"Um belo dia, um casal me falou dessa comunidade virtual onde organizam as festinhas particulares. O mundo liberal é muito fechado. Tem todo um cuidado pra que as pessoas não se exponham, porque a sociedade ainda julga muito. Existem comunidades fortes do mundo liberal aqui em São Paulo, mas algumas reúnem um povo meio estranho, porque são mais abertas, qualquer um meio que pode entrar. A que eu frequento é mais fechada. Tem de ter um padrinho pra ti entrar. Um padrinho que te convida. Esse padrinho é responsável por ti. Se tu aprontar alguma coisa, se estiver só de curioso, por exemplo, tu vai ser excluída e ele também. Pra ser aceita, tu tem de ter quatro "certificadores" — perfis reais que te conhecem para garantir que tu não é um perfil fake. Pra ser aceito não pode ser feio nem muito velho e nem muito gordo. Em resumo, tem de ser apetitoso. A administração do site da comunidade faz uma investigação a cada cinco meses e tira os perfis que não estão sendo movimentados, que não têm certificadores, não postam, não interagem —que não são de praticantes, mas de gente que está lá só de curioso. Todo ano eles organizam uma festa. Fecham um hotel chiquérrimo aqui em São Paulo só para a prática. Vem gente do Brasil inteiro e também de fora. Ninguém pode usar celular, é super controlado. No exterior, eles colocam até adesivo nas câmeras. Agora, tu ir numa balada liberal e tu entrar no mundo liberal é muito diferente. Nessa comunidade virtual que eu entro tu interage com 15 000 casais e singles do mundo inteiro. Hoje eu tenho um parceiro mais fixo. Então eu tenho dois perfis lá: um single (solteiro) e outro de casal, com ele. No fim de semana passado, a gente foi com dois outros casais para Ubatuba. Advogado com fonoaudióloga e casal sócio em uma clínica de oftalmologia. Meu parceiro é do mercado econômico. Em geral, as mulheres são levadas pelos homens, dificilmente a iniciativa parte delas. Mas quem entra só para agradar o parceiro acaba não ficando, sai logo. Na casa, que era linda, toda construída no meio das pedras, ficaram dois casais no mesmo quarto e outro ficou num quarto separado. Mas as práticas normalmente nem acontecem na hora de dormir. Acabam acontecendo durante o dia, numa brincadeira aqui e ali, com todo mundo pelado ou de lingerie sexy. No caso dessa viagem, as meninas não eram muito de mulher e os homens, tirando o meu parceiro, que é bi, eram todos hiper-mega-heteros. Claro que nesse tipo de viagem está todo mundo interessado na mesma coisa, mas o clima de parceria às vezes é melhor que o sexo — a gente riu o fim de semana inteiro. Teve uma hora que o meu parceiro estava com uma das mulheres no quarto e um dos homens chegou pra mim e falou: "A gente está numa praia particular e está todo mundo transando no quarto. Vamos lá pra fora?". Saímos pelados, debaixo da chuva, e transamos encostados nas pedras. Quando acabou, vi que na ponte que passa em cima da casa tinha um caminhão que diminuiu a velocidade. Achei que o motorista tinha me visto pelada. Acenei pra ele, balancei o peito para ele, eu estava muito feliz. Meu parceiro ria de se acabar. |