Servidor precisa de aumento, admite França antes de assumir governo de SP

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

Após dois mandatos consecutivos (além de outros dois cumpridos no início dos anos 2000), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deixa o cargo na tarde desta sexta-feira (6) e passa o bastão para seu vice, Márcio França (PSB), que assume o estado já pensando em ficar mais quatro anos no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, zona oeste da capital.

França deverá ficar nove meses à frente do estado, mas terá de dividir o tempo como governador e como candidato à reeleição. Sua candidatura já tem o apoio de outros 12 partidos políticos além do PSB. Mas não é possível dizer que Alckmin é um dos aliados, uma vez que João Doria (PSDB) deixa a prefeitura da capital para ser rival de França na disputa.

Em entrevista ao UOL, França afirmou que, em nove meses, vai conseguir "mostrar um pouco" de seu serviço à população. "Nove meses é o tempo de um casal, rapidinho, se conhecer e ter um filho. Então, acho que dá pra fazer. Deus fez um ser humano em nove meses", comparou.

França promete "manter a estabilidade fiscal, a responsabilidade e a idoneidade" de Alckmin, "mas com um tom mais social", que ele diz ser sua área de especialização. "Em especial, para a juventude que é a área que eu gosto mais de atuar", disse.

Reajuste salarial a servidores

Após citar que manterá a responsabilidade fiscal de Alckmin, França foi questionado pela reportagem se o reajuste dado por Alckmin aos servidores no início deste ano é o suficiente. O aumento foi de 3,5% a todas as categorias, à exceção dos 4% para as polícias e 7% aos professores.

"[Fez] o que era possível naquele momento. O governador Alckmin fez todo o esforço para pagar salário. A maioria dos estados do Brasil deixou de pagar salário, atrasou 13º, atrasou tudo. Aqui em São Paulo, não teve esse problema", argumentou o novo governador.

Paulo Lopes/Futura Press/Estadão Conteúdo
Márcio França e Geraldo Alckmin, pouco antes de o tucano deixar o governo de São Paulo para disputar a presidência da República pelo PSDB e França assumir seu cargo

No entanto, admitiu que um novo reajuste é necessário. "Está na cara que a gente tem que fazer reajuste. Claro, com tempo, temos que reajustar e equilibrar o salário dos policiais e de todos os profissionais, incluindo os professores", afirmou.

Questionado se nos nove meses de seu mandato um novo reajuste será possível, França respondeu: "É possível. Em todo lugar é possível. Tem que ter boa vontade e tem que ter força", disse. Indagado se ele teria vontade e força, finalizou a entrevista: "vou tentar".

O rival tucano

A disputa entre Márcio França e João Doria pelo governo de São Paulo também se estica até o presidente do PSDB e pré-candidato do partido ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin. Ambos já disseram ter o apoio do tucano, que tem tentado manter um discurso conciliatório.

Na manhã da última segunda-feira (2), Doria informou que seu eleitor é diferente ao de França, uma vez que o então prefeito da capital disse que não recebe votos de "comunistas e esquerdistas". França vem rebatendo, informando que seu rival não tem palavra, uma vez que havia prometido, ao se eleger prefeito, não deixar o cargo para disputar o governo estadual.

Ananda Migliano/O Fotográfico/Estadão Conteúdo
Alckmin abraça Doria um dia antes de ir a evento com França, no fim de março de 2018

"Vai ser assim: quem tem palavra com quem não tem palavra. Eu mantenho a minha palavra sempre. Eu acho que o João errou ao não cumprir a palavra. Ele é uma pessoa inteligente, podia ser um grande prefeito, a gente apostou tanto que ele fosse o melhor prefeito de São Paulo, mas não deu tempo de mostrar", afirmou

"Eu acho que a população de São Paulo se sente um pouco traída. O eleitor... eu votei nele também. As pessoas ouviram dele várias vezes: 'eu vou ficar quatro anos, eu prometo que vou ficar quatro anos, eu prometo que vou ficar quatro anos'. Não tem como você não acreditar", disse o novo governador estadual.

Barbosa ou Alckmin?

Está prevista para esta sexta-feira a filiação ao PSB do ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa. A expectativa da cúpula do partido é de que ele seja candidato à eleição presidencial.

Isso mudaria o candidato do novo governador de São Paulo? Segundo o próprio, não. "O partido vai decidir só em julho. A gente tem boa relação com o Joaquim, é um ministro famoso, enfim. Mas a decisão é do partido. Será feito em julho a partir da composição de todos os estados do Brasil", disse.

Ueslei Marcelino/Reuters
Joaquim Barbosa deve se filiar ao partido de França nesta sexta-feira (6)

"[Meu candidato] continua sendo o Geraldo Alckmin. Vou fazer um esforço para que o Geraldo seja o escolhido. Agora, meu partido é o meu partido. Eu não controlo todo o partido e muita gente tem o pensamento diferente. Mas vou fazer um esforço para ser o Geraldo", complementou.

A tese de lançar o ex-presidente do STF na disputa pelo Palácio do Planalto é defendida com entusiasmo pela bancada do PSB na Câmara, incluindo o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, mas sofre resistências de alas dos partidos, como França.

Violência em São Paulo

Na última gestão Alckmin, que começou em 2011 e vai até esta sexta-feira, o número de roubos no Estado caíu, mas se manteve acima dos 300 mil casos ao ano. Os homicídios também caem ano a ano. Porém, a violência policial aumentou.

Na última gestão, a morte de civis por policiais no Estado saltou 96%, passando de 480 para 939. Enquanto isso, o número de policiais mortos diminuiu 17%: passou de 73 vítimas para 60. Questionado sobre os dados, França se esquivou.

"Acho que o principal é você parar de produzir o gelo ao invés de enxugar o gelo, entendeu? Parar de produzir o gelo é dar uma oportunidade lá atrás, quando o menino tem 16, 17, 18 anos", disse.

"É evitar que ele vá para o delito. Evitar que ele vá para o crime, que ele vá para as drogas, que ele vá para o lado errado. Dar a chance para esse menino. É a chance que nós temos", complementou.

França diz que o governo já fez tudo o que podia e que as polícias militar e civil estão equipadas com "bastante estrutura".

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