Meu filho mais velho vive em Londres há trinta e poucos anos. Minha única filha também. Foram crianças para lá junto com a mãe. A mãe voltou e eles ficaram. Têm, faz tempo, cidadania, filhos, amigos, trabalho e até time de futebol. Marina, professora primária em uma escola de Camden Town, não é muito chegada no esporte bretão, mas simpatiza com o Arsenal, por morar a vida inteira lá no norte de Londres (poderia ser Tottenham mas, por solidariedade ao irmão, é Gunner), e também com o Leeds, pequeno time do norte do país, de quem o marido, nascido no pedaço, é torcedor. Ser pai e avô à distância — de quatro netos (três meninas, duas já pré-adolescentes, e um jovenzinho de três anos) — é barra pesada. O sentimento de frustração, de impotência, de solidão, é enorme. De um tempo para cá, com o celular e os aplicativos de vídeo, dá para vê-los, conversar e matar um pouco a imensa saudade. Falta o calor do abraço, do beijo, da conversa tête-à-tête, do olhar nos olhos, da lágrima derramada, do cheiro e do perfume do corpo. Mas aí é que entra o futebol na história. Para diminuir a distância, aproximar as conversas, de alegria e tristeza, de choro ou de lamento, decidi torcer pelo time do filho. Como o America, minha grande paixão, não passa as suas partidas na televisão, não joga mais na Série A e só me faz passa vergonha e sofrimento, caiu do céu a decisão de torcer como um Gunner, ou seja, como um torcedor fanático do Arsenal. Que, em comum com o America, é vermelho e branco. Feliz coincidência! A decisão tomada nos aproximou demais. Comentamos os jogos, antes, durante e depois. Comemoramos à distância as vitórias e lamentamos, como acontecia nos últimos anos, as frustrantes e vergonhosas derrotas. E hoje? Vamos ganhar? O time tem alguns desfalques, tomara que não! O estádio está cheio? Ganhar do City, não sei, não! Está fazendo muito frio aí? E chovendo também? E assim vamos tocando. Coloco sempre na roda o Pedro, filho mais novo que mora por aqui. Trocamos mensagens, fotos, vídeos. E agora, com cinco vitórias seguidas e jogando o fino, principalmente pela presença de três brasileiros, os 'Gabriéis' Jesus, Martinelli e Magalhães, estamos mais felizes que pinto no lixo. Confesso, até, que estamos meio prosas! Assim tem sido nossa vida nas últimas semanas. O abraço apertado, o beijo na face, mando via zap. Não é a mesma coisa, mas nos deixa emocionados. É o que temos para o momento. Viva o futebol! E um beijão, querido filho João Castelo Branco. Go Gunners! PUBLICIDADE | | |