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OPINIÃO

Dia do Holocausto: por que cicatrizes do antissemitismo nunca se fecham?

Memorial do Holocausto em Berlim Imagem: Bildagentur-online/Joko/picture alliance

Marcos Knobel e Daniel Kignel*

Colunistas convidados

27/01/2024 04h00

No dia 27 de janeiro é celebrado o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Neste ano, algo está diferente nessa data. As cicatrizes do ataque terrorista, realizado no último dia 7 de outubro, somam-se à recordação do extermínio de judeus pelos nazistas há várias décadas.

O massacre praticado pelo grupo terrorista Hamas, em Israel, trouxe à tona a memória viva do antissemitismo, dando a esse fenômeno —já um velho conhecido da comunidade judaica— uma roupagem moderna.

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O atentado sem precedentes abriu um novo olhar para o antissemitismo. Sim, ele existe, é forte, ganhou espaço em ambientes que até então eram neutros, porém agora amparado pelo escudo sempre presente do antissionismo. Se havia ainda alguma dúvida de que a linha que separa esses dois conceitos é virtualmente inexistente, ela já não existe mais.

Recentemente, tivemos episódios de violações a portas e muros de sinagogas, comércios de proprietários judeus e monumentos históricos em homenagem às vítimas do nazismo em vários países do mundo - o Brasil foi um deles - com palavras como "Palestina Livre do rio ao mar" e desenhos que remetem a símbolos islâmicos.

Houve ainda personalidades públicas, inclusive da esfera política, pregando o boicote a "negócios de judeus". De acordo com dados da Liga Antidifamação, nos Estados Unidos, ocorreram 3.283 incidentes antissemitas desde o ataque de 7 de outubro até 7 de janeiro deste ano, um aumento de mais de 360% em comparação ao volume ocorrido (712) na comparação anual.

No Brasil, o ato de vandalismo tem um peso legal, sendo a pichação proibida e passível de condenação criminal. Mas ao propor retaliações a todo um grupo de pessoas que compartilha de uma mesma origem étnico-religiosa, ou vandalizar a porta de um centro religioso ou de uma propriedade privada, a simbologia de ataque a um grupo étnico que tem a perseguição marcada em sua história toma a forma de um atentado à comunidade, uma intimidação que configura crime racial.

O fato é que, infelizmente, muitas pessoas que se dizem antissionistas também são antissemitas. O clamor pelo estabelecimento do Estado palestino "do rio ao mar" é uma forma mascarada de antissemitismo, escondida no antissionismo. É a premissa de que a existência da Palestina vem acompanhada, necessariamente, da eliminação de Israel, dissolvendo não só um país democrático, como também expulsando do território seus habitantes.

No Brasil, esse assunto misturou as esferas religiosa e política, ou seja, religião e Estado —há claramente uma confusão entre os termos "israelitas" e "israelenses". Uma visão distorcida e simplista da realidade prega que governos de direita se posicionam firmemente pró Israel, enquanto os de esquerda são favoráveis à Palestina. É como se não fosse possível haver variações de pensamento dentro de diferentes ideologias políticas.

E que fique claro: não há nenhum problema em assumir posições, desde que o direito de expressão não viole o outro lado —o que não está acontecendo, reforçando claramente quanto o antissemitismo está ganhando proporções cada vez mais nocivas no país. E o ponto mais preocupante disso é que muitas dessas declarações antissemitas são feitas sem nenhum conhecimento sobre história, nação ou religião, mas somente por uma questão ideológica enviesada.

Durante a Inquisição, os judeus foram perseguidos por conta de sua religião. No Holocausto, foram perseguidos por conta de sua raça, e agora são perseguidos por conta de sua identificação com o Estado de Israel. É aí que mora o perigo dessa falta de esclarecimento.

Em 7 de outubro, vivemos o maior atentado com mortes de judeus em um único dia desde a Segunda Guerra Mundial. O que notamos é que há uma banalização em relação a esse episódio e todos os seus desdobramentos. Ainda há reféns em poder do Hamas, e não sabemos sequer o que está acontecendo com eles. Estão nas mãos de um grupo extremista que tem por objetivo a realização de uma verdadeira limpeza étnica, como previa o movimento nazista.

Estamos lutando pela paz, pela igualdade entre os dois povos e pela defesa e proteção dos judeus ao redor do mundo. Mas só conseguiremos isso se ficarmos livres da presença de grupos terroristas como o Hamas. Por isso, convido você a refletir sobre esse assunto. Antes de tudo, são vidas humanas que estão em jogo, independentemente de qual seja a sua etnia ou religião. É uma questão de humanidade.

Marcos Knobel - Presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo.

Daniel Kignel - Diretor Jurídico da Federação Israelita do Estado de São Paulo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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