Seitaro Miyashiro não veio no Kasato Maru, o navio que atracou no porto de Santos em 1908, com os primeiros 781 imigrantes japoneses de três famílias. Chegou em 1957, com 28 anos, e imediatamente foi encaminhado para uma colônia agrícola, nos arredores da Baixada Santista, onde pegou pesado na roça. Ganhou o nome de Paulo para poder casar nos anos 1960, porque o padre exigiu que fosse batizado para realizar a cerimônia. E é desta forma que é conhecido por toda a sua clientela: Seu Paulo massagista. Sim, Seu Paulo aprendeu com os mais velhos a arte da massagem. Pratica espécie de do-in com shiatsu, entremeadas com pitadas e falas de Seicho-no-ie. E desde que largou a agricultura e se mudou para a capital paulista virou requisitado massagista. Vai de casa em casa. Aos 83 anos, continua firme e mantém muitos clientes. Eu sou um deles. Vira e mexe falamos um pouco de futebol. Ele tem adoração pelo Zico, o Deus do futebol japonês. Zico foi para o Japão em 1991, já com 38 anos, e jogando pelo Kashima Antlers na J-League contribuiu e muito para fomentar o esporte no país. Virou ídolo e até hoje é venerado pelos torcedores japoneses. Depois de pendurar as chuteiras, virou dirigente do clube, onde permaneceu até o ano passado. Uma história que durou 30 anos. Zico é estátua na porta do estádio do clube. Seu Paulo não acompanha muito futebol, mesmo assim cita Rui Ramos, brasileiro que chegou a jogar pela seleção japonesa, e também Morais, atacante que se mandou para o Japão na mesma época de Zico, e ficou por lá dando aulas em escolinhas de futebol. Nessa quarta-feira, enquanto me fazia massagem, Seu Paulo e eu assistimos à vitória do Japão sobre a Alemanha. Jamais o vi tão alegre e feliz, e olha que está sempre sorrindo. Aplaudimos as defesas do Shuichi Gonga, gritamos juntos no gooooll de virada do Asano! Dei parabéns pela vitória histórica! Até agora é o meu momento mais emocionante da Copa. Obrigado, Seu Paulo! PUBLICIDADE | | |