Candidatos a prefeito receberam 96 doações acima de R$ 100 mil nas capitais

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

  • Getty Images

Proibidos de receber doações de empresas em suas campanhas, os candidatos a prefeito das capitais investiram recursos próprios e ganharam altas doações de pessoas físicas para tentar a eleição.

O UOL acessou a prestação de contas parcial de todos os postulantes a prefeituras de capitais do país e encontrou 96 doações acima de R$ 100 mil até o dia 19 de setembro. Dessas, 18 foram autodoações dos candidatos, feitas em 14 capitais, em um total de R$ 10,4 milhões. 

Metade desse dinheiro de grande porte foi doado por apenas três candidatos.

O postulante à Prefeitura de São Paulo João Doria (PSDB) foi o que mais investiu recursos próprios até agora: R$ 2,4 milhões. Ao todo, o patrimônio declarado do empresário é de R$ 180 milhões.

Outro que fez um investimento milionário foi Carlos Amastha (PSB), candidato à reeleição em Palmas. Ele, que também é empresário, repassou à sua campanha R$ 2,2 milhões, mais de 10% de seu patrimônio total declarado, de R$ 21,1 milhões.

Wanderlan (PSB), de Goiânia, doou R$ 1 milhão de seu patrimônio (de R$ 29,8 milhões) à campanha.

Dos três candidatos, apenas Amastha lidera a corrida eleitoral --Doria e Wanderlan aparecem na segunda e na terceira colocações, respectivamente, segundo mais recente pesquisa feita pelo instituto Ibope nessas capitais.

Entre os candidatos que doaram recursos próprios, um caso chama a atenção: o ex-ministro do Esporte e Turismo Rafael Greca (PMN) colocou R$ 600 mil na própria candidatura a prefeito de Curitiba. Foi o único caso até o momento de doação acima do patrimônio entre os candidatos a prefeitos em capitais do país.

Segundo a Lei Eleitoral, não há limite percentual de patrimônio para doação de candidatos --a regra existe apenas para terceiros, que só podem doar até um limite de 10% de seu patrimônio por eleição.

Quem mais recebeu de não candidatos

Entre as pessoas físicas não candidatas, foram 78 doações acima de R$ 100 mil. O maior recebedor das grandes doações foi o prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio (PDT), com 16 doações de pessoas físicas acima de R$ 100 mil --sendo quatro delas da família Jereissati, dona de um dos maiores grupos privados do Brasil.

Depois de Claudio, vem a ex-prefeita Marta Suplicy (PMDB), candidata em São Paulo, com 14 doações acima de R$ 100 mil; seguida por Pedro Paulo (PMDB), do Rio, que recebeu 11 doações desse porte.

Em valores reais, a maior doação foi feita pela primeira-dama de Belo Horizonte, Maria Regina Lacerda, que doou R$ 500 mil à campanha de Délio Malheiros (PSD). O atual prefeito Marcio Lacerda (PSB) também doou R$ 400 mil à campanha de Malheiros. Em 2012, Marcio declarou possuir R$ 58,8 milhões (cerca de R$ 68 milhões em valores atualizados).

Empatado em valor com a primeira-dama de Belo Horizonte, Ivan Correa de Toledo Filho, amigo do marido de Marta, também doou à candidatura da peemedebista em São Paulo

Campanhas desiguais

Segundo o doutor em direito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisador de doações eleitorais Bruno Carazza, a nova regra eleitoral não amenizou em nada a disparidade econômica entre candidatos por não estipular valores máximos de doação.

"Obviamente isso é anti-isonômico, desigual e injusto. Quando o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu as doações de empresas, o pleito da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) envolvia também a necessidade da imposição de um limite para as doações de pessoas físicas e as autodoações de candidatos. O espírito do pedido da OAB era o mesmo da proibição de doações de empresas: reduzir a influência econômica sobre o resultado das eleições", disse.

Carazza explica que a regra brasileira não é adotada em outros lugares justamente por facilitar distorções econômicas entre as campanhas. "O Brasil é o único país do mundo que impõe um limite para as doações baseado no rendimento do doador, e não em um limite nominal impessoal ou em um percentual do valor máximo admitido para os gastos de campanha. Como resultado, o Brasil continua sofrendo a influência econômica da parcela mais rica da população, mesmo com a vedação à participação das empresas", afirmou.

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