Tenho muita vontade de me apaixonar. Isso era uma coisa que eu queria viver ainda. Depois que me separei, voltei a periguetar. A primeira balada que eu fui, estava careca, de peruca. Aí apareceu um boy gato, lindo, maravilhoso. No dia seguinte, ele mandou mensagem. Marcamos de nos ver na quarta-feira e ele pediu pra ver o meu Instagram. Tinha todas as minhas fotos oncológicas lá, eu contando do meu tratamento. Óbvio que ele viu. Ficou aquele silêncio uma tarde inteira. Na terça feira, ele mandou mensagem dizendo que o dia seguinte estava começando a ficar muito corrido. Na quarta, escreveu: "Tive um problema aqui, talvez seja melhor deixar pro fim de semana". Ainda cheguei a falar pra ele: "Olha, eu estou careca mesmo, mas isso não me faz menos mulher". Ele: "Imagina, não é por isso, eu realmente tenho um compromisso". E nunca mais apareceu, claro. Eu entendo isso. Acho muito desconfortável pensar que morreu, acabou. Não consigo acreditar nisso. Mas também não sou religiosa, embora minha irmã seja missionária católica e meu pai seja evangélico. Se for "morreu, acabou", então não adianta muita reflexão, não vou sentir nada — acabou e pronto. Mas acho que pode haver outro tipo de existência. Um bebê, quando está dentro do útero, pensa que só existe aquela vida. Só quando sai é que descobre que tem outra. Quem sabe morrer é igual a sair do útero? Se tiver outra existência, vai ser interessante, né? |