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Prefeitos se aproveitam da fumaça sobre o país e sonegam soluções

Especial para o UOL

11/08/2016 06h00

As cidades brasileiras estão abandonadas. Tendo o noticiário nacional tirado o foco do cotidiano mais próximo, os municípios seguem entregues à sorte. Governantes se aproveitam da fumaça sobre o país e sonegam soluções, num rodízio de precariedades e escândalos que só gera irritação e frustrações.

Privados de seus colchões e papelões, moradores de rua morrem de frio em uma cidade com a força econômica de São Paulo –com cerca de R$ 50 bilhões de orçamento anual. A indigência das políticas públicas é uma fábrica de miseráveis em todos os níveis: os sem-teto, os sem-emprego, os sem-sossego.

O retrato do abandono está nos dados oficiais: de 2000 a 2015, a população em situação de rua na capital paulista praticamente dobrou –já são quase 16 mil, sendo que mais da metade está na região central da cidade. No distrito de Santa Cecília, onde residem 90 mil pessoas, há aproximadamente mil moradores de rua e quase o mesmo número vivendo em albergues. Proporção preocupante.

A atual gestão municipal de São Paulo –superficial e improvisada– não trouxe avanços em questões como mobilidade, saúde, educação e segurança. Na verdade, suas marcas são ausência de prioridades, penúria administrativa e muito marketing. A constante fabricação de índices, para a promoção de autoavaliações positivas, traz registros estatísticos inócuos.

A indignação diante da gestão Haddad denuncia a tentativa de manipulação da realidade, de uma mera maquiagem da cidade. Com empenho em criar cenários urbanos que não trazem resultados práticos para o contribuinte, a máquina municipal é usada para causar sensações, como se porventura gestão fosse equivalente a comunicação e farsa.  Não por acaso, a última pesquisa Ibope apontou que 73% dos entrevistados desaprovam a forma como o prefeito administra o município, contra 22% de aprovação.

Do orçamento municipal, quanto é usado efetivamente em benefício dos munícipes? O impulso criativo do indivíduo que reinventa sua sobrevivência a cada hora de vida em São Paulo se contrapõe à moleza dos governantes –arrecadadores compulsivos– que parecem trabalhar apenas para gerar multas e inventar impostos.

As pessoas precisam ter poder sobre a cidade. Expandir o ativismo, tendo a comunidade como causa, é o ponto de partida para o desenvolvimento de ações que estimulem as práticas de zeladoria e que resgatem o sentimento de pertencimento.

As organizações civis –como as associações de bairro e os coletivos– não devem se limitar à realização de eventos ou à geração de atas e notícias. Se os canais de diálogo com o governo estão fraturados, nunca foi tão importante escutar e oferecer espaços efetivos de participação decisória para uma população que se sente permanentemente desatendida e assiste diariamente a cenas que parecem ter saído de filmes de terror.

É urgente ampliar a capacidade deliberativa da sociedade organizada em áreas estratégicas –através dos Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs), por exemplo–, assim estabelecendo abrangências, metas e reduzindo entraves burocráticos. O compartilhamento das decisões dará protagonismo ao cidadão, ao contribuinte e ao consumidor de serviços públicos.

Para enfrentar a indigência que se alastra, além de dar voz e decisão ao povo, precisamos de governantes que falem menos e que agreguem e façam mais. Dos eleitores, que pesquisem a história dos candidatos para conferirem quem de fato presta serviço à comunidade e à cidade. Elegendo cidadãos comprometidos com a democracia participativa, teremos verdadeiros combatentes de todas as formas de indigência –principalmente, a política.

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