Análise: PSDB está na pole position para 2018, mas falta definir o piloto

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

  • Bruno Santos/Terra

    Aécio e Alckmin são os pilotos favoritos, Serra corre por fora

    Aécio e Alckmin são os pilotos favoritos, Serra corre por fora

Mais do que fortalecido, o PSDB sai das eleições municipais de 2016 com favoritismo para a disputa presidencial de 2018, na opinião do cientista político Alberto Carlos Almeida. "É a alternância de poder. Essa eleição municipal encerra o ciclo iniciado com a vitória de Lula em 2002 e coloca o PSDB na pole position [primeira posição na largada, na linguagem das competições automobilísticas] para 2018. Só não se sabe quem vai pilotar o carro do partido", afirma.

Diretor do Instituto Análise, Almeida é autor de livros como "A Cabeça do Brasileiro". "O grande resultado [das eleições municipais] é a vitória do PSDB, com ênfase em São Paulo, e o fortalecimento inquestionável da figura política do governador de São Paulo", diz o pesquisador.

Ele se refere às vitórias de candidatos apoiados por Geraldo Alckmin no Estado, como o empresário João Doria (PSDB), eleito para administrar a capital paulista, e à indefinição do cenário para a escolha do candidato tucano a presidente.

O professor Carlos Sávio Teixeira, chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense, também acredita que o PSDB terá candidato forte em 2018, mas observa um paradoxo no partido: a legenda comemora a derrota do PT, mas passa por uma disputa interna entre políticos que desejam o posto de candidato à Presidência.

Teixeira vê o senador Aécio Neves enfraquecido pelas seguidas derrotas eleitorais de seu grupo em Minas Gerais, porém também aponta um sério obstáculo à possibilidade de Alckmin se tornar o candidato do partido. "Alckmin é o que tem mais dificuldade de se viabilizar para fora do partido e tem intenção de voto baixíssima no Nordeste. Sem apoio no Nordeste, é difícil ganhar a eleição."

O fortalecimento de Alckmin, diz Alberto Almeida, também significa uma derrota para a ala mais à esquerda do PSDB, representada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro José Serra, entre outras figuras. "O PSDB torna-se um partido mais assumidamente conservador", avalia.

Espinha dorsal do PT quebrada

Para o pesquisador, o PT ficou fragilizado ao perder cidades paulistas importantes como a capital, Guarulhos, Santo André e São Bernardo do Campo. "A espinha dorsal política do PT, que é São Paulo, foi quebrada, esmigalhada."

Almeida entende que a grande redução do número de prefeitos eleitos pelo PT é mais uma rejeição ao partido, associado à crise econômica, do que uma guinada dos eleitores ao campo da direita na política. "O resultado é conservador, mas a motivação do voto é a mudança. É o voto de reprovação ao PT."

Carlos Teixeira também não crê em onda conservadora no país. "A maior parte do eleitorado oscila de um espectro que eu chamaria de centro e que transita entre a centro-direita e a centro-esquerda. O eleitor volátil reage às circunstâncias, ao contexto. Esse eleitorado apoiou o PT e o lulismo. Como a situação começou a se deteriorar, isso mudou. Não acho que seja uma guinda à direita. Houve uma fragmentação entre o centro e centro-direita."

Em sua opinião, o PT ainda desempenhará um papel importante na eleição de 2018 por ter estrutura e direito a um tempo considerável de propaganda no rádio e na TV, mas o único político de centro-esquerda que reúne condições de tentar a presidência é o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

Ciro Gomes pode ser o nome apoiado pelo PT em 2018

"Cidadania crítica"

O cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP (Universidade de São Paulo), defende a ideia de que o resultado eleitoral reflete a emergência de uma "cidadania crítica", que começou a aparecer com mais força nos protestos de 2013.

"Os eleitores estão mais atentos à política, cobram mais eficácia e que os políticos estejam longe da corrupção. Significa que são a favor da democracia, mas críticos do funcionamento e dos resultados dela. Isso vai inclinar na direção de um único partido? Difícil dizer isso. Quem sintonizar com isso pode crescer. Se o PSDB tiver bons governos, pode ocupar o espaço", diz Moisés, organizador de livros como "A Desconfiança Política e os Seus Impactos na Qualidade da Democracia".

O cientista político Sergio Praça, professor da Fundação Getúlio Vargas, também é cauteloso ao analisar a situação do PSDB. "Em termos partidários, só tem uma coisa muito clara no resultado das eleições municipais, que é a derrota do PT. Atribuir vitória ao PSDB ou a outro partido talvez seja um pouco exagerado. A gente não pode confundir rejeição ao PT com uma onda conservadora".

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