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OPINIÃO

Napoleão de Asilo

Bolsonaro tosse durante ato em favor do golpe militar, no dia 19 de abril - Foto: Sérgio Lima/AFP
Bolsonaro tosse durante ato em favor do golpe militar, no dia 19 de abril Imagem: Foto: Sérgio Lima/AFP

Especial para o UOL

26/03/2021 12h15

Será que ele termina o mandato?

Uma pergunta frequente de quem se interessa pelos destinos do país.

Aliás, nem precisava a pandemia para que o presidente exibisse suas falhas de raciocínio, falta de compaixão, militarismo patológico, preconceitos arraigados. Psicopata? Há poucos dias, Bolsonaro soltou um "meu Exército", começando a se aproximar do perfil típico de um Napoleão de asilo.

Ele deve perturbar todo dia seu batalhão de mais de 6.000 militares em cargos civis, com a pergunta que sua ansiedade não deixa calar: "Está na hora de dar o golpe?"

Mas como se desenrolaria esse golpe?

Os passos clássicos seriam trazer as tropas para seu lado, fechar o Congresso Nacional e o Supremo. No caso atual, tudo isso já está feito, militares às pencas obedecendo ordens sem pensar, sendo os presidentes da Câmara e do Senado nomes que ele aprovou. O Supremo, por sua vez, não liga para o tapa-olho da Justiça..

Então, sobra um golpe contra prefeitos e governadores, que o presidente condena por querer deixar o povo em casa, no momento em que 25% das mortes por covid-19 do planeta são no Brasil.

"A corda está esticando", brada o presidente-capitão, sem especificar que corda e que estica é essa. Em seguida, informa que só Deus o tira da Presidência.

Se o próprio Jair e seu general-peito-de-pombo tornado ministro da Saúde tivessem noção do que aprontaram nos últimos meses, estariam em profunda depressão. Não é o caso, até porque o general da ativa acredita haver se isentado de quaisquer culpa, ao soltar uma frase que faria o Duque de Caxias corar: "um manda e outro obedece". Vindo de um general, trata-se de subserviência descabida.

Há uma regra no Exército de que, quando o comandante em chefe da corporação dá uma ordem estapafúrdia, é possível deixar de cumpri-la, seguindo-se as consequências de um complexo processo jurídico na Justiça Militar.

Apesar da humilhante submissão de Pazuello, já retirado do ministério, Bolsonaro não vacilará em jogá-lo às chamas da inquisição, quando chegar a hora. Ele será julgado pelas coisas descabidas que fez, a mando de seu chefe.

Andar sem máscara passou a ser fashion no entorno do presidente. Embalado por esse hábito do alto escalão do governo, nosso ministro das Relações Exteriores chegou a uma inútil reunião em Israel de cara limpa, sendo advertido no primeiro minuto, a colocar a mascara, pelo colega local.

Mas Bolsonaro só pensa mesmo em reeleição, portanto, nada de lockdown ( "não permitirei"). Sim, para a liberação de armas e a isenção total de impostos para as igrejas. Como só Deus o tiraria da Presidência, segundo ele, melhor ficar de bem com as igrejas.

Com relação às rachadinhas, parece ser hábito e know-how de toda a família, cada um desviando recursos de funcionários-fantasma em seu nível de competência, municipal, estadual ou federal, com o pioneirismo inconteste do pai.

Perto do que o PT desviou de recursos, parecem mesmo uma bobagem as irregularidades do atual chefe de quadrilha e seus filhos, mas é preciso lembrar que, no caso de Lula e Odebrecht, os fora-da-lei eram muitos. No caso atual, os infratores são Bolsonaro e seus três filhos, lidando com apenas milhões de reais, contra bilhões de Odebrecht/Lula.

Certa vez, comentaram com Tom Jobim que os Beatles estavam à frente de Garota de Ipanema na vendagem de discos, ao que ele retrucou: "Mas eles são quatro, eu sou só um.

*Roberto Muylaert é jornalista, engenheiro e empresário