| | Hamilton e Schumacher: 30 anos vencendo | Divulgação/Mercedes |
| | | | Temporada pode encerrar três décadas de domínio Schumi-Hamilton | O Mundial de Fórmula 1 volta no último final de semana deste mês na Bélgica. Incluindo a corrida de Spa, serão nove etapas até o encerramento da temporada. São nove chances que Lewis Hamilton tem para vencer pelo menos um GP e manter uma escrita que já dura três décadas. Desde 1992, todos os campeonatos tiveram na sua lista de vencedores dois pilotos: o inglês da Mercedes e Michael Schumacher. Se Lewis não vencer, 2022 marcará o fim da sequência construída pelos únicos heptacampeões da história. Michael ganhou pela primeira vez em 1992, na Bélgica, quando guiava para a Benetton. Voltou a vencer em 1993, apenas uma corrida, e assim foi, ganhando todos os anos até sua primeira aposentadoria, no final de 2006. A lista merece ser esmiuçada: oito vitórias em 1994 (quando foi campeão pela primeira vez), nove em 1995 (ano do bi), três em 1996 (na primeira temporada pela Ferrari), cinco em 1997, seis em 1998, duas em 1999 (quando quebrou a perna num acidente em Silverstone, ficando fora de várias provas), nove em 2000 (primeiro dos cinco títulos seguidos pelo time de Maranello), outras nove em 2001, 11 em 2002, seis em 2003, 13 em 2004, uma em 2005 e sete em 2006. A passagem do cetro para Hamilton não aconteceu na pista. Não naquele ano, pelo menos. Simbolicamente, aconteceria no final de 2012. Michael ficou três anos sem correr e voltou em 2010 para defender a Mercedes — marca que, em 1991, financiou sua estreia na F-1 ao alugar um cockpit na Jordan. Quando decidiu parar de vez, seu substituto nos carros prateados da equipe alemã foi justamente Lewis — o mais digno sucessor que poderia escolher. Hamilton estreou em 2007 logo depois de Schumacher pendurar o capacete pela Ferrari. Garoto prodígio preparado pela McLaren desde os 13 anos de idade, o inglês ganhou seu primeiro GP no Canadá. Foi a primeira das quatro vitórias conquistadas naquele ano, em que disputou o título com Kimi Raikkonen e Fernando Alonso até a última prova do campeonato, em Interlagos. O finlandês foi o campeão, com a Ferrari. Alonso e Hamilton, companheiros na McLaren, terminaram empatados, um ponto atrás. O espanhol pegou suas coisas e foi embora. Acusou o time inglês de favorecer o novato ao longo do Mundial e voltou para a Renault. Lewis seria campeão já em seu segundo ano de F-1, em 2008, com cinco vitórias no bolso. Pela McLaren, ganharia mais duas corridas em 2009, três em 2010, três em 2011 e quatro em 2012. Aí foi para a Mercedes, convencido pelo ex-piloto Niki Lauda, que ocupava um cargo de direção no time alemão. No primeiro ano, apenas uma vitória, na Hungria. Chegou a desanimar. Na época, numa entrevista, disse que já não esperava mais ser um multicampeão na categoria. "Já estou há cinco anos sem ganhar um título. É muita coisa e nenhum dos que foram campeões várias vezes ficaram tanto tempo assim sem disputar títulos." Ledo engano... Em 2014, as coisas começaram a mudar para Hamilton, com o início da era híbrida da F-1 — motores turbo a combustão acoplados a unidades elétricas. A Mercedes abriu, ali, o mais longo período de hegemonia na história da categoria, ganhando oito taças consecutivas de Construtores e sete de Pilotos. Lewis, então, passou a acumular vitórias e títulos: foram 11 em 2014 (campeão pela primeira vez com a equipe), dez em 2015, dez em 2016 (ano em que perdeu o título para o companheiro Nico Rosberg), nove em 2017, 11 em 2018, 11 em 2019, 11 em 2020 e oito em 2021. Foi só no ano passado que, finalmente, um piloto de outra equipe o derrotou: Max Verstappen, da Red Bull. E numa decisão, em Abu Dhabi, que pode ser definida no mínimo como polêmica — para não dizer roubada, mesmo. Foram 194 vitórias da dupla Schumacher-Hamilton desde 1992, ininterruptamente. Lewis venceu 103, Michael acumulou 91 triunfos. Juntos, conquistaram 14 títulos e foram vice-campeões seis vezes. Parece não haver dúvidas de que estamos falando dos dois maiores nomes da história da F-1 em todos os tempos. Hamilton tem até o dia 20 de novembro, em Abu Dhabi, para incluir um 31º campeonato nessa lista de temporadas em que ele ou Schumacher ganharam pelo menos uma vez. Não está fácil, mas a Mercedes já vê, sim, alguma luz no fim desse túnel que parecia tão escuro quando começou o Mundial. O inglês vem de cinco pódios consecutivos. Verstappen, o líder disparado na classificação, chega à reta final do campeonato podendo correr em "modo de segurança" — seus 80 pontos de vantagem para o segundo colocado, Charles Leclerc, fazem com que nem precise vencer mais até o fim do ano para ser campeão de novo ainda que o monegasco ganhe todas elas, incluindo a Sprint de Interlagos. Com o título de 2022 virtualmente decidido, a busca de Hamilton por uma vitoriazinha, que seja, tem tudo para ser uma das atrações do campeonato até o fim do ano. Minha aposta? Acho que ganha. E, se conseguir, vai festejar como se fosse a primeira da vida. PUBLICIDADE | | | | | Um dos carros do tetracampeão Bourdais: histórico | Divulgação/Sotheby's |
| | | | História à venda | Uma das maiores equipes da história do automobilismo americano, a Newman-Haas deixou saudades e vitórias quando fechou as portas, em 2012. Criada pelo ator Paul Newman e pelo empresário Carl Haas (que não tem nada a ver com a Haas da F-1 de hoje exceto a coincidência do sobrenome), ganhou nada menos do que 108 corridas nas séries chamadas genericamente de Indy (houve uma cisão que deu em IRL e ChampCar durante um tempo, com dois campeonatos disputados simultaneamente, mas deixemos isso de lado) e oito títulos — com Mario Andretti em 1984, seu filho Michael em 1991, Nigel Mansell em 1993, Cristiano da Matta em 2002 e Sébastien Bourdais de 2004 a 2007. Quatro brasileiros correram pelo time, que transbordava carisma e competitividade: além de Cristiano, Christian Fittipaldi, Bruno Junqueira e Roberto Moreno vestiram seus macacões. Paul Newman morreu em 2008. Carl Haas, em 2016. Deixaram um enorme acervo de carros, troféus, macacões, capacetes, miniaturas e obras de arte. Tudo isso vai a leilão no dia 29 de outubro de Sotheby's. Os lotes disponíveis estão aqui. É uma coleção e tanto. Será desfeita, mas pelo menos não vai ficar tomando poeira em algum galpão abandonado. | | | Hill com Villeneuve na Hungria em 1997: muito perto | Oliver Multhaup/picture alliance via Getty Image |
| | | | Hill: há 25 anos, a 'quase-vitória' na Hungria | Fez 25 anos na semana passada. No dia 10 de agosto de 1997, a F-1 esteve perto de ver uma das maiores zebras de sua história. No GP da Hungria, Damon Hill perdeu a corrida na última volta, com um problema mecânico no carro da modesta Arrows. Foi quase uma fábula. Campeão de 1996, Hill foi inexplicavelmente dispensado pela Williams no final da temporada e só arranjou um lugar para correr no ano seguinte na equipe nanica, que havia sido comprada pelo escocês Tom Walkinshaw. Levou o número 1 a Leafield e voltou a enfrentar as agruras de um time pequeno — ele que tinha estreado pela quase falida Brabham em 1992. Nas oito primeiras corridas do ano, zero ponto. Só na nona etapa um sexto lugar em Silverstone deu a Hill alguma esperança de fazer alguma coisa a bordo do A18, um carro projetado por Frank Dernie e aprimorado por John Barnard. Eram duas grifes da época nas pranchetas, mas havia alguns problemas crônicos com o automóvel, o maior deles a escassa potência do motor Yamaha. Para se ter uma ideia de como a Arrows era lenta, no primeiro grid de 1997 Hill se classificou em 20º, a mastodônticos 5s347 do pole-position Jacques Villeneuve — da mesma Williams que o havia dispensado. Abandonou antes da largada. O carro quebrou indo para o grid. Deu dó de ver um campeão naquela situação. E foi assim pelos meses seguintes. Aí chegou o GP da Hungria. A Arrows era uma das quatro equipes que usavam os pneus japoneses da Bridgestone que, por alguma razão, naquela corrida tiveram uma performance bem melhor que os Goodyear da concorrência. Damon, surpreendendo todo mundo, se classificou em terceiro no grid — apenas 0s372 atrás do pole Michael Schumacher, da Ferrari. Só aí já seria uma façanha digna de nota. Mas o sonho de uma tarde de verão europeu não parou no grid, não. Na largada, Hill passou o ex-companheiro Villeneuve, que dividia a primeira fila com Schumacher, e partiu para cima do alemão. Na décima volta, deixou o ferrarista para trás. E desapareceu. Jacques logo ganhou a posição de Schumacher e estava em segundo no fim da prova, quase 34 segundos atrás de Damon. Não tinha chance nenhuma de vitória e já se conformava com um lugarzinho no pódio que seria muito importante na briga pelo título. O que se via em Budapeste era simplesmente inacreditável: Hill, o campeão humilhado, ganhando uma corrida e massacrando os adversários a bordo de um carro que, até ali, tinha marcado um único ponto na temporada. E isso num dia sem chuva, acidentes, abandonos dos favoritos, nada. Era um verdadeiro milagre. Mas, aí, o sapatinho de cristal quebrou. De repente, o carro branco começou a ficar lento. Lento demais. Faltavam duas voltas para o final. Villeneuve foi avisado pelo rádio. Os tempos de volta de Hill caíram de 1min23, em média, para 1min31 e, depois, 1min40. Jacques acelerou. A menos de 2 km da bandeira quadriculada, menos de meia volta, Damon viu o canadense se aproximar. Balançou o carro, como se tentasse acordá-lo. Villeneuve passou pela grama. Ganhou a prova. Hill ainda conseguiu se arrastar até o fim e terminou em segundo. Um vazamento de fluido no sistema hidráulico do acelerador eletrônico, depois da quebra de um anel de vedação, foi a explicação da Arrows para a tragédia. Mas Damon não enxergou assim. Apesar da crueldade do destino, chegou no pódio sorrindo e foi aplaudido de pé por todos no autódromo húngaro. Antes, assim que saiu do carro, recebeu o mais carinhoso abraço que Villeneuve já deu em um colega de profissão. As voltas finais da prova podem ser vistas aqui, narradas pelo impagável Murray Walker, da TV inglesa. No ano seguinte, na Bélgica, Hill venceria pela última vez na carreira. Pela Jordan — mais um time pequeno em sua vida. Outro conto de fadas na trajetória de um dos pilotos mais gentis e amáveis que já passaram pela F-1. Mas essa história fica para outro dia. | Dica de leitura | Lewis Hamilton foi para a capa da última edição da "Vanity Fair". Ótima entrevista que traz algumas curiosidades e revelações sobre o heptacampeão mundial, a saber: ele não gosta de dirigir, se irrita com o trânsito, pensou em parar depois da última corrida de 2021 em Abu Dhabi e se sente sozinho na F-1. Lewis fala do pai, da mãe, da madrasta, de Niki Lauda, dos tempos de McLaren, da decisão de sair da aba de Ron Dennis para correr na Mercedes, da infância, de racismo, de inclusão, de como virou vegano (e seu cão Roscoe, idem), de tudo um pouco. E diz que ainda tem muito gás para continuar correndo. Vale muito a pena ler. O link aberto está aqui. | | | |
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