Foi em 2018, com a ascensão de Jair Bolsonaro que a pauta eleitoral passou a ser dominada pela discussão moral e de costumes. Temas como a legalização do aborto, liberação das drogas, redução da maioridade penal e ampliação do uso de armas ganharam força naquele ano, atravessaram o governo de Jair Bolsonaro e continuaram presentes na campanha encerrada na semana passada. Pesquisas atestam que a opinião pública brasileira sempre teve um viés conservador nos costumes. À exceção da ampliação do uso de armas, que divide o país, a imensa maioria da população é a favor da redução da maioridade penal, contra o aborto e a legalização das drogas. Ocorre que essas opiniões não se refletiam no autoposicionamento ideológico dos entrevistados. "Embora tivessem opiniões conservadoras, a maioria deles, quando convidados a se auto-definir politicamente, evitavam se dizer de direita", afirma Nunes. Isso mudou com o aparecimento em cena de Jair Bolsonaro. Em 2018, quando o ex-capitão concorreu à presidência da República, o país assistiu a uma "explosão" da direita. Na série histórica do Eseb, a porcentagem de pessoas que declarou se posicionar nesse campo atingiu o recorde: 43%. Quatro anos depois, essa taxa história se mantém no mesmo patamar, de 40%. A pesquisa da Quaest reforça a ideia de que Jair Bolsonaro não inventou o conservadorismo de costumes no Brasil — foi antes a sua expressão antropomórfica. O ex-capitão tirou a direita do armário —e ela agora não depende dele para se fazer ouvir. |