| | A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro | Isac Nóbrega/PR |
| | | | Três perguntas para Maurício Moura | Maurício Moura é pesquisador, economista e professor de Estatística da Universidade George Washington e finaliza um livro sobre as eleições brasileiras de 2022. Aqui, ele fala sobre o futuro do bolsonarismo. PUBLICIDADE | | | 1 - Quem herdará o eleitorado de Bolsonaro? | Primeiro, é preciso separar esse eleitorado em duas partes. Existe aquele grupo que está com o ex-presidente Jair Bolsonaro pelo menos desde 2017 e que foi totalmente indiferente a todos os desvios da sua administração. São os "bolsonaristas raiz", que compõem algo como 5% a 10% do eleitorado brasileiro. Sempre foi um grupo muito duro, muito forte — o mesmo que levou o Enéas Carneiro [ex-deputado federal e ex-candidato à Presidência com programa nacionalista e conservador, morto em 2007] a ser o terceiro colocado nas eleições presidenciais de 1994. Hoje, eu não consigo ver alguém que substitua a figura do Jair Bolsonaro nesse grupo — talvez alguém da família dele. Outro segmento do eleitorado bolsonarista muito importante é o que representa o antipetismo. Trata-se de uma base instalada e muito maior, mais enraizada e mais complexa que a dos bolsonaristas raiz. Essa base, que representa quase a metade do país, inclui o público evangélico, majoritariamente de classe média baixa. Nesse segmento, há muitos nomes com potencial para ocupar o lugar de Bolsonaro, na eventualidade de ele não querer ou não poder se candidatar em 2026: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PSD); o governador de Minas, Romeu Zema (Novo); a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro; ou algum governador mais jovem do PSDB, como Eduardo Leite ou Raquel Lyra. No momento, esse espaço está aberto. | 2 - Dos nomes citados, Michelle Bolsonaro seria hoje o mais competitivo? | Sim, porque os atributos dela são mais óbvios do que os dos outros. A começar pelo fato de ela ter o sobrenome Bolsonaro. Além disso, é uma pessoa conhecida nacionalmente. Nessa eleição de 2022, o que antes de mais nada diferenciou Lula e Bolsonaro dos outros competidores foi que os dois eram amplamente conhecidos no país. Outro ponto que torna o nome da ex-primeira dama mais competitivo do que os outros é que ela é uma figura que dialoga com o segmento evangélico — um terço da população. Essa penetração já a colocaria numa posição vantajosa numa competição eleitoral. | 3 - O que pode fazer Michelle crescer ou diminuir de tamanho até 2026? | Para crescer, ela tem primeiro de se colocar como uma liderança nacional, algo que não fez e não sabemos se irá fazer. A ex-primeira-dama nunca participou do processo eleitoral e, por enquanto, tudo o que se diz a esse respeito é especulação. Mas, caso ela venha a se colocar, o que pode fazer com que as suas chances eleitorais diminuam até 2026 é, sobretudo, a hipótese de ter seu nome envolvido em algum escândalo. E, levando em conta os perfis dos segmentos evangélico e antipetista, episódios relacionados à corrupção serão sempre os piores. | Primeiro trimestre de 2021 foi definitivo para derrota de Bolsonaro | - No livro que finaliza agora, o economista Maurício Moura diz que, para entender por que Jair Bolsonaro foi o primeiro presidente brasileiro a fracassar numa tentativa de reeleição, é preciso analisar os motivos que fizeram um segmento dos eleitores que votou nele em 2018 deixar de escolhê-lo em 2022. Para o economista, a resposta está na situação da economia e na forma como o governo lidou com a pandemia. "Foram essas as duas principais fontes da perda de popularidade do ex-presidente", afirma Moura.
- No livro do economista, um conjunto de pesquisas deixa claro que Bolsonaro começou a perder a eleição no primeiro trimestre de 2021, quando o aumento de casos de morte por covid coincidiu com a parca oferta de vacinas e tanto a inflação quanto o desemprego estavam piores do que estiveram no mesmo momento em que tentavam a reeleição Fernando Henrique Cardoso, em 1998, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e Dilma Rousseff, em 2014.
- Em 2021, lembra o autor, com base em pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, o Brasil atingiu o ponto máximo de pobreza desde o começo da série histórica da Pnad, em 2012. Segundo a pesquisa, a pobreza no país tinha atingido seu menor nível em 2014, quando a proporção de brasileiros que ganhava abaixo de R$ 497 mensais foi de 23,7%. Em 2021, ano da derrocada de Bolsonaro, esse índice havia subido para 29,6%, perfazendo 62,5 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza.
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