Partidos 'nanicos' aparecem e ganham em quatro capitais no segundo turno

Do UOL, em São Paulo

  • Lucas Prates/ Hoje em Dia/ Estadão Conteúdo

    Alexandre Kalil (PHS) comemora a vitória na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte

    Alexandre Kalil (PHS) comemora a vitória na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte

Candidatos de partidos considerados "nanicos" conquistaram 4 das 18 prefeituras de capitais estaduais que tiveram segundo turno neste domingo (30) - 22% do total. E o maior símbolo dessas vitórias é o empresário Alexandre Kalil, que acabou levando o PHS (Partido Humanista da Solidariedade) para uma vitória em Belo Horizonte (MG) considerada improvável ao final do primeiro turno.

O UOL considerou partidos nanicos aqueles que têm na Câmara dos Deputados menos de dez parlamentares. É o mesmo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) para decidir, em agosto passado, sobre a participação de partidos pequenos em debates políticos em rádio e televisão nas campanhas para a eleição deste ano - as emissoras foram obrigadas a chamar os candidatos com, no mínimo, dez deputados na Câmara.

Assim como o PHS de Kalil (com sete deputados federais), outros três partidos pequenos elegeram prefeitos em capitais: a Rede (quatro deputados) venceu em Macapá, no Amapá, com Clécio Luis; o PMN, sem deputado na Câmara, ganhou em Curitiba (PR) com Rafael Greca; em Vitória (ES), Luciano Rezende foi eleito pelo PPS (oito deputados).

 O PSOL, com seis deputados federais, acabou derrotado no segundo turno no Rio de Janeiro e em Belém (PA), mas ganhou visibilidade ao conseguirem desempenho acima do esperado.

O desempenho dos nanicos neste segundo turno tem de ser comemorado pelos partidos, mas não se trata, necessariamente, de um crescimento sólido, ao menos por enquanto, na opinião de analistas políticos, que atribuem algumas vitórias ao personalismo dos candidatos. 

"Essa história de partido pequeno não conta. A eleição [em Curitiba] foi do Greca, que já foi prefeito. Ele ganhou a eleição", diz Carlos Melo, cientista político do Insper. "Há um grande deficit de representatividade. As pessoas começam a se amarrar a figuras, personagens. Rafael Greca, assim como o novo prefeito de Belo Horizonte [Alexandre Kalil], investe na antipolítica, atraindo esse público eleitor descontente."

Ele também atribui o bom resultado às turbulências e problemas de credibilidade dos grandes partidos. "Por que PHS ganhou em Belo Horizonte? Foi por causa da fragmentação dos partidos. As pessoas não veem mais esses partidos [grandes e tradicionais] como capazes de representá-las."

RODRIGO FÉLIX LEAL/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O engenheiro e ex-ministro Rafael Greca (PMN) é o novo prefeito de Curitiba (PR) e celebra no TRE-PR

Protesto e desencanto

O mesmo raciocínio também é aplicado por outros estudiosos para explicar o elevado número de votos nulos e brancos em todo o país, assim como os números altos relativos à abstenção de eleitores. A insatisfação com as legendas tradicionais empurrou os eleitores para candidatos que assumiram a causa "antipolítica" e para o protesto/abandono das urnas.

Em todo o país, 25,8 milhões de eleitores (78,45%) compareceram às urnas, de um total de 32,9 milhões que estavam aptos a votar. Ou seja, cerca de 7 milhões não votaram, levando a uma abstenção de 21,55% neste segundo turno.

No Rio de Janeiro, os índices de abstenção e de votos nulos superaram a média nacional. A abstenção na capital fluminense chegou a 26,85% (1,3 milhão de faltantes) e foram registrados 569,4 mil votos nulos (15,9% do total).

A soma de nulos e abstenções no Rio foi maior que a votação obtida pelo segundo colocado na disputa pela prefeitura, Marcelo Freixo (PSOL), que teve 1,1 milhão de votos. O prefeito eleito, Marcelo Crivella (PRB), recebeu 1,7 milhão de votos. O total de votos brancos no município chegou a 149,8 mil.

Análise: PT e fragmentação de siglas ajudaram a eleger prefeito de Curitiba

 

Para o cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Geraldo Tadeu Moreira, o crescimento expressivo das abstenções e dos votos brancos e nulos demonstra claramente essa insatisfação.

"Esse comportamento tem crescido nas últimas duas eleições, 2014 e 2016. É um indicativo de que a insatisfação com o sistema político ocorrida em 2013, com as manifestações de rua, não foi tratada. Estamos com um sistema político com baixa representatividade. As pessoas estão clamando por um conjunto de reformas. Isso fica evidente no comportamento do eleitor", disse Moreira.

No Rio de Janeiro, especificamente, disse Moreira, o grande número de abstenções, brancos e nulo pode ter ocorrido devido ao fato de Crivella e Freixo representarem extremos opostos na política. "De um lado, o Freixo representa a esquerda e Crivella é de centro-direita. Então, os eleitores de centro, que representam um terço do eleitorado, não se sentiram representados por esses candidatos".

'Espetacularização'

Helcimara Telles, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cientista política e especialista em comportamento eleitoral, também bate na tecla da força do candidato "não político". 

"Além do desencanto, da descrença e da insatisfação do eleitor com os partidos políticos, o comportamento de candidatos como Kalil corroborou para o resultado das urnas. Isso já aconteceu no primeiro turno. Não apenas em Belo Horizonte, como em várias capitais. Parece-me que isso é uma forte crítica ao sistema político em geral, e ajuda a provocar esse afastamento do eleitor", diz Helcimara.

A especialista também atribui o desinteresse do eleitorado à "espetacularização da corrupção" produzido, segundo ela, pelos veículos de imprensa e parte do Ministério Público Federal. (Com Agência Brasil)

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