Com habilidade em criar conteúdos virais e um discurso com apelo aos desiludidos da política tradicional, Pablo Marçal (PRTB) deixou de ser apenas uma presença nas redes para sacudir a eleição da maior cidade do país. A forte agressividade contra os adversários e a multiplicação de cortes de internet fizeram Marçal crescer nas pesquisas e aparecer embolado, cabeça a cabeça, com Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela liderança. Há, contudo, um lado pouco conhecido à margem da narrativa de sucesso da trajetória do ex-coach. Em 2005, Marçal ficou preso por dois dias na sede da Polícia Federal em Goiânia. Ele foi condenado em primeira instância a quatro anos e cinco meses de prisão por furto qualificado, em abril de 2010, mas não chegou a cumprir a pena, que prescreveu. O UOL apurou as circunstâncias e evidências do processo que levou à condenação de Marçal e mais oito pessoas, em 2010, sobretudo para trazer à luz a extensão do envolvimento do agora candidato com a quadrilha. Com auxílio de um advogado, o repórter Pedro Canário obteve o desarquivamento da ação penal e cópia da íntegra do processo, incluindo os documentos e provas anexadas, como os áudios dos grampos da Polícia Federal sobre a quadrilha. Canário e os colunistas Natália Portinari e Aguirre Talento dissecaram mais de 5.000 páginas dos autos, analisaram os anexos para produzir a reportagem. Ela reconstitui a partir dos grampos telefônicos os dias que antecederam a prisão de Marçal, responsável por selecionar e elaborar lista de e-mails de potenciais vítimas para aplicação de golpe bancário. A reportagem conta as idas e vindas da versão de Marçal na fase de inquérito policial e no processo. Marçal confessou sua participação no esquema antes de ser solto. Depois, já respondendo como réu, passou a sustentar que só fazia manutenção dos computadores da quadrilha. O destino de Marçal naquele processo, contudo, foi selado pelo acusado de chefiar a quadrilha, que atribuiu a ele a captura dos e-mails. O conteúdo dos grampos corroborou. Pablo Marçal escapou da condenação da quadrilha, beneficiado por uma questão processual. Ele era menor de 21 anos à época dos crimes e por isso, no momento do julgamento, em 2010, o crime já estava prescrito. Foi condenado apenas por furto qualificado. Nos últimos dias, o ex-coach tem dito que o próprio juiz escreveu na sentença que ele não lucrou com o esquema. Não é verdade. "O motivo da infração é o ganho fácil de dinheiro", escreveu o juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, na página 180 da sentença, ao condená-lo, em 30 de abril de 2010. LEIA A REPORTAGEM NO UOL PRIME PUBLICIDADE | | |