SP: com passeata até a Paulista, ato com Lula reúne 50 mil apoiadores

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo*

Apesar do veto da SSP (Secretaria de Segurança Pública), apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que participaram de um ato na praça da República, região central de São Paulo, seguiram em passeata pela rua da Consolação e, por volta das 21h30, chegaram à avenida Paulista. O ato, que bloqueou os dois sentidos da via, às 22h, se concentrava no Masp --a Paulista ficou com o trânsito de veículos interrompido entre o museu e Consolação.

Eles foram acompanhados de perto por policiais militares. A manifestação aconteceu sem incidentes.

O ato na praça da República, que contou com a presença de Lula, reuniu 50 mil pessoas, segundo a organização. A PM não divulgou estimativa de público.

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Durante o dia e até o começo da noite, manifestantes contrários a Lula comemoraram a confirmação de sua condenação pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) na Paulista, na altura do Masp. O ato foi esvaziado, reunindo até 300 pessoas.

Lideranças petistas reiteraram durante a manifestação na praça da República que fariam a passeata até a Paulista, apesar da proibição. Ao final do discurso de Lula, os manifestantes seguiram até a avenida Ipiranga, onde começaram a marcha.

Um PM chegou a pedir ao líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, que a manifestação fosse ordeira. Ao longo do caminho, manifestantes seguiram com bandeiras em apoio a Lula e entoaram palavras de ordem.

Nelson Antoine/UOL

Na Paulista, manifestantes criticaram os integrantes do TRF-4. "Eu já esperava esse resultado. A Justiça brasileira está dentro do esquema que quer impedir a candidatura de Lula", afirmou o agente comunitário de saúde Rogério Giovani, 55. Morador de Campinas, ele diz acreditar que só uma "revolta popular" pode mudar a situação do ex-presidente. "Essa luta só vai virar nas ruas. Eu não acredito na Justiça desse país."

As aposentadas Olinda da Silva, 52, e Ana Maria de Jesus, 65, se disseram desapontadas com o resultado do julgamento. "A gente esperava que Lula fosse inocentado. O que aconteceu hoje não é certo", disse Olinda. "Querem prender o Lula porque ele é a favor do povo", disse Ana Maria.

Nas ruas, atos pró-Lula têm clima de resignação

Grupos de apoiadores de Lula se reuniram em diversas cidades do país para acompanhar o julgamento no TRF-4. Ao ser anunciado, o resultado da votação dos desembargadores, que condenou Lula por unanimidade a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, foi recebido com resignação e manifestações de apoio ao petista.

Em São Paulo, ao afirmarem que Lula havia sido condenado pelos três desembargadores, os oradores do ato na praça da República aproveitavam para reafirmar sua crença na reeleição do ex-presidente independentemente da condenação.

O deputado federal Paulo Pimenta (PT-SP) chegou a dizer que a decisão não merecia respeito. "Essa sentença é mais um capítulo do esquema criminoso que visa impedir a candidatura de Lula", disse o parlamentar.

O ex-ministro das Relações Exteriores durante o governo Lula, Celso Amorim, por sua vez, afirmou que é um "momento triste do país". "Esperava que chegasse uma luz às mentes dos juízes, mas isso não aconteceu."

Guilherme Boulos chamou os desembargadores de "anões morais" e o juiz federal Sergio Moro de "xerifinho sem vergonha". "Hoje foi um dia da farsa em Porto Alegre. O dia em que três desembargadores passaram o dia falando e não apresentaram uma prova contra Lula", afirmou.

Nelson Antoine/UOL
24.jan.2018 - Manifestantes estendem bandeira na av. Paulista

No Rio, assim que o resultado foi confirmado, um manifestante tomou o microfone, citou a votação unânime e convidou as cerca de cem pessoas que participavam do protesto na avenida Rio Branco, no centro da cidade, a cantarem juntas o "Hino da Independência". "São juízes que se comportam como parte da acusação", disse.

"Embora alimentássemos um fio de esperança, o resultado não nos surpreendeu. É fruto de um Judiciário afastado do povo brasileiro", disse o ex-ministro da Igualdade Racial no governo Lula, o sociólogo Edson Santos.

Ele foi um dos poucos políticos a participarem do ato na capital fluminense. Segundo a organização do protesto, que contava com manifestantes da CUT (Central Única de Trabalhadores) e CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), entre outros sindicatos, cerca de 30 ônibus seguiram para Porto Alegre e depois para São Paulo para acompanhar o julgamento.

Já em Porto Alegre, epicentro do julgamento, o ato desta quarta-feira foi esvaziado pelo forte temporal que atingiu a cidade por volta das 18h30 e pelas caravanas que deixaram a cidade ainda na noite de ontem após o discurso de Lula na capital gaúcha.

Um grupo de metalúrgicos paranaenses que foi em um ônibus fretado até Porto Alegre lamentava a decisão. "Isto é tudo um jogo político. Foram todos comprados, ou melhor, se venderam. Infelizmente a Justiça não funciona neste país", reclamou a sindicalista da CUT-PR Maria Benitez de Oliveira, 43, enquanto se preparava para encarar a viagem de 15 horas até Curitiba.

Presidente do PT no Rio Grande do Sul, o deputado federal Pepe Vargas, disse que a decisão já era esperada, mas criticou o aumento da pena. "Nós tínhamos a expectativa de que haveria a confirmação da condenação, mas de fato ninguém esperava que fosse aumentada a pena. A questão central é que ficou evidente que não se levou em consideração os autos do processo, portanto se tratou de um juízo político e não técnico."

Segundo ele, o partido vai confirmar o lançamento de Lula à eleição presidencial nesta quinta (25). "Lula não tem sentença transitada em julgado. Ele tem direitos a recursos. A legislação brasileira garante o direito de ele concorrer", explicou o presidente do PT/RS. A reunião ocorrerá na sede da CUT em São Paulo às 10h.

*Com colaboração de Paula Bianchi, do Rio, e Luciano Nagel, de Porto Alegre

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