"Covarde", "irresponsável": Crivella e Freixo trocam ofensas em debate
Paula Bianchi
Do UOL, no Rio
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Arte/UOL
Marcelo Crivella (à esq.) e Marcelo Freixo participam de debate
Tanto o deputado Marcelo Freixo (PSOL) quanto o senador Marcelo Crivella (PRB), que disputam a Prefeitura do Rio de Janeiro, deixaram de lado o clima amistoso do primeiro debate do segundo turno, quando focaram em propostas e diferenças no programa um do outro, e trocaram agressões desde a primeira pergunta no debate desta terça-feira (18), promovido por UOL, Rede TV! e "Veja". Os candidatos chegaram a trocar ofensas em alguns momentos, como "covarde" e "irresponsável".
Freixo começou perguntando a Crivella sobre o livro do candidato do PRB quando foi missionário na África, em que cita "doutrinas demoníacas" que seriam praticadas por católicos, e o episódio em que um pastor da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), da qual o candidato é bispo licenciado, chutou imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Em sua resposta, Crivella acusou Freixo de ter envolvimento com black blocs e disse que o candidato não se conforma por ter menos votos. "Os black blocs, sob seu comando, têm as mãos sujas de sangue, já mataram um trabalhador covardemente pelas costas", disse o senador.
O senador, por sua vez, acusou Freixo de ter relações com a ativista Sininho e a ex-deputada Janira Rocha, denunciada pelo Ministério Público por improbidade administrativa. Ele citou também as relações do deputado com o governo dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. "Ao seu lado, Freixo, estão o PT e PCdoB, que protagonizaram os maiores escândalos de corrupção do país, quase quebraram a Petrobras, e você não se responsabiliza por eles", afirmou, chamando o deputado de "covarde".
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Crivella lembrou também as denúncias de que Freixo recebeu doação de campanha de dinheiro arrecadado pela ONG Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos, no projeto "Somos Todos Amarildo": "Onde está o dinheiro da viúva do Amarildo?", questionou o senador. "Este dinheiro foi redistribuído, como é que você faz uma denúncia tão grave como essa sem apurar, como é que pode ser tão irresponsável?", rebateu Freixo.
Os candidatos também trocaram acusações sobre o envolvimento com a milícia. Na sexta-feira (14), a ex-vereadora Carminha Jerominha, filha de Jerominho, ex-policial militar preso por chefiar uma das principais milícias da região, declarou apoio a Crivella e desafiou Freixo, a quem chamou de covarde, a visitar o reduto eleitoral da família, na zona oeste.
"Recentemente um grupo miliciano foi para a internet abertamente apoiar você, e você disse que esse apoio era bem-vindo. Por que a milícia está apoiando você?", questionou Freixo. Em sua defesa, o senador disse que o deputado é capaz de "tudo pelo poder". "Você é capaz de dizer que um pai de família, um senador há 15 anos, um homem ficha limpa, tem apoio da milícia. Eu não vou descer o nível, não vou dizer que você é safado, canalha, vagabundo. O povo dirá isso nas urnas", afirmou.
Anthony Garotinho
Um ponto que gerou atrito entre os dois durante todo o debate foram os apoios de cada candidato, em especial a relação de Crivella com o ex-governador Anthony Garotinho (PR). Questionado por Freixo e depois pelo jornalista Maurício Lima, da Veja, sobre a sua relação com o político, Crivella negou que sofra qualquer influência do governador e repetiu quatro vezes em sequência a frase "o Garotinho não vai participar do meu governo", o que não impediu Freixo de continuar citando o ex-governador para atacar o rival.
Freixo citou ainda a presença de Rodrigo Bethlem --envolvido em denúncias de corrupção na gestão de Eduardo Paes-- na campanha do senador. Como resposta, Crivella disse que o rival, como pessoa ligada aos direitos humanos, não deveria fazer acusações sem provas.
"A verdade é que ele [Rodrigo Bethlem] não vai participar do meu governo, ele nunca me pediu isso. Eu o convidei, ele está vivendo um momento difícil da vida dele e vai responder para a Justiça", afirmou Crivella sobre o aliado.
Os dois também fizeram críticas aos programas de governo um do outro. Enquanto Freixo disse que o programa do senador é muito enxuto, impedindo "qualquer aprofundamento", Crivella disse que o deputado trabalha com o mundo das ideias e que seu governo terá base técnica.
Crivella terminou o primeiro turno com 27,8% dos votos válidos, seguido por Freixo, que obteve 18,37%. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (14), o senador tem 48% das intenções de voto; Freixo (PSOL) registrou 25%.
Segundo a pesquisa, 19% dos entrevistados declararam que vão votar em branco ou nulo. Outros 8% afirmaram não saber em quem votar. Considerando apenas as intenções de votos válidos, que excluem brancos e nulos, Crivella tem 66%, contra 34% de Freixo.
O próximo --e último-- debate entre os dois candidatos acontece na sexta-feira (28) anterior às eleições, na TV Globo.