Ela pode ocorrer em questão de dias, se, por exemplo, a criança tiver um quadro de diarreia acompanhada de vômito intenso. Isso acelera o processo de desidratação e você pode perder a criança de um dia para o outro, porque, em geral, nas aldeias não há socorro próximo nem pessoas treinadas para procedimentos elementares de assistência. Existem 370 aldeias yanomamis no Brasil e só 78 têm postos de saúde. Mas o padrão mais comum é de uma morte mais lenta e insidiosa. Como não há nas aldeias coleta de lixo, sistema de esgoto nem água potável, o chão onde as crianças engatinham está contaminado e a água que elas bebem muitas vezes vem de lagos com todo tipo de resíduo humano e animal. Além disso, com a invasão dos garimpeiros, a oferta de comida tem ficado cada vez mais escassa. O que acontece, então, é que uma criança, nascida com peso normal, depois que é contaminada pelos micro-organismos do solo ou da água e tem a sua primeira diarreia, sofre uma perda de peso significativa e não mais se recupera — ao contrário do que acontece em ambientes onde existem condições básicas de nutrição e assistência médica, ela não recupera mais seu peso. A partir daí, por causa do acesso limitado à proteína, essa criança deixa de formar tecido muscular, deixa de reservar nutrientes para o crescimento dos ossos e articulações, e vai guardar os pouco nutrientes disponíveis para concentrar na preservação dos seus órgãos vitais. A criança vai tentar utilizar esses poucos nutrientes disponíveis para preservar a sua vida. Com isso, o corpo vai sendo consumido. |