Acusado de agredir ex-mulher, Pedro Paulo se cerca de eleitoras na rua
Gustavo Maia
Do UOL, no Rio
À frente de uma caminhada em Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, na terça-feira (27), um integrante da campanha do candidato do PMDB à prefeitura, Pedro Paulo, convidava pessoas a falar e posar para fotos com o peemedebista. Enquanto era observado pela reportagem, o correligionário abordou apenas mulheres. Sempre sorridente, o candidato distribuía selfies e abraços às eleitoras.
Fora dali, Pedro Paulo tem sido alvo de cada vez mais ataques dos adversários por conta da denúncia por agressões contra sua ex-mulher, arquivada em agosto pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A assessoria do candidato nega que haja uma estratégia para cercá-lo propositadamente de mulheres nos atos de campanha e diz que ele sempre foi "muito abordado pelo público feminino". "A equipe nas ruas acaba abordando todo mundo", informou.
Ao longo da campanha, o peemedebista teve de se acostumar a rebater as menções ao episódio. Quando o assunto vem à tona, destaca que o inquérito aberto pela Polícia Federal concluiu que ele não cometeu crime e que o processo foi arquivado a pedido da Procuradoria-Geral da República.
A investigação teve início depois que se tornou pública denúncia de agressão feita pela ex-mulher do candidato, Alexandra Marcondes, em 2010. No fim do ano passado, com a divulgação do caso, ela mudou a versão de que fora atacada por Pedro Paulo e disse que o ex-marido apenas se defendeu de ataques dela, por conta de uma traição.
Nas ruas, militantes e cabos eleitorais do PMDB foram orientados a distribuir um panfleto com explicações sobre o episódio caso alguém fale da denúncia. Em letras garrafais sobre um fundo preto, o folheto traz no topo a frase "Armação desfeita. Pedro Paulo é inocente". "Enquanto os adversários perdem tempo com mentiras, Pedro Paulo segue apresentando propostas para melhorar o Rio", diz o panfleto.
Em vídeo que circulou nas redes sociais neste mês, uma mulher se recusa a receber o candidato em um estabelecimento comercial gritando "agressor aqui não". O candidato imediatamente rebate: "Você viu meu processo? Você viu meu processo?". Entre membros da campanha, acredita-se que manifestações como a que viralizou são "plantadas". "A pessoa já fica com o celular posicionado antes de falar", comentou uma integrante do estafe peemedebista, que pediu para não ser identificada.
A menos de uma semana do primeiro turno das eleições, Pedro Paulo passou a aparecer numericamente em segundo lugar na pesquisa Ibope, empatando com o candidato Marcelo Freixo (PSOL). O senador Marcelo Crivella (PRB) está isolado em primeiro lugar.
Escalada de ataques
Velados ou indiretos no começo do período eleitoral, os ataques de outros candidatos ao peemedebista se tornaram mais incisivos nos últimos dias, principalmente nos debates promovidos pela TV Record e pela TV Globo.
Em pergunta a Pedro Paulo, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) chegou a se referir diretamente a ele como "agressor de mulheres". Crivella, que já disputou e perdeu duas vezes a eleição para a Prefeitura do Rio, disse: "Eu bato na trave, mas não bato em mulher". Adversários também passaram a usar as inserções e propagandas eleitorais para destacar o tema da violência contra a mulher.
O UOL conversou com algumas pessoas que participaram da caminhada do candidato em Campo Grande. Militante do PMDB, Juliana Santos, 30, disse achar que a estratégia mostra "o desespero dos concorrentes" com a ascensão do ex-secretário municipal e afilhado político do prefeito Eduardo Paes (PMDB). "Querem bater em cima de uma coisa que aconteceu na vida pessoal dele. Na minha opinião, ficarem falando de uma pessoa que foi declarada inocente é até crime, de calúnia, difamação", afirmou.
Andreia Rezende, 46, que trabalha para um candidato a vereador do PMDB e participou do ato em Campo Grande, conta que já tem a resposta na ponta da língua quando alguém lhe questiona sobre o episódio. "Vida particular é diferente da vida pública, de gestor. Eu não estou aqui para julgar a vida pessoal de ninguém. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa", declarou.
"Falam muito dessa história. Acho que nunca vão esquecer isso. Sempre que eu vou na casa de alguém ou abordo alguém na rua, eu falo que foi uma coisa pessoal dele, uma fofoca, já que o Ministério Público arquivou [o processo]. O que importa é que ele vai continuar as obras do prefeito Eduardo Paes", explica um correligionário, que pediu para não ser identificado.
Em entrevista após a caminhada nesta terça, Pedro Paulo fez questão de dizer que iria pedir votos até o último dia falando das propostas "sem baixaria".
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