Ciro rechaça privatizações e critica "lucro exorbitante" de banqueiros

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

O pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, declarou nesta segunda-feira (21) durante sabatina promovida pelo UOL, Folha de S. Paulo e SBT que é contra a privatização de estatais como a Petrobras e a Eletrobras –esta última proposta pelo governo do presidente Michel Temer (MDB).

"Evidente que não [sou favorável]. Para mim, a privatização é uma ferramenta. A gente deve celebrar um projeto nacional de desenvolvimento, cujas linhas gerais eu vou oferecer ao juízo crítico do povo, que vai definir o papel do capital estrangeiro, contra quem eu nada tenho, do capital nacional e do capital estatal", afirmou Gomes.

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Ciro citou o caso da fabricante brasileira de aeronaves Embraer, que está em negociação para firmar parceria com a norte-americana Boeing, como um exemplo de empresa que "não precisa ser estatizada". "Agora nós vamos entregar a Embraer para estrangeiro?", questionou.

"Só um projeto da Embraer, o [jato] KC-390, que é um super cargueiro que nós desenvolvemos aqui, que é uma joia, que prova a sofisticação da nossa inteligência nacional brasileira, tem um mercado cativo de US$ 20 bilhões. Na hora que eles dominam isso, a Boeing vem comprar", declarou.

Segundo o presidenciável, cada questão será procurada de ser realizada dentro dos objetivos do país pela "lei do menor esforço. "Não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace o rato", disse ele.

Ciro também criticou os "lucros exorbitantes" de banqueiros e as altas taxas de juros cobradas do setor produtivo. "A inflação oficial é de 2,56% nos últimos meses e a taxa de juro do governo é 6,5%. Isso é a maior taxa de juro real do mundo. O problema de investimento no Brasil não é a taxa de juro do governo. A taxa de juro que o mercado financeiro cobra da produção é de 41%. Eu não estou falando do juro que o governo paga. Qual é o negócio da economia real que paga 41% de rentabilidade?", questionou.

"O Brasil permitiu que apenas cinco bancos, dois dos quais públicos, Banco do Brasil e Caixa Econômica, Bradesco, Santander e Itaú, concentrem 85% de todas as transações do mercado financeiro", disse o pré-candidato, criticando o fato de que "eles não competem entre si".

"Está aí a explicação: o mundo se acabando e os caras enchendo a pança de ganhar dinheiro. A economia indo para o brejo e o setor financeiro tendo 14% de lucro [...] No meu governo, Banco do Brasil e Caixa começarão, no primeiro dia, a fazer concorrência. Se isso não for suficiente, outras providências haverá", completou.

O presidenciável também criticou a reforma trabalhista aprovada no ano passado pelo Congresso, que classificou como uma "selvageria". "O sucesso do capitalismo moderno depende do consumo de massa, que depende de o povo ter renda", alertou.

Ciro disse ainda que está ouvindo pessoas de seu entorno sobre a necessidade de criar um tributo sobre operações financeiras "grandes" para aumentar a arrecadação.

Questionado se é a favor do retorno da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), extinta em 2007, durante o segundo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele classificou o tributo como "ruim tecnicamente".

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O pré-candidato do PDT defendeu um novo regime de impostos para ricos, mas não citou que critérios seriam usados para definir isso. "Só quem paga imposto nesse país é classe média e pobre", afirmou.

O presidenciável apontou que, de cada R$ 100 executados no orçamento do ano passado, R$ 51,70 foram de juros para banco. Interpelado pelo jornalista Fernando Canzian, da Folha, que disse se tratar de despesa financeira, Ciro demonstrou irritação e afirmou que esse é o cerne da questão.

"É aí que está o busílis [centro do problema], eu tirar a despesa financeira e não discuto ela. Vou discutir no lombo do povo o gasto com saúde. Deixa que o nosso povo morra como mosca nos hospitais, tratado com toda a indignidade, porque isso pode. Mas o banqueiro não pode deixar de ter o lucro exorbitante como está tendo hoje. Espera um pouquinho!", declarou.

Ao ser questionado sobre sua proposta para a seguridade social, Ciro disse ser "possível perfeitamente afirmar que a Previdência Social, regime geral, não tem déficit".

"Porque nós fomos criando puxadinho para cá, puxadinho pra lá e temos hoje uma cesta de mecanismos de financiamento cujos principais são: contribuição social sobre o lucro líquido, PIS, Cofins, contribuição patronal, contribuição dos trabalhadores, contribuição governamental, mais receita de loterias, para ficar aqui nas principais. A soma disso paga a Previdência e sobra um tiquinho", apontou o presidenciável.

A ideia de que a proposta do governo Temer significaria uma reforma da Previdência, segundo Ciro, "é uma grosseira mentira".

"Esse modelo [atual] morreu, então é preciso propor com clareza novo modelo. E aqui a grande questão é a transição", declarou.

Críticas a Bolsonaro

O presidenciável criticou em mais de uma oportunidade o pré-candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. Ciro Gomes falou que Bolsonaro, "como fascista, tem dificuldade de lidar com o antagonismo" e, caso o concorrente seja eleito, haverá crise posto que "nunca administrou um boteco dos pequenos".

O pedetista ainda disse que "gostaria muito" de enfrentar Bolsonaro no segundo turno porque seria o candidato "mais fácil" de derrotar.

Ao falar de segurança pública, o pedetista também alfinetou Bolsonaro, que é o segundo melhor colocado nas pesquisas de intenção de voto. Questionado sobre o pré-candidato à Presidência pelo PSL, e o posicionamento deste em defender a distribuição de armas, especialmente em áreas rurais, e a flexibilização do porte das mesmas, Ciro disse que o concorrente é uma "grave ameaça pelo extremismo".

Na avaliação de Ciro, Bolsonaro tem "soluções toscas e graves" e "quando um camarada promete distribuir armas é um banho de sangue". Isso porque, afirmou, os cidadãos não estão preparados para manusear as armas, enquanto os criminosos, sim.

Indagado sobre a crise política e econômica da Venezuela, que elegeu Nicolás Maduro por mais seis anos em pleito com legitimidade contestada internamente e internacionalmente, Ciro disse que o regime é insustentável e ver com "muita angustia o itinerário da sandice ali". Porém, ele criticou o posicionamento do atual governo brasileiro em não mediar o conflito.

Em relação à candidatura, Ciro disse que não a pagará do próprio bolso, mas com recursos do PDT e contribuições individuais, embora não espere que essa modalidade tenha importância significativa.

Quanto a coligações, falou que seu projeto precisa ser "aperfeiçoado" com partidos do centro à esquerda e mantém conversa com o PSB, agora que o eventual pré-candidato da sigla, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, desistiu de concorrer. Segundo Ciro, o PSB é o "parceiro preferencial" e ele tem vontade de ter o apoio do PCdoB.

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Sabatinas com presidenciáveis

Ciro é o segundo sabatinado da série. O senador Alvaro Dias (Podemos-PR) foi o primeiro entrevistado, no último dia 7.

Na quarta-feira (23), acontece a sabatina com o pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB). A quarta entrevistada é Marina Silva (Rede), na quinta-feira (24).

Veja íntegra da sabatina com Ciro Gomes

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