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Máscara vira debate político nos EUA; vice invoca liberdade de expresssão

11.mar.2020 - O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, durante coletiva de imprensa sobre o coronavírus na Casa Branca, em Washington D.C. - Xinhua/Liu Jie
11.mar.2020 - O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, durante coletiva de imprensa sobre o coronavírus na Casa Branca, em Washington D.C. Imagem: Xinhua/Liu Jie

Colunista do UOL

26/06/2020 16h20

Logo após recomendar que os americanos deveriam respeitar as orientações das autoridades estaduais e municipais para evitar a covid-19, como usar máscaras em locais públicos, o vice-presidente Mike Pence invocou hoje os direitos constitucionais de liberdade de expressão e de assembleia para justificar a recusa em cobrir o rosto durante a pandemia.

Pence deu entrevista durante um briefing da força-tarefa da Casa Branca para combater a covid-19. Mais uma vez, houve contraste entre o que ele e especialistas disseram. A dubiedade das mensagens do governo federal é uma característica da administração Trump.

Pence minimizou a gravidade do crescimento de casos de coronavírus nos estados do Sul do país, atribuindo ao maior número de testes o aumento de casos.

Já o principal infectologista americano e integrante da força-tarefa, Anthony Fauci, ressaltou a responsabilidade de cada pessoa para evitar impulsionar taxas de infecção que estão se elevando de forma preocupante, por exemplo, no Arizona, Texas, Califórnia e Flórida.

Uma repórter indagou o vice-presidente sobre a contradição entre o que ele falava e o que fazia, lembrando que agentes do serviço secreto da Casa Branca contraíram covid-19 em comícios de Trump nos quais boa parte da plateia estava sem máscara. Em resposta, Pence disse que a Constituição garantia as liberdades de opinião e assembleia. Como tem feito o presidente Donald Trump, o vice politizou o uso de máscaras.

A invocação constitucional de Pence para justificar a recusa em cobrir o rosto simboliza à perfeição o inacreditável debate político entre democratas e republicanos sobre máscaras.

Partidários de Trump dispensam máscaras como se tal atitude fosse uma manifestação de resistência política, não uma proteção altamente eficiente contra a transmissão do coronavírus numa pandemia.

Uma pesquisa nacional do site Axios em parceria com o instituto Ipsos mostrou que, no período de 10 de abril a 4 de maio, 49% dos eleitores democratas disseram que usavam máscaras ao deixar suas residências. Esse percentual subiu para 65% entre 8 de maio e 22 de junho.

Levando em conta a mesma época, a taxa de republicanos que saíram de casa com máscaras subiu apenas de 29% para 35%.

Realizado no começo de junho com adultos, um levantamento do centro de pesquisas Pew revelou que 76% dos democratas usavam máscara a maior parte do tempo e 12% em alguma parte do tempo. Entre os republicanos, esses percentuais foram, respectivamente, de 53% e 14%.

A taxa dos que cobrem o rosto a maior parte do tempo também é menor entre os adultos brancos: 62%. O percentual chega a 80% entre os americanos de origem asiática. E de 74% entre os hispânicos e de 69% entre os negros.

Principal líder do país, o comportamento público de Trump tem forte efeito sobre a importância preventiva das máscaras. O presidente não usa máscara publicamente e faz comícios na pandemia em ambientes fechados com boa parte dos apoiadores de rosto descoberto.

Há maior resistência entre os jovens ao uso da máscara, e as taxas de infecção estão crescendo justamente entre americanos com menos de 35 anos de idade.

No briefing de hoje na Casa Branca, Anthony Fauci falou com a liderança que falta a Trump. Ao alertar para os riscos de contrair mas também transmitir o vírus, aumentando o problema, ele afirmou:

"Você tem uma responsabilidade com você mesmo, mas também uma responsabilidade com a sociedade. Se queremos acabar com essa epidemia (...), temos que nos conscientizar de que somos parte do processo".