A crise da sociedade brasileira é muito mais grave do que o dilema Bolsonaro versus Lula. Os personagens só existem porque representam parcelas da sociedade. São consequências, não são causas.
A sociedade brasileira, por fatores da nossa história, de patrimonialismo e de estruturas de poder de famílias, e por desdobramentos do nosso modelo de capitalismo, gerou dois grandes grupos de marginalizados do progresso material e do sentimento de dignidade.
Temos um enorme contingente de excluídos das conquistas econômicas. Estes geraram o fenômeno Lula. Lula é quem é porque deu voz aos excluídos da economia nacional.
Por outro lado, o modelo de sociedade fundado em uma suposta meritocracia sem lastro em educação democratizada, com competição desigual, criou pequenas multidões de perdedores ressentidos, que acreditam que a vida lhes deu menos do que mereciam. Estes querem um pai salvador, que se pareça com eles.
O baixo clero, tratado com desdém na Câmara Federal, representa o baixo clero da sociedade, composto dos que se vêm como cidadãos de segunda categoria. Esses são os que precisam do Bolsonaro, com cujas limitações e frustrações, frequentemente manifestadas como agressividade, se identificam. Bolsonaro representa os contingentes de ressentidos.
Só se viabilizará como candidato de centro um líder que tenha um discurso unificador, capaz de trazer a bordo as multidões que estão fora do barco, e podem afunda-lo. Não basta ter um plano para o país. É preciso ter uma mensagem que fale ao coração de excluídos e ressentidos, com a esperança de que a pátria amada será a mãe gentil de todos.
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