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OPINIÃO

Boulos largou bolo e Marçal mexeu com todos: o que mudou nas eleições de SP

Da esquerda para a direita Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, José Luiz Datena, Pablo Marçal, Tabata Amaral e Marina Helena, candidatos à Prefeitura de São Paulo Imagem: Bruno Santos, Rafaela Araújo e Zanone Freissat/Folhapress

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

27/08/2024 16h59Atualizada em 28/08/2024 09h42

Talvez você não se lembre, mas em um passado não muito distante Ricardo Nunes era só um prefeito em busca da reeleição fazendo vídeo sobre bilhete único. Seu (até então) principal desafiador, Guilherme Boulos, caminhava tranquilo rumo ao segundo turno, ensinando eleitor a fazer pulseira com o nome dele em miçanga no Instagram.

Os demais corriam por fora.

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Tabata Amaral era personagem de documentários sobre fé e astrofísica, enquanto Pablo Marçal era só um maluco que levava seguidores para a montanha e voltava com um processo nas costas e a ajuda dos bombeiros.

Ah, sim: no meio de tudo isso José Luiz Datena era ainda um apresentador de TV tentando dar os primeiros passos na vida partidária sem tropeçar ou xingar ninguém.

Aí teve o debate da Band, no dia 8 de agosto.

E desde então um vórtice no espaço e no tempo se abriu e tudo ficou de ponta cabeça na corrida para a prefeitura de São Paulo.

Isso porque o maluco que levava pessoas para a montanha transformou tanto o debate da Band quanto o do Estadão, dias depois, em um palco onde maneja o público em busca de vídeos editados com conversas furadas e ataques contra meio mundo.

Ganhou o que queria e hoje está no pelotão de frente dos favoritos para ser eleito em outubro. Como? Acusando rivais sem prova, usando carteira de trabalho como brinquedo, jogando pó em quem o questiona, postando vídeo com cobra no pescoço, batendo boca com Jair Bolsonaro e fazendo da suspensão de suas redes um estardalhaço que atraiu ainda mais seguidores para suas novas outras contas.

O crescimento de Marçal, já à frente em ao menos uma pesquisa, a do Instituto Veritá, obrigou os adversários a mudarem a estratégia com o carro rodando em alta velocidade.

Nunes, por exemplo, está mais preocupado hoje com a subida de Marçal do que em mostrar que fez alguma coisa na prefeitura — desde que ela caiu em seu colo depois da morte de Bruno Covas, em 2021. Precisou até abandonar o tom monocórdico para berrar, em ato de campanha, que o rival está "envolvido até o nariz com o PCC".

Antes escondido pelo bolsonarismo, Nunes agora chama os grandalhões Tarcísio e Bolsonaro para briga na tentatiba de pegar Marçal.

Boulos já largou faz tempo (19 dias) as miçangas, os trocadilhos com bolos e toda a vibe paz e amor. Ele endureceu sem manter a ternura em posts que tentam alvejar Marçal e Nunes ao mesmo tempo.

Exemplo é o vídeo cheio de tiro, porrada e bomba em que só faltou escalar o Capitão Nascimento como narrador. Na peça ele acusa o prefeito de assinar bilhões de reais em contratos suspeitos e o ex-coach de ter integrado uma quadrilha de roubo a bancos e de ter "M na cabeça".

Mas quem virou mesmo no Jiraya foi Tabata Amaral, que assumiu de vez a postura de franco-atiradora e em poucos dias lançou dois petardos contra Marçal — um deles trazendo o PCC para a conversa e chamando o adversário para a briga. Nem parecia a garota "certinha" que estudou em Harvard e faz a lição de casa antes de cada debate e entrevista.

Em poucos dias, a campanha de São Paulo não é nem sombra dos primeiros passos ou das primeiras projeções — inclusive de dirigentes partidários que subestimaram o potencial de estrago de Marçal e agora correm como barata-tonta para acertar o passo.

A guerra de todos contra todos virou a guerra de todos contra um.

O único ponto que segue como está é José Luiz Datena, que 20 dias após o primeiro debate ainda é o ex-apresentador que está tentando dar os primeiros passos na vida partidária sem tropeçar ou xingar ninguém.

Quando aprender, pode ser tarde demais.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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