também. Humor enfrentou a ditadura militar. Com humor. Muitas vezes, a ditadura não entendeu o humor de Humor, e sem saber o que fazer com ele, nada fez. Humor, então, riu deles. Faleceu também na madrugada da última sexta-feira, nesta capital, o Sr. Comediante. Comediante levou milhões de pessoas às gargalhadas durante mais de seis décadas fazendo comédia. No cinema, no teatro, na TV. Comediante criou personagens às centenas. Felizmente, nenhum deles morreu com o passamento do Sr. Comediante. Faleceu igualmente na madrugada da última sexta-feira, nesta capital, o Sr. Entrevistador. Entrevistador entrevistou mais de vinte mil pessoas. Delas extraiu verdades e mentiras. Lágrimas e sorrisos. Memórias e esperanças. Histórias banais e extraordinárias. Sinceridade e cinismo. Aflição e alívio. Entrevistador entrevistou quem queria e quem não queria. Conhecidos e anônimos. Bandidos, ladrões, políticos, reis, rainhas, príncipes, princesas, atores, atrizes, presidentes, governadores, prefeitos, garis, astronautas, sambistas, vedetes, atletas, músicos, cantores, jornalistas, bombeiros, policiais, operários, empresários, homens, mulheres, crianças, gays, trans, velhos, novos, pretos, brancos, amarelos, indígenas, alienígenas. Entrevistador deixou que todos nos dissessem alguma coisa. Quando não tinham o que dizer, ou não conseguiam, ele mesmo falava. Entrevistador silenciou quando sua voz era mais necessária. Faleceram da mesma forma na madrugada da última sexta-feira, nesta capital, os Srs. Ator, Diretor, Dramaturgo, Escritor, Jornalista, Cronista, Apresentador, Músico, Radialista, Comentarista Esportivo, Analista Político e Artista Plástico. De acordo com as autoridades, viviam todos no mesmo endereço e faleceram no mesmo local e horário, enquanto a cidade dormia silenciosa. Não deu tempo de ninguém mandar um beijo para eles. | Semana agitada: quem vai para onde? | | Fernando Alonso na Aston Martin em 2023: bola de neve na F-1 | Imagem: Clive Rose/Getty Images |
A primeira semana de férias da F-1 começou cedo, na segunda-feira, com o anúncio de que Fernando Alonso tinha fechado com a Aston Martin para o lugar de Sebastian Vettel. Como naquelas clássicas cenas de pecinhas de dominó sendo derrubadas, as notícias foram se sucedendo. Acompanhe a linha do tempo, para não se perder. Ela começa na segunda-feira e termina no domingo. Depois eu volto para concluir: - Segunda, 1/8: Pela manhã, bem cedinho, pingam nas redes sociais (é só por elas hoje que todos falam) dos envolvidos as imagens e as primeiras declarações. Quatro dias depois de Vettel anunciar a aposentadoria, outro veterano era confirmado para seu lugar. Alonso, 41 anos recém-completados, deixaria a Alpine para correr na Aston Martin em 2023.
- Otmar Szafnauer, diretor da Alpine que chegou à equipe no começo do ano vindo da -- adivinhem -- Aston Martin, convoca um pequeno grupo de jornalistas ingleses no mesmo dia para dar algumas explicações. A saber: Alonso tinha lhe garantido no domingo na Hungria que "não tinha assinado com ninguém"; a equipe francesa negociava sua permanência, mas tinha oferecido apenas um ano de contrato, com opção de mais um vinculada ao seu desempenho no campeonato; Alonso queria mais, pelo menos a garantia de dois anos com opção de mais um (o que acabou conseguindo na Aston Martin); Szafnauer se disse surpreso com a notícia: "Soube pela imprensa, tentei falar com ele, mas não estou conseguindo, parece que está num barco numa ilha grega passando o verão"; à pergunta se o substituto do espanhol seria Oscar Piastri, australiano de 21 anos que ganhou a F-2 no ano passado como integrante do programa de desenvolvimento de pilotos da Alpine, o dirigente disse ter ouvido falar, na Hungria, "que ele e seu empresário [o ex-piloto Mark Webber] andaram conversando com a McLaren" e que "eles podem considerar as opções que quiserem, mas Oscar tem contrato [conosco]".
- Terça, 2/8, pela manhã: Nas redes sociais da Alpine pisca a informação, curta e grossa: "Nossa dupla de pilotos de 2023 será formada por Esteban Ocon e Oscar Piastri". Seguem-se algumas "aspas", como a gente diz no jornalismo: uma frase aqui e outra ali de gente da equipe falando sobre o novo contratado. Mas nenhuma declaração do piloto, o que causa certa estranheza.
- Terça, 2/8, depois do almoço: Piastri, em sua conta no Twitter, publica mensagem chocante: "A Alpine disse sem meu consentimento que eu tenho um contrato para 2023. Isso está errado. Não vou correr pela Alpine no ano que vem". Imediatamente associa-se a negativa às conversas que o piloto vinha tendo com a McLaren. Para se chegar à conclusão óbvia de que ele assinou com a equipe papaia para o lugar de Daniel Ricciardo -- que tem contrato até o fim de 2023, mas vem fazendo um campeonato ruim o bastante para ter sua posição no time sendo colocada em dúvida.
- Terça, 2/8, fim da tarde: Alonso posta um vídeo na sua conta no Instagram sem dizer uma única palavra, apenas sorrindo e mostrando que estava em Oviedo, na Espanha, e não num iate nas ilhas gregas.
- Quarta, 3/8: Em meio a um silêncio sepulcral de todas as partes envolvidas -- Alpine, Piastri, Webber, McLaren, Ricciardo --, a Williams confirma a permanência de Alexander Albon na equipe com um contrato de "vários anos". O tailandês brinca e, no Twitter, informa: "A Williams disse com meu consentimento que tenho um contrato para 2023. Isso está certo. Vou correr pela Williams no ano que vem". Todo mundo acha engraçado e Piastri dá uma curtida no tuíte.
- Quinta, 4/8: Boatos circulam na imprensa inglesa dando conta de que o Conselho de Reconhecimento de Contratos (CRB) da FIA teria sido acionado pelas partes envolvidas. Alpine insiste que tem garantias legais de que Piastri é seu piloto. Mas ninguém fala nada oficialmente.
- Sexta, 5/8: Ainda na imprensa inglesa, o caso esquenta: a McLaren teria comunicado oficialmente a Daniel Ricciardo que ele estaria fora dos planos da equipe para 2023. O piloto, por sua vez, já teria iniciado conversas com a Alpine para voltar ao time francês -- que defendeu em 2019 e 2020 quando ainda se chamava Renault. Ninguém confirma nada.
- Domingo, 7/8: Fontes não identificadas na Alpine, citadas por sites ingleses, teriam dito que a equipe segue confiante de que Piastri será seu piloto em 2023 e que os documentos foram enviados ao CRB, o órgão da FIA que examina contratos. E que se ganhar a disputa, não terá problema nenhum em receber o australiano, ainda que ele tenha virado às costas a quem investiu em sua carreira nos últimos quatro anos. "Somos todos profissionais", teria dito a fonte.
Casos como este na F-1 são raros, mas acontecem sempre, como a gente costuma brincar. Em 2004, Jenson Button, então piloto da BAR, assinou com a Williams para voltar ao time em 2005 — ele fez sua estreia na F-1 correndo para Frank Williams em 2000. Mas a equipe que ele defendia tinha uma opção sobre seu contrato e a havia exercido dentro do prazo. Jenson bateu o pé. Apesar do grande ano que fizera a BAR em 2004, com o vice-campeonato entre os construtores, queria sair porque apostava na parceria entre Williams e BMW para ganhar corridas e títulos, talvez. O CRB foi acionado e deu ganho de causa à BAR. O piloto, então, enfiou a viola no saco, demitiu seu estafe, e ficou onde estava. Na boa, porque não era de arrumar confusão. No fim do ano seguinte, a Honda, que fazia os motores da BAR, comprou a equipe. Em 2006, Button venceria seu primeiro GP na Hungria, para deleite dos japoneses. Defendeu a Honda por mais duas temporadas, 2007 e 2008, anos de carros ruins e problemáticos. No final de 2008, de supetão, a Honda anunciou que estava deixando a F-1. Foi um corre-corre danado; a F-1 estava ameaçada de ficar com apenas nove times para 2009, um vexame. Ross Brawn, que ocupava o cargo de diretor-técnico da equipe japonesa, acabou comprando seu espólio pelo preço simbólico de uma libra esterlina — menos do que R$ 10 em dinheiro de hoje. Bateu à porta da Mercedes e pediu uns motores. Fundou a Brawn GP. Depois, foi atrás de pilotos. Button já estava lá. O outro também seguia à mão, Rubens Barrichello. A Brawn assustou o mundo nos primeiros testes em Barcelona. Ross tinha feito um carro extraordinário. O time fez a primeira fila na prova de abertura da temporada, na Austrália. Jenson venceu seis das sete primeiras corridas do campeonato. Conquistou o título em Interlagos. No fim do ano, a Mercedes comprou a equipe de Ross Brawn, pintou os carros de prateado e o resto a gente sabe o que aconteceu. Tudo isso para dizer que se Piastri se sentar num carro da Alpine em 2023 ninguém deve se surpreender. Button fez muxoxo em 2004, mas respeitou as decisões das instâncias superiores e permaneceu na BAR. Cinco anos depois, era campeão por uma equipe que já tinha outro nome mas, na essência, era a mesma que insistiu em segurá-lo lá atrás. Seja como for, nenhum nome ainda não citado vai aparecer nessa ópera bufa envolvendo Piastri, Alpine, McLaren e Ricciardo. São dois carros para dois pilotos, e eles estarão sentados nos dois em 2023. Se a Alpine fizer valer o que acredita ter em mãos para reter Piastri, Ricciardo ficará na McLaren. Se Oscar conseguir provar que seu contrato com a McLaren tem validade, Daniel volta para o time francês. | | | |
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