Como a crise política nacional prejudica a escolha do eleitor?

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

  • Júnior Lago/UOL

    Protestos contra e a favor do impeachment e contra o atual governo marcam as eleições

    Protestos contra e a favor do impeachment e contra o atual governo marcam as eleições

A crise política, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a crise econômica e Operação Lava Jato transformaram as eleições municipais de 2016 na disputa mais "contaminada" por temas nacionais desde a redemocratização. A avaliação é de cientistas políticos e especialistas em marketing eleitoral ouvidos pelo UOL que alertam: essa contaminação pode prejudicar a escolha do eleitor na hora de votar. 

A reportagem do UOL entrevistou quatro cientistas políticos e um professor de marketing eleitoral para avaliar se os temas nacionais "contaminaram" o debate municipal e quais os impactos disso para a escolha do eleitor: os professores de ciência política David Fleischer (UnB); Ricardo Caldas (UnB); Cláudio Couto (FGV) e Marco Antônio Teixeira (FGV); e o professor de marketing eleitoral da ESPM Emmanuel Publio Dias.

Eles avaliam que a proximidade (ou superposição) de crises pelas quais o Brasil passa, associada a uma campanha eleitoral mais curta fizeram com que houvesse uma predominância dos temas nacionais sobre os temas municipais no período eleitoral.

 

Os especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que, habitualmente, as eleições municipais são espaços onde a população tende a definir seus candidatos com base nos temas mais importantes para as comunidades onde vivem. Dessa forma, os temas considerados nacionais (política e economia, por exemplo) não seriam tão relevantes na hora do eleitor escolher os seus prefeitos (as) e vereadores (as).

Quatro deles alertam para o fato de que toda essa "avalanche" de assuntos possa prejudicar o eleitor na hora de escolher seus representantes.

Causa e efeito

Para o cientista político e professor da UnB Ricardo Caldas, a "contaminação" das eleições municipais por disputas nacionais pode causar efeitos negativos. Entre eles, o risco de escolher candidatos com pouca vocação para a gestão das cidades.

"Como as atenções não estão voltadas para os debates da cidade, há um risco do candidato a ser escolhido não ser uma pessoa com uma experiência de gestão. Vivemos o risco de acabar elegendo não o melhor gestor, mas aquele que conseguiu passar pelo processo eleitoral sem se deixar sujar pela disputa em âmbito nacional aquele ou aquela que melhor usou os assuntos da pauta nacional em seu favor", afirmou.

Marco Antônio Teixeira, da FGV, diz que essa interferência de assuntos nacionais no debate que deveria ser municipalizado pode trazer problemas para as cidades.

"Isso é ruim porque a eleição municipal teria que ser um espaço para o debate de agendas para as cidades. Teríamos que estar debatendo políticas de urbanização e desenvolvimento local. Neste ano, esses temas entram na disputa, mas de uma forma muito precária", explicou.

David Fleischer também avalia que a força dos temas nacionais durante as eleições municipais pode ter efeitos negativos.

"É ruim para a eleição porque era nesse momento que as pessoas deveriam estar discutindo os problemas da cidade. Mas com essa contaminação de assuntos nacionais, esse debate praticamente não está ocorrendo", analisou o professor.

Para o professor de marketing eleitoral da ESPM Emmanuel Publio Dias, a "contaminação" da disputa municipal por temas nacionais tende a ser ainda maior nas grandes cidades. Segundo ele, isso se deve ao fato de que as forças políticas que "se digladiaram" durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) continuam a disputar espaços nessas eleições.

"As forças políticas que se digladiaram durante o impeachment continuam trabalhando e tentando colocar as suas pautas através das campanhas locais e municipais. O ambiente político no Brasil está bastante polarizado. É natural que neste momento isto apareça com mais força", explicou.

Campanha contaminada

Um dos exemplos mais recentes de como as campanhas municipais foram "contaminadas" pelos temas nacionais aconteceu na semana passada durante o debate realizado pela TV Globo no Rio de Janeiro.

Saúde, educação, segurança... É tudo atribuição do prefeito?

A candidata do PCdoB à Prefeitura do Rio, Jandira Feghali, acusou a Globo de ter apoiado o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Outro exemplo são ex-ministros da ex-presidente Dilma que "esconderam" a petista durante suas campanhas políticas. 

Na avaliação do cientista político Claudio Couto, o PT deverá ser o partido mais afetado por essa "contaminação" das eleições municipais.

"Tivemos uma intensidade [de temas nacionais] tão grande nos últimos dois anos, desde a eleição presidencial, que é difícil imaginar que isso não vai ter um efeito. Esse impacto será sentido, sobretudo, no caso do PT, que se viu no centro do furacão e, por conta disso, deve sentir isso ainda mais nas eleições", disse o cientista político Cláudio Couto.

Veja aqui a lista com nomes, número de urna e o patrimônio declarado de todos os candidatos do Brasil.

Veja aqui as mais recentes pesquisas eleitorais para o primeiro turno.

O que faz um vereador?

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos