Debate com agressões como o do Rio faz aumentar rejeição a classe política

André Carvalho

Do UOL, em São Paulo

  • Alexandre Brum/Agência O Dia/Estadão Conteúdo/Arte/UOL

    18.out.2018 - Marcelo Freixo e Marcelo Crivella participam de debate antes do segundo turno das eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro na Rede TV

    18.out.2018 - Marcelo Freixo e Marcelo Crivella participam de debate antes do segundo turno das eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro na Rede TV

Os candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), protagonizaram ontem, durante o debate promovido pelo UOL, Rede TV! e Veja, o momento mais agressivo da campanha no segundo turno. Para especialistas ouvidos pelo UOL, a estratégia de trocar ofensas só aumenta o descrédito da população com a classe política, ampliando o sentimento de falta de representatividade e a rejeição aos políticos.

"O eleitor médio tem horror a isso [troca de agressões]. A impressão que fica é desagradável, é de uma política feita de conflitos. Em geral, fica uma impressão de que os candidatos não prestam", afirma o cientista político do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio) Geraldo Tadeu. "É um espetáculo deprimente em que o saldo, no geral, é negativo. Aumenta a distância entre o eleitor e o político".

Desde o início, o candidato do PSOL, Marcelo Freixo, partiu para o ataque contra o opositor, sendo respondido na mesma moeda em um debate que para o historiador e professor associado da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Rafael dos Santos foi marcado pela ausência de questões que debatessem os programas dos candidatos.

"Antes, em debates anteriores, as agressões vinham combinadas com questões programáticas. Hoje não é o que se vê. Para a democracia, isto é ruim. Não contribui para trazer à política a parcela da população que está desencantada com ela. Afasta ainda mais esse eleitor", afirma o historiador.

Santos avalia que o nível de hostilidade entre os candidatos no debate faz com que aumente a rejeição à classe política. "Achei que foram infelizes". Mesma opinião tem Maurício Santoro, cientista político e professor da UERJ.

Alexandre Brum/Estadão Conteúdo
Tanto Crivella (à esq.) quanto Freixo passaram boa parte do debate trocando acusações, ao invés de focar em propostas

Para ele, uma enorme parcela do eleitorado carioca, que já não escolheu nenhum candidato no 1º turno, se abstendo ou votando nulo, tende a repetir a rejeição aos dois candidatos que se enfrentam no 2º turno.

"Em geral, o eleitor não gosta desse nível de agressões em debate. Serve mais para quem já se identifica com um ou com o outro candidato. Para atrair novos eleitores, não acho que seja uma boa estratégia. Acho que o número de votos nulos e brancos ou abstenções será ainda mais alto no segundo turno", aposta Santoro.

Um debate em que os candidatos trocam agressões ao invés de propostas de governo é algo frustrante para o eleitor, segundo Tadeu. Para o cientista político do Iuperj, a sensação é de "de perda de tempo".

"O eleitor quer que eles escutem seus verdadeiros problemas. Ele vai conceder uma parte de seu interesse a uma coisa que é chata, que é a política. Aí, quando ele vai ver o filme, é 'Rambo x Predador'", brinca.

"Agressão por agressão, ganha quem está na frente"

Apesar de avaliar que toda a classe política perde com debates com pouco debate programático, calcado em agressões mútuas, Santos afirma que o desgaste é maior para Freixo do que para o candidato do PRB.

"Agressão por agressão, ganha quem está na frente. Crivella não tem nada a perder. Caso perca neste ano, volta para o Senado. Já o PSOL, com os ataques, perde a oportunidade de ganhar força. Freixo reduz seu capital político a algo eleitoreiro. Fica com sua capacidade de crescimento político em cheque", diz. "Crivella aproveita a fragilidade da esquerda. Ele só não pode errar muito, caso contrário, ganha de braçada", completa.

Santoro concorda que "apenas um escândalo muito grande poderia tirar os votos de Crivella". Para o cientista político, "os eleitores dele sabem quem estão escolhendo. E o voto nele tem muito de rejeição à esquerda".

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