26 candidatos ligados a causas LGBTs são eleitos; prefeito gay é ofendido

Mirthyani Bezerra*

Do UOL, em São Paulo

  • Dario Oliveira/Código19/Estadão Conteúdo

    Manifestantes fazem ato no vão livre do Masp, em São Paulo, para celebrar o Dia Internacional do orgulho LGBT, em junho de 2016

    Manifestantes fazem ato no vão livre do Masp, em São Paulo, para celebrar o Dia Internacional do orgulho LGBT, em junho de 2016

Vinte e seis candidatos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis) ou que apoiam as demandas por direitos dessa parcela da população conseguiram vencer as eleições municipais no último domingo (2). Foram 25 vereadores e um prefeito.

Ao todo, 377 candidatos ligados à comunidade LGBT disputaram o pleito. Esse foi o maior número de candidatos já registrado pela ABGLT, (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), que faz o levantamento. O número de eleitos, no entanto, teve uma leve queda.

Em 2012, 110 candidatos LGBTs ou apoiadores participaram do pleito, deles 29 conseguiram se eleger. A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) ainda espera o resultado do segundo turno das eleições, que acontece no dia 30 de outubro.

Quando o levantamento foi iniciado, em 1996, o número total de candidatos não chegava a 10.

Relatos de preconceito

Reprodução/Facebook
Têko (PHS) comemora vitória na eleição para Prefeitura de Itapecerica (MG)

Um candidato gay e ligado à causa foi eleito prefeito em Itapecerica (MG). Wirley Rodrigues Reis (PHS), o Têko, levou 57,35% dos votos válidos, ou seja, 7.890 votos, e foi eleito prefeito do município, que fica a mais de 130 km de distância de Belo Horizonte.

Durante a campanha, a casa em que ele mora com a mãe amanheceu pichada com ofensas relacionadas a sua orientação sexual.

"Um dia acordei e o muro da minha casa estava pichado. Feriu muito o meu orgulho, mas só me deu mais força para continuar batalhando e seguindo com a minha campanha", afirma Têko. Mesmo assim, ele diz que percebeu uma mudança de paradigma nos últimos anos e que sua chegada à prefeitura é uma prova disso.

"Todo o processo de campanha eleitoral foi bem difícil para ele. Em um contexto conservador, não é fácil votar em um prefeito gay assumido, mas ele conseguiu se eleger. Temos visto que a população LGBT tem ocupado cada vez mais espaço", afirma Carlos Magno Fonseca, presidente da ABGLT.

Em Lins (SP), Edgar de Souza (PSDB) foi reeleito prefeito. Ele, porém, não aparece entre os nomes do levantamento da ABGLT. Em sua primeira campanha para o cargo, em 2012, foram distribuídos panfletos anônimos pela cidade que criticavam a orientação sexual do então candidato.

"Até aquele momento, minha homossexualidade não era um assunto da eleição. Um candidato a vereador ou outro falava alguma bobagem, de que eu transformaria Lins numa boate gay. Mas eu era vereador há 12 anos, todos na cidade sabiam, não era escondido", afirmou o prefeito, em entrevista ao jornal "Valor Econômico" em 2013.

Onze vereadores LGBT se elegeram nas cidades de Campo Grande (MS), Cruz Alta (RS), Florianópolis (SC), Palmares (PE), Patos de Minas (MG), Pimenta Bueno (RO), Rio de Janeiro (RJ), São Joaquim da Barra (SP), São Paulo (SP) e Uberlândia (MG).

Everlei Martins (PCdoB), vereador reeleito em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, foi o primeiro parlamentar LGBT do município. "Meu mandato foi desafiador, por entrar pela primeira vez em um espaço machista e conservador. Eu era o único LGBT na Câmara e tínhamos só uma mulher", conta.

O diretor executivo do Grupo Dignidade, Toni Reis, afirma que esses políticos precisam enfrentar, além da 'maratona' da candidatura, os estigmas de 'pecadores' ou 'doentes'. Além disso, os eleitos LGBT vão precisar fazer um trabalho excepcional para se destacarem. "Eles vão ter que ser muito bons. As pessoas vão ficar observando. Não podem só olhar para a comunidade LGBT, não devem ser candidatos 'corporativos', diz Toni."

Brenda da Silva Santunioni (PP), vereadora eleita em Viçosa (MG) diz que enfrentou preconceito. "Algumas pessoas ouviram dizer que eu não poderia ganhar porque os professores ensinariam os alunos a serem gays, ou que eu transformaria a Câmara em Parada Gay", relata.

Segundo Fonseca, defender as pautas da comunidade LGBT tem deixado de ser algo negativo para a campanha dos candidatos. "Sabe aquela pauta que as pessoas tinham receio de apoiar? Isso não acontece mais com os candidatos que defendem questões relacionadas aos LGBTs. Isso é um avanço", acrescenta.

O presidente da ABGLT fez a ressalva que nem todo candidato LGBT é comprometido com as causas dessa parcela da população. "Fernando Holiday (DEM) venceu as eleições em São Paulo e apesar de ser gay já disse que não está comprometido com as nossas demandas, por exemplo", afirma.

Reconhecimento além do gênero

Três eleitos, ouvidos pelo Estadão, foram unânimes em afirmar que desejam ser reconhecidos pelo trabalho como políticos, não pela identidade de gênero ou orientação sexual. "Prefiro combater os preconceitos com meu trabalho. Quero que as pessoas olhem mais para a minha eficiência e não para a minha sexualidade", afirma Brenda. "A minha pessoa é, por si só, a causa LGBT, mas essa é apenas uma das minhas vertentes", disse.

Everlei afirma que foi eleito por causa de suas propostas principalmente nas áreas de cultura popular e saúde. "A pauta LGBT acaba vindo junto por eu fazer parte desse grupo. Não é o único foco da minha campanha nem do meu mandato."

Outro ponto em que concordam é que, apesar das conquistas nas eleições, ainda há muito para ser feito no combate ao preconceito contra pessoas LGBT. 

*Com Estadão Conteúdo

 

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