Luxo de novo local de votação surpreende eleitores de colégio ocupado no PR
Rafael Moro
Colaboração para o UOL, em Curitiba
-
Rafael Moro/UOL
Janderson Rampinelli, Luciana e sua filha Fernanda se impressionaram com o lustre do clube
"Com lustre, pompa e circunstância", o gerente de vendas mineiro Janderson Rampinelli, a mulher, Luciana, e a filha, Fernanda, usaram o luxuoso Salão Azul, principal espaço para festas do Clube Curitibano, para justificar o voto na manhã deste domingo (30).
Encravado na parte mais nobre do Água Verde, bairro de maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Curitiba, o Salão Azul recebeu os 5.472 eleitores que votam nas 15 seções eleitorais do Colégio Estadual Professor Lysimaco Ferreira da Costa, uma das centenas de escolas ocupadas por estudantes no Paraná, a poucas quadras dali.
"Os únicos prejudicados são os que ocupam a escola", disse Rampinelli, impressionado com a opulência do local para onde a votação foi remanejada. "Que lustre impressionante. Mas é importante que os estudantes se posicionem politicamente."
"O problema é que protestar prejudicando outros já causa antipatia. Tem que ver se eles não estão sendo manipulados", discordou Luciana. O casal, há algum tempo em Curitiba, ainda não transferiu os títulos eleitorais para a cidade, mas tem por hábito usar o Lysimaco como local de justificativa porque sua outra filha é convocada pela Justiça Eleitoral para trabalhar ali.
"Para mim, foi até mais fácil votar aqui, pois é mais perto de casa e sou sócia do clube", falou a arquiteta Ana Maria Pereira. "Mas a ocupação das escolas é lastimável. Sou contra. Isso não é coisa de estudante, mas de sindicatos", criticou.
Com dois filhos no ensino fundamental –em escola particular–, ela não soube opinar sobre a medida provisória do governo Michel Temer (PMDB) que muda o funcionamento do ensino médio. "Eu estudei a vida toda em escola pública. E era bom. Só não tínhamos aula de inglês", recordou.
Votação sem problemas
"Foi tranquilo vir até aqui, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) me mandou uma carta informando da mudança", afirmou, após votar, o engenheiro civil Amauri Araújo Rego, outro crítico da ocupação das escolas. "O que estudante tem que dar palpite? Isso é coisa de quem não tem o que fazer. Estudante tem é que estudar e ficar quieto", defendeu.
Apesar disso, ele gostou da mudança do local de votação. "Aqui está mais tranquilo que lá [no Lysimaco]. E é mais bonito", explicou. Antes de se despedir, deixou um conselho ao repórter: "Se um dia receber um convite para almoçar aqui, aproveite. É ótimo. E mais barato que em Santa Felicidade [tradicional bairro gastronômico de Curitiba]."
Coordenadora pedagógica do Lysimaco, a professora Rosângela Schmidt trabalhava neste domingo como secretária de prédio no Salão Azul. Até o final da manhã, a votação no novo local transcorria sem problemas. "O TRE foi muito competente na organização", elogiou.
Contrária à ocupação da escola em que trabalha –"ela mostra um conflito de direitos, pois veda o acesso de quem quer estudar e trabalhar"–, ela também criticou as mudanças propostas pelo governo federal para o ensino médio. "A medida provisória vem para prejudicar. O atual modelo é mais adequado. Não somos contra mudanças no ensino, mas é preciso haver diálogo. E essa é a opinião da maioria dos professores", argumentou.
Habitualmente, o Curitibano é usado como local de votação –mas, para isso, cede seu ginásio de esportes. O Salão Azul, palco de festas da alta sociedade da capital paranaense, foi cedido à Justica Eleitoral por conta da ocupação das escolas.
Segundo vídeo do próprio clube disponível no Youtube, o lustre do Salão Azul, que impressionou alguns eleitores, foi fabricado com 40 mil peças de cristais importadas da Alemanha, pesa 750 quilos, tem 3,5 metros de altura e 3 metros de diâmetro. Foi produzido especialmente para a reinauguração do espaço, em 1992.