OPINIÃO
Guerra Israel x Hamas: Uma oportunidade perdida pelo Brasil
Claudio Lottemberg e Marcos Knobel
Colunistas convidados*
21/01/2025 05h30
Finalmente após 467 dias, Israel e o grupo terrorista Hamas chegaram ao tão esperado acordo de cessar-fogo, mediado pelos governos do Egito e do Qatar, mas com certeza sob uma influência significativa dos enviados do futuro presidente americano, Donald Trump, que desde a fase de campanha, tinha deixado bem claro sobre as consequências da não assinatura do cessar-fogo antes de sua posse.
Sem grandes surpresas, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, lança uma nota exaltando o acordo, porem novamente com um viés ideológico e desequilibrado olhando um particular e deixando passar ao largo reféns como que invertendo papéis de agressor e agredido pois afinal foi o Hamas e seu aliado Irã que iniciaram esta guerra.
Relacionadas
Um dos grandes objetivos legítimos do grupo que cerca o presidente Lula é o de obter um protagonismo e liderança a nível internacional —o que não é errado para um homem com sua história. Mas erraram a mão. Pois não faltaram oportunidades para isso visto a nomeação do Brasil para a presidência da comissão da ONU para a Paz em 2024, posição que colocou nosso país em evidência no cenário internacional. Entretanto, protagonismo deriva de respeito, e respeito requer isenção. E faltou a este grupo subtrair a ideologia de seu propósito.
No contexto da guerra entre o Hamas e Israel, o Brasil possuía todos os requisitos para atuar como um moderador de peso, haja vista sua ligação histórica com a fundação do Estado de Israel. Mas progressivamente e de forma constante, conseguiu se apequenar com suas atitudes em inúmeros eventos com análise imprópria acerca das baixas humanas e do sofrimento das pessoas de ambos os lados diante dos horrores provocados por esse conflito, sinalizando que o Brasil teria um lado —o lado das ditaduras e do terror comandados pelo Irã.
Com isso, tanto o presidente Lula como o seu assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim (que assinou o prefácio do livro do grupo terrorista Hamas, quando do seu lançamento no Brasil em 2023), que possuem um ótimo transito com as diversas lideranças palestinas, inclusive com o Hamas, chegando a receber elogios dos lideres deste grupo terrorista por suas falas e ações, foram deslegitimando e perdendo a posição para ser um mediador.
No melhor desejo de dialogar, tanto a Embaixada de Israel como a liderança da comunidade judaica brasileira estando —esta ultima preocupada com um distanciamento deste ponto e com crescimento do antissemitismo— procuraram o nosso governo, para discussão sobre as consequências da guerra, possíveis alinhamentos e seu desfecho a respeito de sua segurança e do impacto na imagem de nosso país.
Surpreendentemente junto a quem teve sua vida aberta ao diálogo, vimos as portas fechadas pelo presidente e por sua assessoria para qualquer contato, e passaram a cometer equivocados posicionamentos externando falas parciais, com conteúdo enviesado, leituras que comparam o incomparável, normalizando uma narrativa contra o Estado Democrático de Israel, que se defendia de grupos terroristas, legitimando inúmeras manifestações antissemitas nas diversas mídias —o que culminou com incremento de quase 1.000% de antissemitismo, segundo o canal de denúncias da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fiesp).
Fato é que esta política externa com visão ideológica e parcial do atual governo e que foge de nossa tradição neste conflito acabou nos unindo a ditaduras totalitaristas e grupos terroristas em detrimento às nações democráticas do ocidente, deixando de lado a imparcialidade esperada por todos nós brasileiros. Perdeu-se se assim a oportunidade de elevar o nível da política externa de nosso pais e a possibilidade de governo Lula deixar um legado de liderança, promoção de paz e união entre as nações o que muito nos honraria enquanto brasileiros.
*Claudio Lottemberg é presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e Marcos Knobel presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp).
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL