Em ato final no RS, Lula diz não temer protestos e que vencerá no 1º turno
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Leopoldo (RS)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou nesta sexta-feira (23), na cidade de São Leopoldo, uma viagem de cinco dias pelo Rio Grande do Sul marcada por protestos de opositores. Horas antes, um grupo chegou a impedir sua entrada em Passo Fundo, um dos municípios do roteiro. Sua caravana agora segue para Santa Catarina e Paraná.
À noite, em São Leopoldo, Lula dedicou a maior parte de seu discurso de meia hora a exaltar políticas dos governos petistas e a criticar o governo do presidente Michel Temer (MDB), comentando brevemente o cancelamento da visita a Passo Fundo. O ex-presidente chegou a cantar um trecho da música "Gaúcho de Passo Fundo", de Teixeirinha.
"Eu ia cantar essa música lá em Passo Fundo e os ignorantes resolveram queimar pneu", disse. "Eu digo isso pra vocês não ficarem com ódio. A gente não pode fazer o jogo que eles estão fazendo. A gente não vai ser ignorante."
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Lula também disse que, quando escolheu o Rio Grande do Sul para a caravana, "sabia que esse Estado estava tomado por um conservadorismo muito grande". O petista afirmou, porém, que os protestos não o assustam.
O ex-presidente afirmou que seus opositores deveriam indicar alguém para enfrentá-lo nas urnas. Citou Temer, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Mas mostrou confiança: "Nós vamos ganhar no primeiro turno".
Além da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e de parlamentares gaúchos, que fizeram parte de toda a viagem pelo Rio Grande do Sul, Lula estava acompanhado em São Leopoldo da deputada estadual e pré-candidata a presidente Manuela D'Ávila (PCdoB-RS).
Tensão durante caravana
O ato petista em São Leopoldo contou com milhares de apoiadores reunidos na região central da cidade. Uma das mediadoras do ato disse haver 15 mil pessoas, número não confirmado por órgãos oficiais. Ao mesmo tempo, dezenas de militantes contrários a Lula protestavam a 500 metros de onde o ex-presidente discursou, exigindo sua prisão pela condenação em segunda instância no caso do tríplex, da Operação Lava Jato.
Além da distância, os grupos estavam separados por policiais, alguns a cavalo. Os oficiais contavam com o apoio de um veículo estilo "caveirão", da tropa de choque.
A separação entre os dois grupos em São Leopoldo não foi regra na passagem de Lula por terras gaúchas. Na terça (20), em Santa Maria, militantes chegaram a trocar empurrões e pontapés antes da chegada da polícia.
Lula enfrentou protestos em quase todas as cidades por onde passou, mas hoje à tarde a tensão chegou ao ponto máximo quando manifestantes bloquearam a entrada de sua comitiva em Passo Fundo. Os participantes do protesto, entre eles apoiadores do deputado federal Jair Bolsonaro e ruralistas --perfil que marcou a oposição à visita de Lula ao Rio Grande do Sul--, usaram tratores e queimaram pneus para obstruir a passagem dos petistas.
A Brigada Militar usou bombas de gás lacrimogêneo para liberar a passagem, mas a organização da caravana decidiu cancelar a visita a Passo Fundo por avaliar que não havia segurança tanto para a comitiva, como para militantes. O ex-presidente pegaria um avião na cidade para chegar a São Leopoldo, mas teve que fazê-lo em Chapecó (SC).
Em nota, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT, e o coordenador da caravana, Márcio Macedo, denunciaram agressões a petistas que aguardavam a chegada de Lula a Passo Fundo e disseram que a Brigada Militar "simplesmente se declarou incapaz de garantir a integridade física do ex-presidente Lula, da ex-presidenta Dilma Rousseff, que o acompanha, e dos integrantes da caravana."
"O governo do Rio Grande do Sul não garantiu, como era sua obrigação, o direito de ir e vir dos ex-presidentes. Não impediu tampouco outros atos violentos, como a covarde agressão contra quatro mulheres que participaram de um ato na cidade de Cruz Alta, na quinta (22)", afirma o comunicado.
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Procurado pelo UOL, o coronel Mário Ikeda, subcomandante da Brigada Militar, disse que ainda não tinha conhecimento da nota do PT e que, por isso, não poderia comentar a declaração sobre a corporação. A reportagem também tentou contato por telefone com a Secretaria estadual de Segurança Pública, sem sucesso.
Na terça (20), Gleisi pediu a autoridades federais e gaúchas reforço para a segurança da caravana. Ela falou em ataques de "milícias armadas de extrema-direita".
No dia seguinte, manifestantes contrários a Lula tentaram impedir sua entrada em São Borja, o que obrigou a caravana a desviar sua rota para chegar ao centro da cidade.
Na quinta, em Cruz Alta, a polícia registrou as agressões contra as quatro militantes petistas e deteve membros da Juventude Socialista que estavam quebrando vidros de carros de militantes anti-PT.
Na mesma nota em que condena os atos de violência e a atuação do governo gaúcho, comandado pelo adversário político José Ivo Sartori (MDB), o PT diz que Lula encerrou "vitoriosamente" sua passagem pelo Estado.
Lula lidera as pesquisas de intenção de voto para presidente e é o pré-candidato do PT ao cargo nas eleições deste ano. Entretanto, a condenação em segunda instância o deixa, em tese, inelegível pela Lei da Ficha Limpa e pode levá-lo à prisão. Na quinta, o STF (Supremo Tribunal Federal) aceitou, em caráter liminar (temporário), recurso que evita a prisão do ex-presidente até que o caso do tríplex passe por todas as instâncias. O mérito deve ser analisado no dia 4.
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