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A razão Bibista contra o Irã

"Remember that I predicted a long time ago that President Obama will attack Iran because of his inability to negotiate properly-not skilled!" Donald Trump, em 11/10/2013

Os especialistas em Oriente Médio e Israel nos oferecerão os detalhes e matizes desta nova etapa do espetáculo Netanyahu. Os analistas de geopolítica e internacionalistas examinarão suas múltiplas dimensões. Ouviremos e aprenderemos.

Mas, a partir da boa e velha política, talvez já se possa arriscar algo mais. De início, a imensa capacidade política de Netanyahu: tão eloquente quanto perturbadora.

O premiê israelense conseguiu se perpetuar no poder em um país onde, na última década, formar governo tem sido o paradigma do impossível. Resistência, resiliência, "plasticidade" e uma habilidade para dizer uma coisa e fazer o oposto que deixam a Pedro Sánchez e Emmanuel Macron como baluartes da previsibilidade e da coerência política.

Como se não bastasse, arrastou consigo os piores vícios de sua fase neoliberal — incluindo o direito de levar sua esposa aos tribunais, para que respondesse solidariamente por suas supostas tramas corruptas.

Não satisfeito, e farejando o zeitgeist global, não hesitou em abraçar os setores mais radicais, extremistas e retrógrados de Israel em sua nova geringonça. Mas nisso também é veterano: Bibi tem longa experiência em montar coalizões improváveis, fazendo com que o experimento da esquerda lusitana pareça amador. Com ele, as geringonças são múltiplas, maleáveis, e hoje assumem sua versão fascio-predadora.

Esse é Bibi: máximo expoente — e profundo conhecedor — das lições do velho escriba florentino, não poupando esforços para se perpetuar no poder.

Mas como escapar dos tribunais e da prisão no país das maiorias impossíveis? Para um soberano sem princípios nem remorsos, o ataque terrorista "providencial" do Hamas foi o pretexto perfeito. A Razão Bibista se resolvia em uma pergunta tão simples quanto brutal: guerra eterna ou prisão?

A resposta está aí.

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Quando seu "Round 6" populacional em Gaza começava a soar moralmente insustentável até mesmo para o mais cínico dos ocidentais, Bibi rapidamente lançou sua cortina de fumaça: o perigoso e barbudo aiatolá e suas "armas de destruição em massa"... perdão, isso era com Sadam. No caso persa, o perigo agora seria a "iminência da bomba atômica".

Missão cumprida!
O debate sobre as perversidades em Gaza saiu das manchetes. O jogo macabro bibista de usar a fome de centenas de milhares de crianças como arma política vai ficando para trás. Agora, o tema é o aiatolá atômico.

Mas isso também não era suficiente. Bibi tinha um último desafio: dobrar o King para ajudá-lo a manter-se no poder. Como se não bastasse subjugar a extrema direita doméstica, Bibi, o soberano, precisava colocar Trump a seu serviço.

Sim, seu próximo passo requeria desmoralizar o King — aquele que prometera "acabar com a guerra em dois dias" e que se gabava de "não tê-la promovido" em sua primeira passagem pela Casa Branca, ao tempo que não se cansava de acusar Obama e Biden de fazê-lo. Não por gosto — embora provavelmente o aprecie —, mas por pura sobrevivência, Bibi, recordando as melancólicas palavras de Merz, chanceler alemão, precisava que Trump fizesse "o trabalho sujo por todos nós". E conseguiu: deixou o Rei nu, com sua base política dividida e atordoada.

A Terceira Guerra, os riscos atômicos e os piores pesadelos que acreditávamos pertencer a um passado distante voltam a nos assombrar.

Com Bibi, o inverno se aproxima.

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*Beto Vasques é professor de Comunicação Política da FESPSP (Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e diretor de Relações Institucionais do Instituto Democracia em Xeque

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