Esta quarta-feira, 19 de outubro, marca o centenário do nascimento de Dias Gomes. Não sem motivo, várias homenagens estão programadas para lembrar um dos maiores dramaturgos e autores de televisão do país. Dias Gomes morreu em 19 de maio de 1999, em São Paulo. Tinha 76 anos. Ele estava em um táxi, que fez uma conversão proibida na avenida 9 de Julho e foi atingido por um ônibus. Os mais jovens talvez não tenham noção da importância de Dias Gomes. Suas peças, entre as quais "O Pagador de Promessas", "O Berço do Herói", "Odorico, o Bem Amado" e "O Santo Inquérito", centradas no cotidiano da classe trabalhadora, ajudaram a mostrar a face de um Brasil atrasado, fincado no clientelismo político e na hipocrisia religiosa. Muito censurado, Dias Gomes migrou para a televisão no final dos anos 1960, tornando-se um dos autores de maior prestígio da Globo. Ali escreveu novelas como "Bandeira 2", "O Bem Amado", "O Espigão", "Saramandaia" e "Roque Santeiro", entre outras. A primeira versão desta última, de 1975, foi proibida pela Censura no dia da estreia. Dias Gomes foi casado com Janete Clair, também uma profícua autora de novelas. Juntos com Boni e Daniel Filho, os dois têm papel fundamental na transformação da Globo na maior produtora de novelas do país. O dramaturgo foi por muitos anos militante do Partidão (o Partido Comunista Brasileiro) e fala muito de sua trajetória na ótima autobiografia "Apenas um Subversivo" (Bertrand Brasil, R$ 59), que acaba de ganhar uma segunda edição. O título foi dado em referência irônica ao xingamento recebido quando sua peça "O Berço do Herói" foi censurada por Carlos Lacerda, durante a ditadura militar: "Nelson Rodrigues é só pornográfico. Dias Gomes é pornográfico e subversivo!" Como informa o texto da editora, "é também uma ironia que o autor faz consigo próprio, e essa capacidade de falar de si de forma crítica, sarcástica até, revela-se uma de suas grandes virtudes." Outra leitura excelente sobre Dias Gomes é o livro "Herói Mutilado" (Companhia das Letras, R$ 58), de Laura Mattos. A jornalista analisa o impacto da censura sobre três obras do autor: "O Berço do Herói", em 1965, a proibida "Roque Santeiro", baseada nesta peça, em 1975, e a versão que foi ao ar, em 1985. A ironia é ver que, apesar da redemocratização do país a partir de 1985, a censura continuou atuando até 1988. Ainda nesta quarta-feira, às 20h, o Canal Brasil homenageia Dias Gomes com a reexibição da versão cinematográfica de "O Pagador de Promessas", dirigido por Anselmo Duarte. Foi o primeiro filme brasileiro a ser indicado ao Oscar e até hoje o único a ter ganho a Palma de Ouro em Cannes. Outra homenagem a Dias Gomes será aberta ao público nesta quinta-feira (20) no Itaú Cultural, em São Paulo. Trata-se da mostra "Ocupação Dias Gomes", com cerca de 170 itens, divididos em oito núcleos que mostram toda a vida, produção e criações dele - desde o nascimento, passando pelo teatro, rádio, cinema e televisão. Em uma parceria com a Globo e arquivos da família, a "Ocupação Dias Gomes" exibe cerca de 50 fotos e 10 vídeos com depoimentos de artistas, entrevistas dele próprio, trechos das novelas, textos de pesquisa, de ópera, de peças, roteiros e adaptações - alguns originais -, bilhetes e cartas de amigos, como Jorge Amado e Ferreira Gullar, mensagens de telespectadores, pôsteres, programas e o fardão que usou ao ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. No Rio, Dias Gomes foi homenageado pela Prefeitura ganhando o nome de uma rua no bairro da Saúde, próxima ao Museu de Arte do Rio. Ele merece. PUBLICIDADE | | |