OPINIÃO
Negacionismo climático na COP29 tem preço
Thais Lazzeri*
Colunista convidada
16/11/2024 05h30
É sintomático o combate à desinformação climática estar no discurso da ministra Marina Silva na abertura do estande do Brasil na COP29, em Baku, capital do Azerbaijão. 'O Brasil não é negacionista', ela disse.
Marina sabe o poder da cadeia produtiva da desinformação climática, que trabalha para adiar, atrapalhar e minar soluções. Muda a nossa percepção da realidade e faz acreditar que os medos que precisamos ter são outros.
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A paleta de mentiras tem muitos tons de cinza:
- negacionismo clássico, estratégia para desacreditar dados, profissionais e comprovações científicas;
- greenwashing, a maquiagem verde que pinta vilão de mocinho;
- woke-washing, o uso oportunista de causas sociais para autopromoção, sem um compromisso genuíno;
- e astroturfing, estratégia que explora a percepção pública para mascarar interesses particulares.
A Global Witness revelou que, enquanto nos muros da COP lemos frases inspiradoras em 'solidariedade por um mundo verde', nos bastidores o objetivo é outro: ampliar a produção de combustíveis fósseis, "responsáveis por 90% das emissões de dióxido de carbono, que estão cozinhando o planeta e a potencializando fenômenos meteorológicos extremos", diz o site, que mal entrou no ar e foi bloqueado por aqui.
Em tempo: são mais de 1.770 lobistas de combustíveis fósseis na COP29.
Da maneira como estamos hoje, desinformadores profissionais continuam ganhando poder, influência e dinheiro para mentir. Se as nossas crianças, ensinadas e advertidas quando mentem souberem, estamos lascados.
No início desta semana, mais de 90 pessoas e organizações climáticas, educacionais e de integridade da informação do mundo todo —incluindo cientistas brasileiros como Thelma Krug e Marcelo Knobel— lançaram uma carta aberta aos governos do mundo todo para conter a desinformação climática.
Tem solução.
O Brasil vai lançar um fundo, com Unesco e ONU, de combate à desionformação climática. Chile, Reino Unido, Portugal, Marrocos e Suécia já aderiram.
É o início importante de um movimento: chamar pessoas, instituições e governos para perto. É tempo de somarmos esforços para mudar e sairmos das nossas bolhas em busca de respostas.
*Thais Lazzeri, jornalista e cineasta , fundou a FALA, um estúdio de impacto dedicado a soluções transformadoras, e criou o projeto Mentira Tem Preço.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL