Topo

Há mais riscos na obesidade do que em remédios para emagrecer

Especial para o UOL

15/09/2014 06h00

A diretoria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou no dia 10/10/2011 a RDC (Resolução de Diretoria Colegiada) 52/11, que dispõe sobre a proibição do uso das substâncias anfepramona, femproporex e mazindol, e sobre medidas de controle da prescrição e dispensação de medicamentos que contenham a substância sibutramina.

A resolução publicada também aprovou a permanência da sibutramina no mercado, mas com maior controle sobre a prescrição e a utilização da substância. A partir da promulgação da RDC 52/11, além da sibutramina ser prescrita na Notificação de Receita “B2” (usada para substâncias psicotrópicas), médico e paciente têm que assinar um Termo de Responsabilidade.

O documento especifica que o médico esclareceu ao paciente sobre os riscos da utilização da sibutramina e o paciente assinará que está ciente dos riscos. Ele é feito em três vias (uma para a farmácia ou drogaria dispensadora, uma para o paciente e outra para o médico), e tem a validade de somente 30 dias.

Em 2 de setembro, o Senado aprovou o PDS (projeto de decreto legislativo) 52/2014 que anula a RDC 52/2011, da Anvisa. A justificativa foi de que a agência regulatória extrapolou na sua função. E ela realmente o fez, ignorando a posição dos especialistas.

A fentermina, medicamento desta mesma classe, foi prescrito para 2,4 milhões de obesos americanos em 2011, correspondendo a 90% das prescrições para o tratamento da obesidade nos EUA. 

O esteio para o tratamento da obesidade ainda é a mudança do estilo de vida, que basicamente é a introdução de uma dieta duradoura, pelo menos na intenção, e uma atividade física prazerosa, se possível.  

Doença crônica

Nós, endocrinologistas, não damos alta para nossos pacientes, pois eles são crônicos. Nossas prescrições são sempre de uso contínuo. A obesidade não tem cura. O indivíduo pode ficar bem enquanto está vigilante, mas não existe um tratamento simplista. A gula é um dos sete pecados capitais, segundo uma visão muito ingênua e pejorativa do assunto.

Porém, vários são os fatores que determinam o ganho de peso, como o comportamento, a genética, a urbanização global, as tendências alimentares etc. Portanto, ninguém é obeso porque quer e esta multiplicidade de fatores, sozinhos ou combinados, pode levar à falência do tratamento.

Os anorexígenos não são para todos, mas ajudam uma boa parcela da população. Um número muito pequeno de pacientes consegue perder peso. Dentre eles, um número menor ainda consegue manter. Não existe remédio sem efeito colateral. Como tudo na medicina, o médico tem que avaliar o risco-benefício. Os anorexígenos podem levar a eventos adversos? Em uma pequena parcela dos casos, podem. A obesidade pode levar a complicações? Na maioria das vezes, sim.

A pesquisa Vigitel 2013 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) indica que 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal e que, destes, 17,5% são obesos. Como abordá-los?

Não podemos deixar nossa população descoberta. Hoje só temos duas medicações para o tratamento da obesidade. Uma delas é acessível para uma população de maior poder aquisitivo, e outra, com preço menor, ainda está disponível para poucos.  O que fazer com os pacientes, que não são poucos, que não podem comprar ou não respondem a estas medicações? O que temos hoje pode não ser o ideal, mas é melhor do que nada.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br